Da Revista de História da Biblioteca Nacional

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Gays nas Forças Armadas
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Noam Chomsky: A tomada da democracia norte-americana pelo setor corporativo

Noam Chomsky
O dia 21 de janeiro de 2010 será lembrado como uma data sombria na história da democracia norte-americana e seu declínio.
Naquele dia, a Suprema Corte dos EUA determinou que o governo não pode proibir as corporações de fazerem gastos políticos durante as eleições – uma decisão que afeta profundamente a política do governo, tanto interna quanto externa.
A decisão anuncia uma tomada ainda maior do sistema político dos EUA por parte do setor corporativo.
Para os editores do The New York Times, a decisão “atinge o coração da democracia” ao “abrir caminho para que as corporações usem seus vastos tesouros para dominar as eleições e intimidar as autoridades eleitas a cumprirem suas ordens”.
O tribunal ficou dividido, 5 a 4, com os quatro juízes reacionários (equivocadamente chamados de “conservadores”) recebendo o apoio do juiz Anthony M. Kennedy. O juiz chefe John G. Roberts Jr. selecionou um caso que poderia facilmente ter sido resolvido em esferas mais baixas e manobrou o tribunal, usando-o para empurrar uma decisão de amplo alcance que derruba um século de precedentes que restringiam as contribuições corporativas às campanhas federais.
Agora os gerentes corporativos podem de fato comprar as eleições diretamente, evitando meios indiretos mais complexos. É bem sabido o fato de que as contribuições corporativas, às vezes reempacotadas de formas complexas, podem influenciar em peso as eleições, direcionando assim a política. O tribunal simplesmente deu muito mais poder ao pequeno setor da população que domina a economia.
A “teoria do investimento na política” do economista político Thomas Ferguson faz um prognóstico muito eficaz da política do governo durante longos períodos. A teoria interpreta as eleições como ocasiões nas quais segmentos de poder do setor privado se unem para investir com o objetivo de controlar o Estado.

A decisão de 21 de janeiro apenas reforça os meios para minar a democracia em funcionamento.
O pano de fundo é esclarecedor. Em seu argumento contrário, o juiz John Paul Stevens reconheceu que “há muito sustentamos que as corporações estão cobertas pela Primeira Emenda” - a garantia constitucional para a liberdade de discurso, que incluiria o apoio aos candidatos políticos.
No começo do século 20, teóricos de direito e tribunais implementaram a decisão do tribunal de 1886 de que as corporações – essas “entidades legais coletivistas” - têm os mesmos direitos que as pessoas de carne e osso.
Este ataque contra o liberalismo clássico foi duramente condenado por um tipo de conservadores que está desaparecendo. Christopher G. Tiedeman descreveu o princípio como uma “ameaça à liberdade do indivíduo, e à estabilidade dos Estados norte-americanos enquanto governos populares”.
Morton Horwitz escreve em sua história legal que o conceito de “pessoa” corporativa evoluiu lado a lado com a mudança de poder dos acionistas para os gerentes, e finalmente para a doutrina de que “os poderes do quadro de diretores (…) são idênticos aos poderes da corporação”. Anos depois os direitos corporativos foram expandidos bem além dessas pessoas, principalmente pelos equivocadamente denominados “acordos de comércio livre”. Por esses acordos, por exemplo, se a General Motors estabelece uma fábrica no México, ela pode pedir para se tratada da mesma forma que as empresas mexicanas (“tratamento nacional”) - bem diferente de um mexicano de carne e osso que busca “tratamento nacional” em Nova York, ou mesmo os direitos humanos mínimos.
Há um século, Woodrow Wilson, na época um acadêmico, descreveu uns Estados Unidos em que “grupos comparativamente pequenos de homens”, gerentes corporativos, “exercem o poder e controlam a riqueza e os negócios do país”, tornando-se “rivais do próprio governo”.
Na realidade, esses “pequenos grupos” se tornaram cada vez mais os mestres do governo. O tribunal de Roberts deu a eles um alcance ainda maior.
A decisão de 21 de janeiro veio três dias depois de outra vitória da riqueza e do poder: a eleição do candidato republicano Scott Brown para substituir o finado senador Edward M. Kennedy, o “leão liberal” de Massachusetts. A eleição de Brown foi retratada como uma “virada populista” contra as elites liberais que comandam o governo.

