E a luz se fez

"O Espírito das Luzes" reavalia o Iluminismo sob o pano de fundo de questões como a União Européia e o islamismo

FRANKLIN DE MATTOS

Do século 18 aos dias que correm, as Luzes sempre estiveram na mira de seus adversários e, por isso, é mais que oportuna esta defesa apaixonada e crítica, assinada pelo ensaísta Tzvetan Todorov.
O que incomoda Todorov não é a rejeição externa das Luzes, reiterada durante o século 20 por T.S. Eliot, Alexander Soljenitsin e [o papa] João Paulo 2º e que condena os itens fundamentais do seu programa: a autonomia, o antropocentrismo, a busca de um fundamento humano para a moral e a política etc.
Mais temíveis são as "caricaturas" e os "desvios", feitos pelo inimigo que se apóia sobre a herança ilustrada e, ao mesmo tempo, a desfigura.
Para se prevenir contra ele, é preciso separar a letra e o "espírito" das Luzes, que nem sempre andam ao mesmo compasso.
Exemplo: certa vez, Diderot definiu na "Enciclopédia" o modelo do intelectual ilustrado: "Um filósofo que, pisoteando o preconceito, a tradição, aquilo que é antigo, o consentimento universal, a autoridade, numa palavra, tudo o que subjuga a multidão das inteligências, ousa pensar por si mesmo". As Luzes não se cansam, porém, de louvar a Antigüidade greco-latina e sabem muito bem que, sem tradição, não há cultura.
Paradoxo? De modo nenhum, basta aqui ir além da letra do texto: a tradição atacada por Diderot é aquela que pretende se impor só por ser tradição, enquanto a outra se submete ao crivo do livre exame, sendo desse modo reconhecida pelos homens.
Já se vê que o melhor procedimento para distinguir letra e "espírito" das Luzes consiste em expor um princípio do pensamento ilustrado e buscar a idéia que o limita, funcionando, assim, como uma espécie de regulação.

Três princípios
São três os grandes princípios das Luzes: a autonomia, a finalidade humana de nossos atos e a universalidade.
A autonomia consiste em preferir aquilo que se escolhe e se decide por si mesmo, não o que é imposto.
Trata-se de um processo que comporta um momento crítico, de emancipação, e um momento construtivo, a autonomia propriamente dita.
Para isso, é preciso que o indivíduo disponha da completa liberdade de examinar, questionar e criticar qualquer dogma ou instituição, que perdem seu caráter sagrado.
A religião, que outrora tutelava os homens, torna-se uma opção pessoal, o que supõe uma atitude de tolerância e a defesa da liberdade de consciência (Voltaire dizia que, na Inglaterra, cada um ia para o céu pelo caminho que bem entendia...).
Essa demanda de liberdade, por sua vez, prolonga-se no domínio social, traduzindo-se agora em liberdade de opinião, expressão ou publicação.
A primeira autonomia conquistada é a do conhecimento, que possui apenas duas fontes, a razão e a experiência.
Para a Ilustração, o conhecimento liberta os homens, donde a crença na expansão da ciência, a valorização da educação e de todas as formas de difusão do saber. Aqui é preciso se precaver contra o "desvio" cientificista ou positivista, lembrando que as Luzes jamais afirmaram a total transparência do mundo e estimavam não apenas a ciência, mas também a política e a arte, a pintura, a música, o romance e a autobiografia.
A exigência de autonomia transforma igualmente as sociedades políticas, reafirmando a separação entre o temporal e o espiritual.
Em suas formulações mais acabadas, gera dois princípios que se complementam: a soberania do povo (todo poder emana do povo, nada é superior à vontade geral) e a liberdade do indivíduo diante de qualquer poder estatal, legítimo ou ilegítimo, o que se garante pelo pluralismo e equilíbrio dos diferentes poderes. Uma vez emancipadas a vontade dos indivíduos e a das comunidades, como evitar a tentação da auto-suficiência individual (o "desvio" do marquês de Sade) ou a completa submissão à sociedade?
Fazendo intervir, também aqui, os meios de regulação.
O primeiro sustenta a finalidade das ações humanas liberadas, que visam os outros homens, com os quais vivemos em sociedade, cuja felicidade nesta vida importa mais que a salvação na outra (a Ilustração é, pois, um humanismo).
A segunda restrição consiste em dizer que todos os homens possuem "direitos humanos" invioláveis, anteriores à sociedade, como o direito à vida ou à integridade de seu corpo.
Pode-se perguntar agora: ao limitar a liberdade pela exigência de universalidade, não nos arriscamos a tomar o "desvio universalista"?
A resposta é que a afirmação da universalidade humana implica o interesse pelas múltiplas formas que pode adquirir a civilização.
Montesquieu e Rousseau são dois formidáveis "etnólogos", que se debruçam sobre as histórias e as humanidades "locais". Vale o mesmo para a pluralidade no tempo: o passado deixa de ser a encarnação de um ideal eterno e se torna uma sucessão de épocas históricas que possuem coerência e valores próprios.
Merece um parágrafo à parte outro "desvio", tomado pelos melhores escritores das Luzes: a crença no progresso linear e ilimitado do gênero humano.

