Há 30 anos: enfim, Laranja Mecânica

"Baseado em romance de Anthony Burgess, o filme Clockwork Orange, ou Laranja Mecânica, segundo o título brasileiro, trata, conforme definição do diretor, "das aventuras de um jovem cujos interesses principais são estupro, ultraviolência e Beethoven".
Um filme feito sob figurino para não escapar da intolerância dos censores brasileiros,
por isso os distribuidores sequer tentaram apresentá-lo à Censura, para a liberação.
Assim, ... o celulóide em que Kubrick imprimiu um pouco de sua angustiada reflexão sobre o destino do homem na Terra ficou nas prateleiras da Warner Communications, até que ventos liberais soprassem pelas janelas do Ministério da Justiça".
Jornal do Brasil

Concluído em 1971, Clockwork Orange foi legendado e importado para distribuição comercial no Brasil pela Warner em 1974. O receio de seus produtores quanto a retaliações fez com o filme não chegasse à Censura Federal, aguardando uma ocasião mais favorável. Somente quatro anos mais tarde, intitulado Laranja Mecânica, a polêmica obra de Kubrick estrearia nas telas do cinema, sem cortes, da maneira como foi concebido, para maiores de 18 anos, em circuito nacional.

Apesar da vaga referência a um futuro próximo, os ambientes de Laranja Mecânica diferem de qualquer habitat reconhecível. As referências somente permitem ao espectador concluir que se trata de um governo autoritário que perdeu o controle sobre o exercício da violência individual. No entanto os sistemas vigentes se sentiram atingidos. E onde as censuras não proibiram, outros porta-vozes da sociedade o fizeram, vendo com lentes de aumento as seqüências de violência perfeitamente integradas na forma e no espírito do filme. E negaram-se a aceitar o caráter denunciante da obra: o reflexo da crise individual, movida pelos impulsos destrutivos emergente na sociedade.

Um indivíduo desagregado da sociedade


Marco do cinema por ousar revelar uma realidade que a moral insiste em silenciar, Laranja Mecânica questiona os destinos do homem: a projeção da sua individualidade em detrimento da sua integração ao mundo social. A agressividade exacerbada, a personalidade sem regras formais, a invasão sem limites do direito alheio são partes da dieta normal do ser humano no cotidiano social. E mostra a tendência das sociedades em eliminar essa condição nata de cada indivíduo como solução final para os contornar os problemas originários pela liberdade de pensamento e de escolha.
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