Os dados da votação revelam uma história diferente.
Altos índices de participação nos subúrbios ricos, e baixos em áreas urbanas em grande parte democratas, ajudaram a eleger Brown. “50% dos eleitores republicanos disseram que estavam 'muito interessados' na eleição”. Informou a pesquisa do The Wall Street Journal/NBC, “comparado a 38% dos democratas”.
Então os resultados foram de fato uma virada contra as políticas do presidente Obama: para os ricos, ele não estava fazendo o suficiente para deixá-los mais ricos, enquanto que para os setores pobres, ele estava fazendo demais para atingir esse fim.
A irritação popular é bastante compreensível, dado que os bancos estão prosperando, graças à ajuda do governo, enquanto o desemprego aumentou para 10%.
Nas fábricas, uma em cada seis pessoas está sem trabalho – desemprego nos níveis da Grande Depressão. Com a financialização crescente da economia e o esvaziamento da indústria produtiva, as perspectivas são não trazem esperanças de recuperação dos empregos que foram perdidos.
Brown apresentou a si mesmo como o 41º voto contra o sistema de saúde – ou seja, o voto que poderia acabar com a maioria no Senado dos EUA.
É verdade que o programa de saúde de Obama foi um fator importante na eleição de Massachusetts. As manchetes estão corretas ao dizer que o público está se voltando contra o programa.
Os números da pesquisa explicam porquê: o projeto de lei não vai longe o suficiente. A pesquisa do The Wall Street Journal/NBC descobriu que a maioria dos eleitores desaprova a forma como tanto Obama quanto os Republicanos estão lidando com o sistema de saúde.
Esses números se alinham com as recentes pesquisas nacionais. A opção do sistema público foi apoiada por 56% dos entrevistados, e a adesão ao Medicare aos 55 anos por 64%; ambos os programas foram abandonados.
Oitenta e cinco por cento acreditam que o governo deveria ter o direito de negociar os preços dos medicamentos, como acontece em outros países; Obama garantiu à indústria farmacêutica que não perseguirá esta opção.
Grandes maiorias apoiam o corte de custos, o que faz bastante sentido: os custos per capita dos EUA com a saúde são cerca de duas vezes maiores que os dos países industrializados, e os resultados da saúde são de má qualidade.
Mas o corte de custos não pode ser seriamente empreendido enquanto as companhias farmacêuticas são agraciadas, e o sistema de saúde está nas mãos de seguradoras praticamente desreguladas – um sistema caro peculiar aos EUA.
A decisão de 21 de janeiro levanta novas barreiras significativas para superar a séria crise do sistema de saúde, ou para lidar com assuntos críticos como as ameaçadoras crises do meio ambiente e da energia. O hiato entre a opinião pública e a política pública cresce cada vez mais. E o prejuízo para a democracia norte-americana dificilmente pode ser superestimado.

Tradução: Eloise De Vylder
[The New York Times, 07/02/2010]