"Tornar-se melhor"
Mais uma vez, Todorov invoca Rousseau, que escreveu as melhores páginas sobre o assunto.
Para o autor do "Discurso sobre a Desigualdade", o que distingue o homem não é a marcha para o progresso, mas apenas a perfectibilidade, "uma capacidade de se tornar melhor, assim como de melhorar o mundo, mas cujos efeitos não são garantidos nem irreversíveis".
Além disso, Rousseau achava que o progresso num domínio podia custar a regressão no outro. É de uma espantosa atualidade seu diagnóstico segundo o qual o desenvolvimento da ciência e da técnica tem conduzido à servidão política.
Autonomia do indivíduo e da sociedade, finalidade humana de nossos atos, universalismo, laicização, vontade geral, equilíbrio e independência dos poderes, invenção da história como relato dotado de sentido imanente, invenção da arte, do artista e da história da arte: alguém duvida que as Luzes sejam responsáveis por boa parte de nossa identidade atual?
Diante das teocracias islâmicas de hoje, da base norte-americana de Guantánamo e das ameaças à pesquisa sobre células-tronco, alguém duvida de que precisem ser defendidas?

FRANKLIN DE MATTOS é professor no departamento de filosofia da USP e autor de "O Filósofo e o Comediante - Ensaios sobre Literatura e Filosofia na Ilustração" (UFMG).

O ESPÍRITO DAS LUZES
Autor: Tzvetan Todorov - Tradução: Mônica Cristina Corrêa - Editora: Barcarolla

[Folha de São Paulo, 27/07/2008]

A subcondição humana

Em "Abolição", a historiadora Emilia Viotti da Costa disseca a formação do racismo no Brasil

FRANCISCO ALAMBERT

É muito bonito e raro ver uma historiadora no auge de sua carreira retomar o gosto pela fala direta, didática e sintética, voltada aos leitores em geral. Isso é apenas uma das coisas que singularizam o trabalho de Emilia Viotti da Costa.
Uma das maiores "scholars" atuais, professora titular da Universidade Yale, professora emérita da USP, uma parte de seu trabalho atual é organizar coleções didáticas.
Neste caso, ela reedita um livro cuja primeira edição apareceu em 1982, agora acrescido de um belo capítulo inédito, "Depois do Fato", que trata das conseqüências e dos impasses do processo abolicionista.
Neste livro, a autora sintetiza as idéias que desenvolveu em trabalhos anteriores, como o clássico "Da Senzala à Colônia" [ed. Unesp] ou mesmo posteriores, como "Coroas de Glória, Lágrimas de Sangue" [Cia. das Letras], no qual estudou a rebelião dos escravos em Demerara (uma sofisticadíssima análise, que trabalha de modo surpreendente a relação entre macro e micro-história e que teve entre nós uma recepção muito inferior àquela que merecia).

Luta legalista
Em "A Abolição" [ed. Unesp, 142 págs., R$ 27], ela apresenta as questões mais relevantes que envolvem o processo abolicionista e suas contradições.
Há um belo trecho em que nos é explicada a importância da Guerra do Paraguai para a crise que levaria à abolição.
Acompanhamos a luta "legalista" do advogado e poeta negro Luis Gama, que astutamente usava as armas do opressor, a legislação, a favor dos oprimidos (sua biografia e seus poemas são analisados em um capítulo que discute também os motivos do engajamento de abolicionistas como André Rebouças e Joaquim Nabuco).
Vemos as negociações feitas no Parlamento, pelo menos desde 1871, para tramar a lenta "transição" para a abolição da escravidão, em meio às transformações sociais trazidas pelos processos de modernização urbana e agrícola.
A desfaçatez do racismo brasileiro aparece de várias maneiras neste livro, inclusive de lugares e temas surpreendentes, como o episódio da frustrada tentativa de trazer imigrantes chineses, discutida no Congresso Agrícola de 1878.
De um lado, evocavam-se os bons resultados dos chineses na Califórnia ou em Cuba, além do fato de que aceitavam qualquer trabalho, quase sem pagamento. De outro lado, os críticos diziam que eram indolentes, corruptos, viciados em ópio e que iriam "mongolizar" a "raça" brasileira.
No final, o que impediu a imigração chinesa foi a oposição da Inglaterra e de Portugal, que fecharam os portos de Hong Kong e de Macau.