Umberto Eco: A leal oposição

Umberto Eco
O cientista Edoardo Boncinelli deu recentemente uma série de aulas na Universidade de Bolonha sobre as origens e o desenvolvimento da teoria da evolução. A coisa que mais me surpreendeu não foi tanto as provas irrefutáveis; mas, sim, o fato de que não apenas os oponentes, mas também muitos dos defensores da teoria, têm ideias tão ingênuas e confusas sobre a evolução.
Uma ideia desse tipo é a crença de algumas darwinianos de que o homem descende dos macacos. (No mínimo, depois de testemunhar certos episódios racistas de nossa época, ficamos tentados a comentar, assim como fez o escritor Alexandre Dumas a um tolo que zombou de sua herança étnica mista: “Meu pai era mulato, meu avô era negro e meu tataravô era um macaco. Veja, senhor: minha família começa onde a sua termina.”)
O fato é que a ciência sempre desafia o senso comum, que normalmente é menos avançado do que as pessoas imaginam. Todas as pessoas escolarizadas sabem que a Terra gira em torno do Sol e não vice-versa. Mesmo assim, em nossas vidas cotidianas, ainda nos apegamos a percepções ingênuas, observando tranquilamente que o Sol está se “levantando” ou se “pondo”, ou está “alto no céu”.
E quantas pessoas de fato podem ser consideradas escolarizadas? Uma pesquisa de 1982 feita na França pela revista Science et Vie revelou que uma em cada três pessoas acreditava que o Sol girava em torno da Terra.
Tirei esta pérola da edição de abril de 2009 do “Les Cahiers de l'Institut” – a revista de um instituto internacional para pesquisa sobre “fous litteraires” (em outras palavras, todos os escritores mais ou menos loucos que defendem ideias improváveis). O artigo de Olivier Justafre tem como foco aqueles que negam que a Terra é redonda e que gira em torno do Sol.
Talvez não surpreenda que as pessoas, incluindo alguns acadêmicos importantes, ainda negassem a hipótese de Copérnico no final do século 17. Mas o fato de que ainda havia grandes oponentes à teoria nos séculos 19 e 20 é bastante alarmante. Embora Justafre limite-se estritamente à oposição francesa, há gente mais do que suficiente –desde Abbe Matalene, que em 1842 demonstrou que o diâmetro do Sol era de apenas 32 centímetros (uma ideia de Epicuro, 22 séculos antes), a Victor Marcucci, que acreditava que a Terra era plana e a Córsega ficava no centro dela.
Isto apenas no século 19 – a loucura continuou no século seguinte. Em 1907, Leon Max publicou o “Essai de Rationalization de la Science Experimentale” [“Ensaio de Racionalização da Ciência Experimental”] em uma editora científica de renome, e em 1936 um certo B. Raiovitch publicou “La Terre Ne Tourne Pas” [“A Terra Não Gira”] no qual argumentava que o Sol era menor do que a Terra e maior do que a Lua (enquanto em 1815 Abbe Bouheret havia sustentado o contrário). Em 1935, Gustave Plaisant, que descrevia a si mesmo como “um ex-aluno da Ecole Polytechnique” escreveu um livro dramaticamente intitulado “Tourne-T-Elle?” (“Será Que Ela Gira?”). E mesmo em 1965, Maurice Ollivier, que também se denominava “ex-aluno da Ecole Polytechnique”, escreveu um livro sobre a imobilidade da Terra.
O único livro mencionado no artigo de Justafre que não foi escrito por um francês foi um de Samuel Birley Rowbotham, escritor britânico que acreditava que a Terra era um disco localizado a 650 quilômetros do Sol, com o Polo Norte no centro. O trabalho de Rowbotham, intitulado “Zetetic Astronomy: Earth Not a Globe” [“Astronomia Zetética: A Terra Não É Um Globo”], foi publicado em forma de panfleto em 1849. Mas nas três décadas seguintes ele cresceu para se tornar um livro de 430 páginas e deu origem à Sociedade Zetética Universal, que sobreviveu até a 1ª Guerra Mundial.
Em 1956, um integrante da Sociedade Astronômica Real, Samuel Shenton, fundou a Flat Earth Society [Sociedade da Terra Plana], com a missão de levar adiante o legado de Rowbotham. Quando a Nasa produziu fotos da Terra vista do espaço nos anos 60, ninguém podia racionalmente negar que o planeta era esférico. Mas na visão de Shenton, as fotos apenas enganavam o olho destreinado: todo o programa espacial era uma fraude, incluindo o pouso na Lua da Nasa, cuja intenção foi fazer com que o público acreditasse que a Terra é redonda.
O sucessor de Shenton, Charles Kenneth Johnson, continuou a denunciar o golpe, escrevendo em 1980 que tanto Moisés quanto Colombo haviam conspirado para difundir a ideia de um globo giratório. Um dos argumentos de Johnson era de que, se a Terra de fato fosse uma esfera, então as superfícies das grandes massas de água também teriam que ser curvas. Mas ele havia checado as superfícies do Lago Tahoe e do Mar de Salton e não encontrou nenhuma curvatura.
Será que deveríamos de fato nos surpreender, então, com o fato de que ainda há pessoas que rejeitam a teoria da evolução?

Tradução: Eloise De Vylder
[The New York Times, 07/02/2010]

Bispo Williamson insiste na negação do Holocausto

Peter Wensierski e Steffen Winter
O controverso bispo Richard Williamson continua negando o Holocausto, embaraçando tanto a Sociedade de São Pio 10º (SSPX) a qual ele pertence quanto o Vaticano. Mas a SSPX está se tornando cada vez mais poderosa, apesar da controvérsia, e está atraindo mais e mais fiéis.
As queixas de Richard Williamson começam quando ele olha pela janela de seu escritório na Casa de São Jorge, a sede em Londres da Sociedade de São Pio 10º (SSPX). Passando o jardim, na base de uma pequena colina no verdejante Parque de Wimbledon, se encontram um lago, um campo de golfe, um clube de croquet e as famosas quadras de tênis.
O velho na janela gosta de tênis, que ele chama com admiração de “o maior espetáculo”, um jogo que envolve “um espírito único, uma vontade única”. No tênis, ele diz, é como se dois gladiadores estivessem enfrentando um ao outro, “apenas sem derramamento de sangue”.
Mas não seria Williamson se ele não sentisse danação até mesmo no mais nobre dos espetáculos. Os trajes vestidos pelas tenistas, diz o bispo com indignação, “mal chegam ao meio de suas coxas”. Williamson notou torcedoras usando saias ainda menores. “Não restou nenhum homem que diga para suas filhas, irmãs, esposas ou mães que este tipo de traje é destinado apenas aos olhos de seus próprios maridos?”
O mundo se tornou um local menor para o notório bispo. Desde que ele negou a existência do Holocausto na televisão há mais de um ano, causando sérios problemas para o papa Bento 16 e quase provocando uma revolta de fiéis cristãos contra Roma, a ultraconservadora SSPX o tem mantido em quarentena virtual em sua sede em Wimbledon. O bispo Bernard Fellay, o superior geral da SSPX, compara Williamson a urânio: “É algo perigoso de se ter”, ele diz, mas você não pode “simplesmente deixar na rua”.

Uma grande mentira’
Fellay sabe do que está falando. Williamson não tem intenção de rever suas posições sobre as câmaras de gás. Quando a caçadora de nazistas Beate Klarsfeld lhe enviou um livro sobre a história do Holocausto no ano passado, ele o deixou de lado, sem ler. “O fato é que 6 milhões de pessoas que supostamente foram mortas a gás representam uma enorme mentira”, ele escreveu recentemente aos demais membros da SSPX, notando que “uma ordem mundial completamente nova foi construída” com base neste “fato”. Os judeus, ele acrescentou, “se transformaram em salvadores substitutos graças aos campos de concentração”.
Williamson, após se recusar a pagar uma multa de 12 mil euros, enfrenta acusações de incitação de ódio racial em um julgamento na cidade de Regensburg, no sul da Alemanha, que começará em 16 de abril. Apesar de não se saber se ele estará presente no julgamento, o bispo já reuniu uma equipe legal que inclui o advogado alemão Matthias Lossmann e o advogado britânico que já representou o ex-ditador chileno Augusto Pinochet em sua luta contra a extradição.
Tanto a recusa obstinada do bispo em abandonar suas teorias afrontosas do Holocausto e o julgamento em Regensburg são um embaraço tanto para a SSPX quanto para o Vaticano, que está atualmente em conversações diretas com os fundamentalistas. Durante as reuniões mensais, três teólogos da SSPX sentam, quase como se estivessem participando de outro concílio do Vaticano, diante de três teólogos do papa no Palácio do Santo Ofício, que é lar da Congregação para a Doutrina da Fé e é adjacente à Basílica de São Pedro. Mais próximo do Vaticano impossível. Teólogos liberais e esquerdistas como Hans Küng passaram suas vidas sonhando em vão com um encontro desses.
O Segundo Concílio do Vaticano de 1962 a 1965, também conhecido como Vaticano 2º, cujas reformas ajudaram a modernizar a Igreja Católica, está no alto da agenda dos membros do SSPX, que querem vê-lo revertido o máximo possível. Para eles, ecumenismo é coisa do diabo, o reconhecimento do judaísmo é fonte de disputa e a forma moderna da liturgia é um ato impossível de assimilação do zeitgeist.
A meta deles é serem reconhecidos em Roma novamente após 22 anos. O Vaticano também quer colocar um fim à divisão dentro da Igreja. Mas Williamson, que vem sendo um espinho para aqueles que buscam a reaproximação, não vai embora.
Se um bispo fundamentalista como Williamson for afastado, ele teria o potencial de dividir a Igreja de novo. Ele poderia consagrar novos padres a qualquer momento ou criar seu próprio movimento, ainda mais radical. Isso seria inconveniente tanto para Bento 16 quanto para a SSPX, o motivo para Williamson estar sendo tolerado.

‘Estes homens são ratos’
O refúgio de Williamson é um pequeno quarto de hóspedes na Arthur Road, no sul de Londres, onde ele tem uma vista da Quadra Central de Wimbledon. O quarto fica em um prédio novo, de aspecto comum, adornado apenas com duas colunas flanqueando a entrada da frente. Uma placa na entrada para uma capela no jardim pede aos fiéis que rezem durante a futura “Cruzada do Rosário” da SSPX. O padre Lindström, um sueco magro, assegura que apenas as pessoas certas estão autorizadas a visitar Williamson.
O bispo tem uma reputação de ser imprevisível. Às vezes ele dá aos funcionários instruções para dizerem aos visitantes que ele não está em casa, mas em certa ocasião ele sentou-se ao lado de uma árvore de Natal para dar uma entrevista a um vídeo blogger. Uma entrevista para a “Spiegel”, que estava marcada há algum tempo, ocorreu por acaso em um dia ruim. Williamson estava disposto a aparecer apenas do patamar da escada, e mesmo aí, tudo o que era visível dele era um de seus braços e sua mão usando o anel de bispo. Sua voz era fácil de reconhecer, mas ele se recusou a falar diretamente com os entrevistadores, restando a Lindström subir e descer as escadas, levando as perguntas e respostas.
Posteriormente, Williamson decidiu continuar a entrevista para a “Spiegel” por e-mail – apesar dele estar na sala ao lado. A visita o deixou muito irado. “Nós estamos em guerra”, ele esbravejou, “e vocês estão no lado errado”. Intelectuais liberais alemães são tão detestáveis para ele quanto as minissaias na quadra de tênis. “Estes homens são, pelo menos objetivamente, ratos”, ele escreveu em uma referência aos jornalistas da “Spiegel”.