Mulheres e jangadeiros
Aprendemos o essencial sobre as razões da Abolição, mas não apenas do ponto de vista "político" mais restrito.
Vemos a luta das mulheres urbanas e suas associações, a luta dos jangadeiros do Nordeste, de ferroviários, de poetas. A autora é especialmente sensível aos "heróis anônimos", tema de um capítulo que trata das sociedades secretas que instigavam rebeliões e fugas das senzalas. Tudo isso se soma, e possibilita, o "golpe final", nas palavras da historiadora, trazido pelas "rebeliões das senzalas".
Ela sabe e nos mostra que a abolição não foi uma "dádiva" das classes dominantes, mas o resultado da ação inconformista dos escravos associada a uma ampla crise social.
O último capítulo mostra a terrível condição na qual os ex-escravos foram lançados: a pobreza, a exclusão, a mendicância, a exploração dos fazendeiros (agora patrões).
A abolição da desigualdade social, diz Viotti, ainda não terminou. A historiadora conclui seu livro com as palavras de um antigo líder operário lembrando que a escravidão do negro acabou, "mas a do trabalhador, e do pobre, ainda continua".

FRANCISCO ALAMBERT é historiador.

[Folha de São Paulo, 20/07/2008]

Abuso ou mistificação?

Revista australiana reacende debate sobre censura à arte ao exibir na capa foto de menina nua

KATHY MARKS

A imagem em si é simples. Mostra uma menina de seis anos em pose recatada, sentada sobre uma pedra diante de um fundo de penhascos brancos.
O impacto deriva do fato de que a menina está nua e de a foto ter sido usada como capa de uma das mais importantes revistas australianas de arte.
Segundo o editor da "Art Monthly", a capa deste mês é um esforço de "restaurar a dignidade" do discurso quanto aos retratos artísticos de crianças.
Para seus críticos, entre os quais o primeiro-ministro australiano Kevin Rudd [trabalhista], é "repulsiva".
O que a revista conseguiu foi colocar para ferver a controvérsia mais ou menos controlada que sempre existiu sobre a diferença entre arte e pornografia, em um país com uma longa tradição de censura.
O debate estava perto de explodir desde que a polícia realizou uma busca em uma galeria de arte em Sydney, em maio, e apreendeu fotos de garotas adolescentes nuas, trabalho do renomado artista Bill Henson.
A polícia desistiu discretamente do inquérito sobre o caso duas semanas mais tarde, por não ter encontrado nada que justifique acusações contra Henson ou a galeria -que reabriu a exposição [sem as fotos controversas]. A capa da "Art Monthly", trazendo mais duas fotos da menina nas páginas internas, tinha a clara intenção de provocar. E conseguiu, gerando apelos pelo cancelamento das verbas públicas que a revista recebe e por novos protocolos para a representação artística de crianças.
Embora os defensores da liberdade artística tenham expressado apoio ao direito da "Art Monthly" de publicar o que quiser, organizações de defesa das crianças se sentiram agredidas.
Mas a controvérsia se complicou devido à intervenção de dois participantes inesperados.
A primeira foi Olympia Nelson, a menina da foto, feita cinco anos atrás por sua mãe, Polixeni Papapetrou. A segunda foi Henson - ou, pelo menos, uma "fonte próxima a ele".

Tiroteio
Olympia, que hoje tem 11 anos, disse: "Fiquei muito ofendida com o que Kevin Rudd disse sobre a foto. É uma das minhas favoritas entre as fotos que minha mãe tirou de mim".
Mas a pessoa próxima a Henson afirmou que o artista acreditava que a escolha da imagem da capa demonstrava "um lapso de julgamento que só serve para promover um aprofundamento das divisões em nossa comunidade".
O comentário talvez revele mais sobre o medo de Henson de ser acusado de pornografia infantil do que sobre suas opiniões sinceras.
Mesmo assim, serve para animar a campanha de Hetty Johnson, uma ativista da proteção às crianças, para a qual "quando [arte e pornografia] colidem, temos de errar em benefício das crianças. Precisamos traçar uma linha na areia -porque fica evidente que algumas das pessoas no mundo das artes não desejam fazê-lo- e dizer que daquele limite ninguém deve passar".
Mas exatamente onde esse limite deve ser estabelecido continua tão obscuro quanto sempre foi.
Os liberais argumentam que tudo depende de conteúdo e intenção -se a intenção do artista não era excitar, a obra não é pornográfica. E existe uma diferença entre postar imagens de crianças nuas na web e exibi-las em uma galeria.
Mas, para Johnson, todas as imagens de crianças nuas são sexuais e deveriam ser proibidas. Para esses ativistas, o que Olympia tem a dizer sobre o caso é irrelevante. Ela não poderia ter consentido em posar para a foto aos seis anos e, aos 11, continua a não ser madura o suficiente para se pronunciar sobre os prós e contras do caso.
Uma vez mais, é provável que o assunto vá parar nas mãos da polícia, graças a Brendan Nelson, líder da oposição no Parlamento, que solicitou que as autoridades investiguem o caso.