Heresias e erros
Há uma rotina rígida na sede em Londres da Fraternitas Sacerdotalis Sancti Pii X, como a SSPX é chamada em latim: despertar às 6h, primeiras orações às 6h30, missa às 7h15, almoço às 12h45, rosário às 18h30, orações noturnas às 21h.
À direita da entrada fica a biblioteca, que tem uma estante separada para os livros proibidos. Guardada por duas estátuas, uma de Jesus e uma da Virgem Maria, um sinal identifica claramente as publicações perigosas na estante como “Heresias/Erros”. Na prateleira superior se encontra um livro do teólogo liberal alemão Karl Rahner, uma influência chave sobre o Vaticano 2º, e ao lado dele se encontra um livro que, apesar de considerado uma autoridade por mais de um bilhão de católicos, é moderno demais para a SSPX: “O Catecismo da Igreja Católica”.
Williamson mora no segundo andar. É onde o bispo, que gosta de interpretar lieder de Schumann, retira seu anel pesado de bispo e toca as obras do compositor alemão no piano. “A música é uma expressão da harmonia ou da desarmonia na alma humana”.
Ele também passa bastante tempo navegando na Internet, onde possui fãs leais. Há 520 pessoas registradas como amigos na sua página no Facebook, e centenas leem suas colunas na Internet, que ele escreve sob o nome de “Dinoscopus” –uma palavra inventada derivada de dinossauro e episcopus (a palavra em latim para bispo). Ele cultiva sua imagem como a de um reacionário e um guardião da fé pura. Viver em uma cidade grande é prejudicial, ele pontificou enquanto olhava para as quadras de tênis. Isso interfere e destroi casamentos, ele disse, torna os jovens em “panos de lavar”, que são “enxaguados pelo liberalismo”, tanto que “seu bom senso é diluído”.
Williamson é um homem sofisticado que faz sermões poderosos. Ele é um acadêmico literário com diploma por Cambridge e fala francês, alemão e espanhol perfeitamente. Ele também é vaidoso, com apreço por modos refinados e roupas caras, e esquece do mundo ao seu redor quando toca Beethoven.
E é alguém que acredita que nenhum judeu foi morto nas câmaras de gás do Terceiro Reich.

‘Nós perdemos um de nossos quatro bispos’
O bispo Fellay, o superior de Williamson, parece perturbado enquanto permanece sentado em seu escritório no Palácio Schwandegg, em Menzingen, Suíça. Ele torce fervorosamente para que “Williamson não exploda”. O palácio oferece uma ampla vista dos Alpes no cantão de Zug, onde a velha cidade spa fica situada no topo de uma montanha de 900 metros de altitude. As vozes das oblatas, as mulheres leigas devotas que ajudam os padres a administrar a casa, podem ser ouvidas nos corredores.
“Nós perdemos um de nossos quatro bispos”, diz Fellay. “Nós não podemos usá-lo para mais nada.” Ele está lutando contra si mesmo e contra a história, tentando encontrar as palavras certas e o distanciamento apropriado ao assunto. Ele considera a coisa toda “incrivelmente desagradável” e diz que acreditou que “o bispo tinha entendido melhor as coisas nesse ínterim”. Mas infelizmente Williamson não entendeu. Fellay diz que sua crença pessoal é de que o Holocausto é um fato “óbvio”.
Mas nem todos seus irmãos estão dispostos a concordar. Logo após o estouro do escândalo de Williamson no início de 2009, o padre italiano Floriano Abrahamowicz especulou que as câmaras de gás podiam ser usadas apenas para “desinfecção”, e que Erich Priebke, o ex-capitão da SS que esteve envolvido e foi posteriormente condenado por centenas de execuções de civis na Itália, não era de fato um executor. Isso também foi “desagradável” para a liderança da SSPX.
Por outro lado, o debate teve suas vantagens. Por causa de Williamson, a SSPX adquiriu uma notoriedade sem precedente desde sua criação em 1969 pelo arcebispo francês renegado Marcel Lefebvre. Os ultraconservadores sempre amaram os irmãos da Sociedade e agora eles se transformaram em heróis da direita, do movimento antimodernista. O que um superior geral como Fellay acha disso?

Apelo aos extremistas
“Nós temos apelo junto aos extremistas, algo que não queremos”, diz Fellay, para quem os assuntos de fé são as questões mais importantes. Uma dessas questões de fé envolve quem deve ter a palavra em assuntos religiosos na Suíça: a Igreja, com seus belos templos e torres de sino, ou as mesquitas, com seus minaretes? Por isso Fellay alimentou o recente debate na Suíça a respeito da proibição dos minaretes. Na verdade, ele apreciou o debate, porque, como ele diz, o Islã é “agressivo em geral”.
Por outro lado, os discípulos da SSPX são calmos e compreensivos quando se trata dos discursos falsos e cheios de ódio que vêm de suas próprias fileiras. Nenhum dos colegas de Williamson se incomoda quando o bispo escreve com desprezo sobre as mulheres em seu blog, as chamando de “menos que zeros” e insistindo que estão “sob o poder do homem”. “Ele deve ser seu mestre”, ele escreve.
Os irmãos católicos em Stuttgart mostraram seu lado agressivo contra os gays ao promover um protesto contra a Parada da Christopher Street da cidade, que celebra o orgulho gay. Os padres ergueram cartazes dizendo “Salvem as Crianças da Perversão” e um deles condenava o evento como “poluição moral”. Ele se negou a mencionar a negação do Holocausto por seu colega da SSPX.