Tradição australiana
O debate é velhíssimo, sem dúvida, e não está confinado à Austrália. O país tem uma longa história de censura, e aqueles que ainda se recordam dos livros que eram proibidos nos anos 1940, 50 e 60 devem ser perdoados caso sintam a desagradável sensação de que já viram esse filme.
Entre os trabalhos proibidos estavam "Ulisses", de James Joyce, "Numa Terra Estranha", de James Baldwin, "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "Os Nus e os Mortos", de Norman Mailer, e, naturalmente, "O Amante de Lady Chatterley", de D.H. Lawrence.
As artes plásticas também sofreram repressão. Em 1982, a polícia invadiu a galeria de Roslyn Oxley, em Sydney, onde a exposição de Henson seria realizada, e removeu trabalhos do artista Juan Davila, australiano nascido no Chile. As imagens sexuais explícitas de seu trabalho foram declaradas ofensivas à moral pública.
O Australia Council, organização pública que subvenciona a revista, a defendeu, afirmando que "por muitos anos nossa sociedade se provou capaz de distinguir entre criatividade artística e a exploração sexual de crianças, o que é completamente inaceitável".

A íntegra deste texto saiu no "Independent". Tradução de Paulo Migliacci.

[Folha de São Paulo, 20/07/2008]

Ensino sem demagogia

Professor da Unicamp ataca discurso vazio do governo na área e propõe soluções para a educação no Brasil

DERMEVAL SAVIANI

Os mais variados diagnósticos põem em evidência o estado atual altamente precário da qualidade da educação pública brasileira. E o mais recente programa de enfrentamento da situação, o PDE [Plano de Desenvolvimento da Educação], se propôs a atacar de frente exatamente o problema da qualidade do ensino, mas tem um calcanhar-de-aquiles: o insuficiente investimento.
Tal situação agora repercute de forma ampliada por efeito da greve dos professores da rede pública estadual de SP [iniciada em 16/6, já encerrada], que põe em evidência o problema das condições precárias de trabalho que dificultam a ação dos professores e afetam a formação, desestimulando a procura pelos cursos de preparação docente.
Tanto para garantir uma formação consistente como para assegurar condições adequadas de trabalho, faz-se necessário prover os recursos financeiros correspondentes.
Eis o grande desafio a ser enfrentado. É preciso acabar com a duplicidade pela qual, ao mesmo tempo em que se proclamam aos quatro ventos as virtudes da educação, as políticas predominantes se pautam pela redução de custos, cortando investimentos.
Impõe-se ajustar as decisões políticas ao discurso imperante. Trata-se, pois, de eleger a educação como máxima prioridade, carreando para ela todos os recursos disponíveis.

Questão crucial
Não se trata de colocar a educação em competição com outras áreas necessitadas, como saúde, segurança, estradas, desemprego, infra-estrutura de transporte, de energia, abastecimento, ambiente etc. Ao contrário, como eixo do projeto de desenvolvimento nacional, a educação será a via escolhida para atacar de frente todos esses problemas.
Se ampliarmos o número de escolas, tornando-as capazes de absorver toda a população em idade escolar, se povoarmos essas escolas com todos os profissionais de que necessitam, em especial com professores em tempo integral e bem remunerados, estaremos atacando o problema do desemprego diretamente, pois serão criados milhões de empregos.
Estaremos atacando o problema da segurança, pois estaremos retirando das ruas e do assédio do tráfico de drogas um grande contingente de crianças e jovens.
Mas, principalmente, atacaremos todos os demais problemas, pois estaremos promovendo o desenvolvimento econômico, uma vez que esses milhões de pessoas com bons salários irão consumir e, com isso, ativar o comércio, que, por sua vez, ativará o setor produtivo (indústria e agricultura), que irá produzir mais e contratar mais pessoas.
De quebra, a implementação desse projeto provocará o crescimento da arrecadação de impostos, maximizando a ação do Estado na infra-estrutura e nos programas sociais.
Enfim, com esse projeto será resolvido o problema da qualidade da educação: transformada a docência numa profissão atraente em razão da sensível melhoria salarial e das boas condições de trabalho, para ela serão atraídos muitos jovens dispostos a investir recursos, tempo e energia numa alta qualificação obtida em graduações de longa duração e em cursos de pós-graduação.
Com um quadro de professores altamente qualificado e fortemente motivado trabalhando em tempo integral numa única escola, estaremos formando os cidadãos conscientes, críticos, criativos, esclarecidos e tecnicamente competentes para ocupar os postos do mercado de trabalho de um país que viria a recuperar, a pleno vapor, sua capacidade produtiva.