‘Febre no corpo da Igreja’
Para evitar mal-entendidos, os ultraconservadores até mesmo contrataram seu próprio especialista em relações públicas, Rudolph Lobmeyr, que já trabalhou para a emissora pública nacional austríaca “ORF”, em Viena, para explicar os benefícios da campanha da Sociedade ao público. “Uma fé mais frágil não é mais desejada”, ele diz. Ele insiste que as pessoas estão à procura de uma liderança decidida e querem poder dividir o mundo em bem e mal –assim como a SSPX faz quando investe contra gays, mulheres e jornalistas. “É um reflexo do desejo de muitas pessoas e é o segredo para o aumento da popularidade da Sociedade”, diz Lobmeyr.
“Nós somos apenas o termômetro indicando a febre no corpo da Igreja”, diz o bispo Fellay, líder da SSPX. A sociedade alega ter 600 mil seguidores. Ela mantém seis seminários, 14 distritos, 161 conventos e 725 centros populares, além de ser ativa em 1.000 locais em todo o mundo. A Sociedade está crescendo nos Estados Unidos, na Ásia e na África.
Foi esse potencial que o papa tinha em mente quando suspendeu as excomunhões dos quatro bispos da SSPX no ano passado. Bento 16 é um tradicionalista e, como os irmãos da Sociedade, adora missas em latim, compartilha suas ideias a respeito da moralidade e às vezes se desespera diante da sociedade moderna, que pode transformar uma frase de Williamson em um programa de televisão sueco em um escândalo global.
Fellay relata triunfantemente que o próprio papa – em acordo com as exigências da SSPX – aparentemente não mais coloca a hóstia da comunhão nas mãos dos fieis, mas diretamente em suas bocas. Para Fellay, isso representa outro sucesso na batalha contra a Igreja moderna.

Congregação crescente
É meio-dia na igreja de mais de 700 anos de Saint-Nicolas-du-Chardonnet em Paris, que é ocupada pela SSPX desde 1977. Todas as missas aqui são realizadas segundo o ritual latino, acompanhadas por cantos gregorianos, com o padre de costas para a congregação –práticas-padrão por séculos, até que o Vaticano 2º destruiu as tradições. Um número notavelmente maior de jovens está ajoelhado no piso frio de pedra e o ar está tomado pelo cheiro de incenso.
A divisão de Paris da SSPX notou um aumento acentuado da frequência à igreja desde o início do ano passado. Os padres tiveram que aumentar a oferta semanal de hóstias em 300, para que haja o suficiente para colocar na língua dos fieis. Talvez o escândalo do Holocausto tenha sido o responsável pelo aumento da frequência, ou talvez o aumento do número de fieis tenha sido encorajado pela suspensão pelo papa da excomunhão dos quatro bispos –ou talvez ambos os fatores sejam responsáveis.
A França é a fortaleza da Sociedade. Ela agora conta com 100 mil seguidores no país e 4 mil crianças frequentam suas escolas. Os tradicionalistas veem o movimento como o futuro do catolicismo.

Ideias estranhas
Niklaus Pfluger acaba de voltar da missa em Saint-Nicolas-du-Chardonnet. Na hierarquia da ordem, o padre suíço fica atrás apenas do bispo Fellay. Quando Williamson chocou a Igreja há um ano ao negar o Holocausto em uma entrevista, Fellay imediatamente enviou Pfluger à Argentina, onde Williamson estava na época, para impedir o bispo renegado de falar à mídia.
Pfluger ainda está confuso a respeito dos motivos de seu companheiro da SSPX. Sentado no Bistrot Saint Honoré em Paris, diante de um prato de mexilhões e uma taça de Ladoix 1er Cru 2002, ele tenta conceber uma explicação. Williamson, ele diz, por acaso é um provocador de primeira e sempre teve ideias estranhas. Logo após o 11 de Setembro de 2001, ele alegou que o governo americano tinha encenado os ataques ao World Trade Center em Nova York. Ele também alega que não foi o Japão, mas a Casa Branca que ordenou o ataque a Pearl Harbor, em um esforço para atrair os americanos à Segunda Guerra Mundial.
Durante um sermão na província canadense de Quebec, em abril de 1989, Williamson disse que os judeus inventaram Auschwitz como forma de obter certos benefícios. Uma pessoa o processou criminalmente e Williamson tem feito o possível para evitar Quebec desde então.
“Ele é na verdade um artista, não um acadêmico”, diz Pfluger. “Ele coloca uma ideia na cabeça, fica fixado nela e exagera. Mas ele não estuda os documentos.” Ele chama Williamson de uma “bomba relógio ativa” para sua organização, mas também aponta que o bispo tem muitos méritos, de forma que não deve ser “exilado na Lua”.