Falta de coerência
Estaria criado, por esse caminho, o tão desejado círculo virtuoso do desenvolvimento. Trata-se de uma proposta ingênua, romântica? Não. Ela apenas extrai as conseqüências do discurso hoje dominante, cobrando coerência aos portadores desse discurso.
Está lançado o desafio aos formadores de opinião, aos empresários, dirigentes dos vários níveis e dos mais diferentes ramos de atividade e, em especial, aos políticos.
Ou assumimos essa proposta ou devemos deixar cair a máscara e pararmos de pronunciar discursos grandiloqüentes sobre educação, em flagrante contradição com uma prática que nega cinicamente os discursos proferidos.

DERMEVAL SAVIANI é professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor de, entre outras obras, "Política e Educação no Brasil" (ed. Autores Associados).

[Folha de São Paulo, 20/07/2008]

O mito pitagórico

O poder de uma idéia reside no fato de ela ser efetiva

Para a maioria das pessoas, o nome Pitágoras é associado ao teorema que relaciona a hipotenusa aos catetos de um triângulo retângulo. Lembro que, na escola, o professor nos ensinou que Pitágoras foi o fundador da matemática, o primeiro pensador a criar a estrutura de teoremas e provas que a caracteriza.
Lendo sobre sua vida; aprendemos que Pitágoras viveu em torno de 550 a.C., que fundou uma seita filosófica que combinava misticismo e matemática e que foi o primeiro a desenvolver a noção de que os números são a essência da realidade: se quisermos compreender a estrutura da natureza, o funcionamento das coisas, basta explorarmos as relações entre os números. Ou seja, a Pitágoras é atribuído o título de pai da ciência.
Arthur Koestler, em seu maravilhoso livro "Os Sonâmbulos", escreveu que Pitágoras foi o "fundador da cultura européia em sua vertente mediterrânea ocidental". O filósofo e matemático Bertrand Russell escreveu em 1946 que "Pitágoras foi intelectualmente um dos homens mais importantes da história". Realmente impressionante. Pena que quase tudo acima seja falso, resultado de uma elaborada fabricação.
Não há dúvida de que Pitágoras criou mesmo uma seita no sul da Itália, e de que nela se especulava sobre a relação entre os números e a realidade. Mas o objetivo não era criar uma descrição científica da natureza; o foco das atividades parecia ser uma numerologia que atribuía significado mágico aos números.
Por exemplo, ao casamento era atribuído o número 5, pois é a soma do primeiro ímpar, representando os homens (3) e do primeiro par, representando as mulheres (2). Aparentemente, o número 1 não contava. O desafio maior encontrado pelos historiadores é que não existe sequer uma linha escrita por Pitágoras. As fontes são todas póstumas, como é o caso de Aristóteles, que escreveu em torno de 150 anos após a morte de Pitágoras.
Segundo o historiador Walter Burkert, as fontes do mito pitagórico, que dizem que Pitágoras criou uma visão unificadora da natureza descrevendo-a a partir de números e geometria foram deliberadamente criadas. De acordo com elas, ele desenvolvera a relação entre os tons da música e os números inteiros e, também, pregava que a essência da natureza é matemática e que a missão do filósofo é desvendar essa essência para, com isso, compreender a mente de Deus.
Essa criação coube a dois discípulos de Platão, Espeusipo e Xenócrates, ambos líderes da Academia após a morte de seu ilustre mestre.
O que os discípulos tentaram, ao aumentar o conteúdo das descobertas dos pitagóricos, foi atribuir a Platão a continuidade da obra de Pitágoras que, segundo eles, foi o apóstolo de uma filosofia matemática que antecipava vários aspectos da metafísica platônica. Segundo outra lenda, na entrada da Academia, podia-se ler a inscrição: "Que ninguém ignorante de geometria entre".
A estratégia funcionou. O mito pitagórico cresceu com os séculos, influenciando profundamente os místicos neoplatônicos da Idade Média e da Renascença, que contribuíram ainda mais na sua elaboração.
No meu livro "A Dança do Universo", onde descrevo em mais detalhe a lenda e o legado pitagórico, afirmei que "o poder de um mito não está em ele ser falso ou verdadeiro, mas em ser efetivo". Não é tão importante se foi ou não Pitágoras o criador dessa relação entre os números e a natureza.
O mito inspirou grandes pensadores, de Copérnico e Kepler a Einstein. E influencia até hoje, na busca por uma descrição unificada da realidade física baseada na geometria.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

[Folha de São Paulo, 27/07/2008]

Aqui jaz uma ideologia

"Frutos Estranhos", do cientista social Kenan Malik, ataca os efeitos perversos do multicultura-lismo e prevê seu fim