Comportamento imprevisível
Pfluger também está preocupado com a saúde do bispo de 69 anos, que aparentemente sofre de mal de Parkinson há vários anos. Isso poderia explicar seu comportamento imprevisível? Pfluger e seus irmãos da Sociedade frequentemente se irritam com os e-mails que recebem regularmente de Londres. Em um e-mail recente, Williamson escreveu que “1,3 milhão de pessoas deportadas” não foram mortas com gás nos campos de concentração de Treblinka, Majdanek, Belzec e Sobibor, mas foram simplesmente transportadas para a parte da União Soviética que estava ocupada pela Alemanha. Rumores ridículos sobre o contrário devem ser ignorados, acrescentou Williamson.
A sociedade também está ciente dos contatos de Williamson com Ingrid Rimland, a esposa de Ernst Zündel, que está atualmente em uma prisão alemã após ter sido condenado por incitação à negação do Holocausto. Rimland continua disseminando as teorias de seu marido.
O bispo também mantém contato por e-mail com o negador suíço do Holocausto, Jürgen Graf, que está sendo procurado pelas autoridades alemãs, francesas e suíças. Graf acredita que a ideia dos campos de extermínio foi uma invenção dos judeus. Ele planeja publicar um novo livro sobre o campo de extermínio de Sobibor, onde cerca de 250 mil judeus foram mortos nas câmaras de gás, intitulado “Sobibor: Mito e Realidade”. Graf diz que espera que Williamson escreva a introdução para seu livro.
Os padres prestaram atenção em especial quando Williamson, no início do ano, descreveu sua permanência em Londres como uma “licença agradável apesar de não planejada”. Soou como se estivesse cheio das saias das tenistas em Wimbledon e estivesse pronto para começar a falar em público de novo.

Tradução: George El Khouri Andolfato
[Der Spiegel, 02/02/2010]

Igrejas promovem vale-tudo para conectar-se com os jovens

R. M. Schneiderman, em Memphis (EUA)
Em uma sala de ensaio do teatro da rua Beale, o pastor John Renken, 42, recentemente puxou uma oração com um grupo de jovens: “Agradecemos por esta noite. Que seja uma representação do Senhor”.
Uma hora depois, um membro de seu rebanho que havia baixado a cabeça em sinal de respeito estava dando uma chuva de socos em um oponente. As orientações de Renken não eram exatamente delicadas.
Golpeie com força!”, gritava ao lado de um ringue de um evento de artes marciais chamado Gaiola de Ataques. “Termine a luta! Vai na cabeça! Na cabeça!”
O jovem era membro de uma equipe de luta do Ministério Extremo, uma pequena igreja próxima a Nashville que serve também de academia de artes marciais. Renken, que fundou a igreja e a academia também é técnico da equipe. O lema da escola é “Onde os pés, os pulsos e a fé colidem”.
O ministério de Renken faz parte de uma parcela pequena mas crescente de igrejas evangélicas que adotam o vale-tudo -um esporte com fama de violência e sangue que combina vários estilos de luta- para alcançar e converter jovens, cujas participação na igreja tem sido persistentemente baixa. Os eventos de vale tudo atraíram milhões de telespectadores; um deles foi o maior evento pay-per-view de 2009.
O recrutamento nessas igrejas, predominantemente brancas, envolve reuniões para assistir lutas na televisão e palestras que usam os combates para explicar como Cristo lutou pelo que acreditava. Outros ministros vão mais longe, sediando ou participando de eventos ao vivo.
O objetivo, segundo esses pastores, é injetar masculinidade em seus ministérios - e na imagem de Jesus - na esperança de tornar o cristianismo mais atraente. “Amor e compaixão, concordamos com essas coisas também. Mas o que me fez encontrar Cristo foi que Jesus era um lutador”, disse Brandon Beals, 37, pastor da igreja Canyon Creek no subúrbio de Seattle.
O esforço faz parte de um programa mais amplo e mais antigo de alguns ministros que temem que suas igrejas tornaram-se femininas demais, promovendo a gentileza e a compaixão à custa da força e da responsabilidade.
“O homem deve ser o líder do lar. Criamos uma geração de menininhos”, disse Ryan Dobson, 39, pastor e fã do vale tudo que é filho de James C. Dobson, fundador do grupo evangélico proeminente “Foco na Família”.
Esses pastores dizem que o casamento da fé com o combate tem a intenção de promover os valores cristãos, citando versos como “trave a boa luta da fé”, Timóteo 6:12.
Muitos estimam que o número de igrejas que estão adotando as artes marciais está em torno de 700, de um total de 115.000 igrejas evangélicas brancas nos EUA. O esporte é considerado uma ferramenta legítima para alcançar os jovens pela Associação Nacional de Evangélicos, que representa mais de 45.000 igrejas.
Existem muitos jovens perturbados que cresceram sem pais e estão vagando sem esperança. Eles próprios também são péssimos pais, perdidos”, disse Paul Robie, 54, pastor da igreja comunitária de South Main em Dhackerer, Utah.