STEPHEN CAVE

Está sendo preparado o funeral do multiculturalismo. Alguns acham que ele caiu juntamente com as torres gêmeas. Outros pensam que ele sangrou até morrer com Theo van Gogh, o crítico assassinado por um muçulmano holandês em Amsterdã.
No Reino Unido, o multiculturalismo talvez tenha voado pelos ares no atentado ao metrô em 7 de julho de 2005, pelas mãos de quatro homens -todos criados no Reino Unido. Três anos depois de tudo isso, Kenan Malik, um dos mais inteligentes de nossos críticos sociais, escreveu o obituário.
Em seu novo livro "Strange Fruit - Why Both Sides Are Wrong in the Race Debate" (Frutos Estranhos - Por Que os Dois Lados Estão Errados no Debate Racial, Oneworld Publications, 288 págs., 18,99, R$ 61), Malik afirma, para começar, que o conceito de raça não é científico e, em seguida, que o multiculturalismo é culpado de reforçá-lo, acarretando conseqüências graves para nossa sociedade.

Raça inferior
Malik abre seu livro com a alegação infame de James Watson, co-descobridor do DNA, de que os africanos têm inteligência inferior à "nossa".
Não apenas nossos genomas são virtualmente idênticos como as diferenças que ocorrem existem em grande quantidade no interior das populações.
Em outras palavras, se a humanidade inteira fosse exterminada, com a exceção de uma única tribo pequena, virtualmente todas as variações genéticas continuariam a existir.
Todos nós sabemos diferenciar um inuíte de um etíope, mas, deixando de lado suas características superficiais, as categorias amplas e inconsistentes de raça constituem um guia falho às diferenças genéticas.
Então por que, já que o conceito está tão desacreditado, continuamos a pensar em termos raciais?
Devido ao culto ao multiculturalismo, afirma Malik. Enquanto no passado os pensadores progressistas defendiam que se desse tratamento igual a todos, apesar de suas diferenças, hoje eles advogam tratar as pessoas diferentemente em razão de suas diferenças.
Esse respeito equivocado pela diversidade nos leva a atribuir uma marca, como uma cor ou um credo, a comunidades que são complexas.
A conseqüência disso não é apenas a divisão da sociedade segundo critérios étnicos, como também o fortalecimento das forças conservadoras internas às comunidades.

Rumores exagerados
Desse modo convertemos os mulás em porta-vozes de pessoas que, anteriormente, talvez tenham visto seu legado islâmico como não mais que uma parte de sua identidade.
Os rumores sobre a morte do multiculturalismo são exagerados, sem dúvida.
Mesmo assim, nos círculos intelectuais é considerado elegantemente arriscado criticar o movimento, e algumas dessas críticas se aproximam perigosamente da xenofobia.
Não é o caso de Malik. Seu tom é comedido, e seus argumentos são bem-fundamentados. Lúcido e importante, seu livro é alicerçado na crença fundamental na dignidade humana universal.

Este texto saiu no "Financial Times". - Tradução de Clara Allain.

[Folha de São Paulo, 20/07/2008]

Petróleo e IV Frota...

Incertezas e cobiça sobre o petróleo do Brasil
A descoberta das imensas jazidas do pré-sal convida a um debate, que a mídia insiste em omitir. Quem irá tirar proveito dos recursos de nosso subsolo? Por que manter uma legislação que favorece as empresas estrangeiras? Que alternativas permitiriam usar as reservas em favor das maiorias? [clique aqui para ler a matéria na íntegra]


Escopeta não é chocalho
Ao reativarem a IV Frota, os EUA sugerem que têm força para, por exemplo, bloquear o comércio externo da América do Sul. Em teoria, a disposição de um estado mais poderoso a exercer violência só pode ser enfrentada por alianças entre parceiros que consigam superar suas próprias rivalidades... [clique aqui para ler a matéria na íntegra
]

Guerra Fria - 60 anos: uma breve história

A Guerra Fria deixou o planeta à beira do apocalipse nuclear. No centro do palco estava Berlim, a cidade alemã dividida que foi cenário do Airlift (ponte aérea) de 1948 e da queda do Muro em 1989. A "Spiegel Online" reuniu uma cronologia dos eventos-chave da Guerra Fria.

1945: Os Aliados acertam em Potsdam as condições fundamentais para a ocupação da Alemanha. Bombas nucleares americanas destroem Hiroshima e Nagasaki.

1947: A Doutrina Truman: Os Estados Unidos oferecem assistência a países ameaçados pelo comunismo -especialmente a Grécia e a Turquia. O secretário de Estado americano, George C. Marshall anuncia um imenso programa de ajuda para a reconstrução da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial, que se tornará conhecido como Plano Marshall.

1948: Os comunistas tomam o poder na Tchecoslováquia.

1948: O bloqueio soviético a Berlim Ocidental tem início em 24 de junho. Isolada do mundo exterior, provisões são entregues à cidade isolada pelos americanos por meio de uma ponte aérea. Esta é a primeira grande crise de Berlim durante a Guerra Fria. Em 12 de maio de 1949, Stalin suspende o bloqueio.

1949: Em 4 de abril, o Tratado da Otan é assinado em Washington.

1949: Em 23 de maio, é estabelecida a República Federal da Alemanha. Não muito depois, em 7 de outubro, a República Democrática Alemã comunista é fundada.

1949: Em 29 de agosto, os soviéticos detonam sua primeira bomba atômica.

1949: Após vencer a guerra civil do país, o Partido Comunista sob Mao Tse-tung estabelece a República Popular da China.

1050-1953: A Guerra da Coréia: após a Coréia do Norte atacar a Coréia do Sul, tropas da ONU lideradas pelos Estados Unidos invadem o país. A China e a União Soviética apóiam a Coréia do Norte. O cessar-fogo deixa os dois países com o status quo pré-guerra.

1952: O líder soviético Joseph Stalin oferece negociar a reunificação da Alemanha sob a condição de que uma Alemanha unida permaneça neutra. Com o apoio do Parlamento da Alemanha Ocidental, as potências aliadas ocidentais rejeitam a oferta.

1953: Em 17 de junho, um levante dos trabalhadores na Alemanha Oriental é esmagado por tanques russos.

1955: A República Federal da Alemanha se junta à Otan e forma o Bundeswehr, o primeiro exército alemão a existir após a queda de Hitler.

1956: Ocorre um levante húngaro, com início em 20 de outubro, mas ele é esmagado pelos russos.

1956: De 29 de outubro a 6 de novembro, ocorre a crise do Suez. Após as tentativas do Egito de nacionalizar o Canal de Suez, Israel, França e Reino Unido ocupam a zona do canal e bombardeiam os campos aéreos egípcios. O líder soviético Nikita Kruschev ameaça Londres e Paris com guerra nuclear.

1961: A construção do Muro de Berlim começa em 13 de agosto.

1962: A crise de Cuba: após os soviéticos posicionarem ogivas nucleares em Cuba, os Estados Unidos ameaçam uma guerra. O mundo fica à beira de uma guerra nuclear por dias.

1963: Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Soviética concordam em suspender os testes submarinos e de superfície de armas nucleares.

1965: As primeiras forças de combate americanas chegam ao Vietnã do Sul. Mais de 2 milhões de pessoas morrerão durante a Guerra do Vietnã -a maioria civis. Os Estados Unidos retiram suas tropas em 1973. Dois anos depois, o norte comunista conquista o sul do país.

1968: Tropas do Pacto de Varsóvia, uma organização de Estados comunistas da Europa Central e Oriental, esmagam o levante da Primavera de Praga.

1969: Começam as negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética para redução de armas nucleares estratégicas. As negociações terminam com vários tratados em 1979, mas a corrida armamentista prossegue sem pausa.

1970: Tem início a chamada Ostpolitik, uma política de reaproximação com o bloco oriental defendida pelo chanceler alemão Willy Brandt. Sua política de "mudança por meio da conciliação" dá seus primeiros frutos. Os alemães e russos acertam um tratado que renuncia o uso da força.

1979: A decisão "Double Track" da Otan é aprovada, permitindo aos Estados Unidos a instalação de 572 ogivas nucleares "Pershing II" na Europa Ocidental caso as negociações com os soviéticos para desmonte dos mísseis SS-20 de médio alcance fracassassem. A instalação começa em 1983.

1980: Após a invasão soviética ao Afeganistão em 1979, os Estados Unidos impõem sanções aos russos e boicotam os Jogos Olímpicos de Moscou.

1983: O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, anuncia o desenvolvimento do sistema de defesa antimísseis "Guerra nas Estrelas" de alcance mundial em sua Iniciativa de Defesa Estratégica.

1985: O chefe do Kremlin, Mikhail Gorbatchov, começa a reorientar a política externa soviética.

1987: Gorbatchov e Reagan concordam em eliminar todos os mísseis de médio alcance baseados em terra.

1989: O Muro de Berlim cai em 9 de novembro.

1991: O Pacto de Varsóvia é dissolvido. Gorbatchov renuncia e a União Soviética desaparece do mapa.

Tradução: George El Khouri Andolfato
[Der Spiegel]

Biocombustíveis podem ser até piores do que se pensava a princípio

Um relatório interno do Banco Mundial que vazou para o "Guardian" sustenta que os biocombustíveis talvez sejam responsáveis por até 75% da alta nos preços dos alimentos. Nem os grupos ambientais foram tão longe em suas estimativas.

Os preços de alimentos são um assunto prioritário na agenda para a reunião de cúpula da semana que vem do G-8 no Japão, e o presidente do Banco Mundial Robert Zoellick foi claro que é preciso tomar medidas. "O que estamos testemunhando não é um desastre natural -um tsunami silencioso ou uma tempestade perfeita", escreveu em uma carta na terça-feira (1) aos principais líderes ocidentais. "É uma catástrofe feita pelo homem e, como tal, deve ser consertada pelas pessoas."