A luta como metáfora faz sentido para alguns jovens.
Estou lutando para fornecer uma qualidade de vida melhor para minha família e dar-lhe coisas que eu não tive quando era pequeno”, disse Mike Thompson, 32, ex-membro de gangue e estudante de Renken que até recentemente era desempregado e hoje luta com o apelido de “A Fúria”.
Quando aceitei Cristo em minha vida, compreendi que uma pessoa pode lutar pelo bem”, disse Thompson.
Igrejas evangélicas sem denominação têm uma longa história de usar a cultura popular -rock, skate e até ioga- para atingir novos seguidores. Ainda assim, mesmo entre as seitas mais experimentais, o vale tudo têm críticos.
Aquilo que você usa para atrair as pessoas para Cristo também será aquilo que você vai precisar para manter as pessoas”, disse Eugene Cho, 39, pastor da igreja Quest, uma congregação evangélica em Seattle. “Eu não vivo pelo Jesus que come carne vermelha, bebe cerveja e bate em outros homens.”
Robert Brady, 49, vice-presidente executivo de um grupo evangélico conservador concordou, dizendo que a mistura do vale tudo com o evangelismo “tira tão facilmente o verdadeiro foco da igreja que é o gospel”.
Há quase uma década, o vale tudo era considerado um esporte sangrento, sem regras ou regulamentos. Foi proibido em quase todos os Estados e criticado por políticos como o senador republicano do Arizona John McCain.
Nos últimos cinco anos, contudo, graças a um inteligente marketing do Ultimate Fighting Championship, a principal marca do esporte, o vale tudo se tornou comum. Hoje, é legal e regulamentado em 42 estados.
Seus defensores apontam para um estudo da Universidade Johns Hopkins mostrando que os participantes das lutas sofrem menos nocautes do que os lutadores de boxe.
No último ano e meio, uma sub-cultura evoluiu, com os cristãos das artes marciais vestindo marcas como “Jesus didn’t tap” e redes sociais cristãs como a anointedfighter.com.
Cerca de 100 homens, muitos tatuados e de cabeça raspada, participam das festas de lutas em Canyon Creek, assistindo combates em quatro grandes televisões da igreja. Há vendedores de cachorro-quente e de camisetas com a frase “Predestinado a Lutar”.
Metade dos que estão ali não são membros da igreja, mas vieram por meio de amigos, disse Beals, conhecido como o pastor da luta.
Os homens de 18 a 34 anos estão ausentes das igrejas, disseram os pastores, porque as igrejas se tornaram mais cômodas para mulheres e crianças.
Crescemos em igreja de tons pastéis. Os homens caíam no sono”, disse Tom Skiles, 37, pastor da igreja Spirit of St. Louis em Montana.
Ao se focar na dureza de Cristo, os líderes evangélicos estão voltando a um movimento similar do início do século passado, dizem os historiadores, quando as mulheres começaram a entrar para força de trabalho. Os proponentes desse cristianismo muscular defendiam o levantamento de peso e outros esportes como forma de expressarem sua masculinidade.
Toda essa geração foi criada com a idéia que estão em uma guerra pelo coração e alma dos EUA”, disse Stephen Prothero, professor de religião da diversidade Boston.
Paul Burress, capelão e técnico de luta da igreja Batista Victory, em Rochester, disse que o vale tudo dera a seus alunos uma chance de trabalhar de corpo, alma e espírito. “Ganhando ou perdendo, representamos Jesus”, disse ele. “E vencemos na maior parte das vezes.”
Contudo, na noite fria de Memphis, Renken, o pastor dos Ministérios Extremos, assistiu a dois de seus três lutadores apanhando, um quebrando o tornozelo.
O outro, Jesse Johnson, 20, potencial convertido, foi dominado pelo pescoço e decidiu não voltar para casa com os outros membros da igreja. Ele ficou em Memphis bebendo e estejando com amigos ao longo da rua Beale, ponto agitado e cheio de neons da cidade.

Tradução: Deborah Weinberg
[The New York Times, 03/02/2010]