De acordo com um relatório confidencial do Banco Mundial obtido pelo "Guardian" na quinta-feira, a organização de Zoellick talvez tenha uma idéia bem clara de como deveria ser a solução: parar de produzir biocombustíveis.

O relatório alega que os biocombustíveis elevaram os preços dos alimentos mundiais em 75%, sendo responsáveis por mais da metade do salto de 140% nos preços desde 2002 dos alimentos examinados pelo estudo. O artigo do "Guardian" alega que o relatório, concluído em abril, não foi divulgado para não embaraçar o presidente americano George W. Bush.

Uma análise americana recentemente chegou à conclusão que apenas 3% do aumento dos preços dos alimentos poderiam ser atribuídos aos biocombustíveis.

O Banco Mundial na sexta-feira procurou limitar o impacto do vazamento do relatório. Um porta-voz da organização, que pediu para não ser identificado, disse ao Spiegel Online que o documento obtido pelo "Guardian" foi apenas um de vários relatórios internos sobre biocombustíveis não destinados à publicação. Ele salientou que o Banco Mundial há muito concordou que os biocombustíveis são um fator que pressiona os preços dos alimentos, mas que prefere não quantificar esse impacto.

"Os biocombustíveis sem dúvida contribuem significativamente", disse Zoellick nesta primavera, estabelecendo a linha do Banco Mundial sobre biocombustíveis. "Claramente, os programas na Europa e nos EUA que aumentaram a produção de biocombustíveis contribuíram para a maior demanda por alimentos."

Um "crime contra a humanidade"
Ainda assim, em um ambiente de crítica crescente aos biocombustíveis e cada vez mais preocupação com o impacto do salto nos preços de alimentos, o relatório é uma bomba. Ele estima que os aumentos nos custos de energia e de fertilizantes foram responsáveis por apenas 15% do aumento nos preços de alimentos. Nem mesmo o grupo ambiental Oxfam chegou tão longe quanto o relatório do Banco Mundial. Em um estudo divulgado no final de junho, chamado "Outra verdade inconveniente", a Oxfam disse que os biocombustíveis levaram mais de 30 milhões de pessoas à pobreza - mas que haviam contribuído com apenas 30% no aumento de preços globais de alimentos.

"Os líderes políticos parecem ter a intenção de suprimir e ignorar fortes evidências que os biocombustíveis são um importante fator nos recentes aumentos de preços de alimentos", disse o assessor de política da Oxfam, Robert Bailey, ao "Guardian", na sexta-feira.

A demanda por biocombustíveis aumentou significativamente nos últimos anos, na medida em que os países industrializados procuraram cortar as emissões de CO2 utilizando fontes de energia renováveis. Em abril, Londres introduziu novos regulamentos exigindo que 2,5% do combustível vendido nas bombas no Reino Unido fosse composto de biocombustível e que essa mistura aumentasse para 5% em 2010. A União Européia estabeleceu para si mesma a meta de acrescentar 10% de biocombustível aos combustíveis até 2020 em todo o continente. O presidente dos EUA, George W. Bush, também se apegou ao etanol como forma de reduzir a dependência dos EUA em petróleo estrangeiro.

Em um relatório publicado na terça-feira pelo Banco Mundial, em preparação para a reunião de cúpula da próxima semana do G-8, a organização recomendou que o grupo promovesse "ações nos EUA e na Europa para diminuir subsídios, mandatos e tarifas sobre biocombustíveis que derivam do milho e de sementes".

As críticas ao combustível feito de grãos e capim não giram apenas em torno dos preços de alimentos. Os produtores nos países em desenvolvimento estão derrubando florestas e drenando mangues - ambos valiosos por sua habilidade de absorver CO2 da atmosfera- para abrir espaço para plantações de biocombustível. Assim, muitos duvidam que o produto seja neutro em carbono. E mais, alguns fertilizantes usados na produção de grãos para biocombustíveis liberam óxido nitroso na atmosfera, um gás de efeito estufa que é até 300 vezes mais nocivo do que o CO2.

O relatório do Banco Mundial obtido pelo "Guardian" diz que a produção de biocombustíveis coloca pressão sobre os preços de alimentos tirando os grãos da produção de alimentos, estimulando os agricultores a separarem terras para plantações de biocombustíveis e gerando especulação de grãos nos mercados financeiros.

O problema tornou-se tão ruim que o Representante Especial da ONU pelo Direito ao Alimento, Jean Ziegler, chamou os biocombustíveis de um "crime contra a humanidade" no início desta primavera.

Tradução: Deborah Weinberg
[Der Spiegel, 05/07/2008]

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