União Européia completa 50 anos e se esforça para ser mais que uma zona de livre mercado

BRUXELAS, 24 Mar 2007 (AFP) - Mesmo contando entre seus maiores êxitos a derrubada de barreiras comerciais e o estabelecimento de uma moeda comum entre seus membros, a União Européia vem se esforçando para rebater as críticas de que seria apenas uma "zona de livre comércio sem alma".

Reuters
Chirac e Angela Merkel, em Berlim, para comemoração dos 50 anos da UE
Funcionando no princípio como um grupo de produtores de aço e carvão, a UE passou por sucessivos tratados que aproximaram as economias européias e as lançaram num ciclo de prosperidade sem precedentes.

Para celebrar o 50º aniversário do Tratado de Roma, uma reunião em Berlim congregará os líderes europeus neste domingo

O poder econômico do bloco europeu é teoricamente gigantesco. As mais importantes decisões em matéria de comércio internacional e questões anti-truste são atualmente discutidas na UE.


Mas o ponto mais alto das conquistas econômicas alcançadas pela União Européia é o Euro: a moeda comum já foi introduzida em 13 dos 27 países membros. E, à exceção da Grã-Bretanha e da Dinamarca, que optaram por não aderir, todos os outros devem passar para o Euro se quiserem permanecer no bloco no futuro.

"A união monetária e econômica e a criação da zona do Euro - uma economia única com uma moeda única em nível continental - foi, e ainda é, um esforço formidável", disse o diretor do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet.

"Contrariando todos os céticos - acadêmicos, jornalistas e outros observadores - que previam um grande fracasso, a União Européia tem sido um grande sucesso", acrescentou.

Desde que a Eslovênia se tornou o 13º membro a adotar a moeda única, no dia 1º de janeiro, o Euro agora circula nos bolsos de 317 milhões de pessoas, pouco mais que a população dos Estados Unidos.

E a nova moeda vem gradualmente ganhando força e credibilidade junto aos investidores e parlamentares.

Após cair bruscamente para irrisório 0.82 dólar em outubro de 2000, o Euro se valorizou aos poucos, alcançando e passando de 1,30 dólar. Nesse meio tempo, bancos centrais vêm tranformando suas reservas para a moeda única européia, trazendo perdas para o dólar.

Na ocasião da assinatura do Tratado de Maastrich, que lançou as bases para a criação do Euro em 1993, o então presidente da Comissão Européia, Jacques Delors, alertou que "sem uma iniciativa política, a Europa corre o risco de se tornar uma zona de livre comércio sem alma".

Uma constituição européia deveria servir como resposta a esse tipo de crítica, conferindo um perfil político definido ao bloco, com um presidente à frente das decisões e aumentando seu poder em áreas cruciais como a política externa.

Entretanto, o destino da constituição única tornou-se incerto depois que os eleitores franceses e holandeses rejeitaram a proposta em seus respectivos referendos nacionais em maio e junho de 2005, lançando a UE na pior crise de sua história.

Na França, a campanha contra a constituição afirmava na época que a proposta de uma legislação unificada para o bloco seria uma armadilha que levaria a uma liberalização ainda maior do mercado que poderia implodir o modelo social do país.

Desde então, o Euro e a constituição européia têm sofrido duras críticas na campanha à presidência da França, vindas tanto da esquerda quanto da direita, com candidatos alegando que o Banco Central, com sede em Frankfurt, não dá a devida atenção à questões como emprego e crescimento.

Apesar do sucesso na construção de um enorme mercado europeu, por onde circulam produtos, mão-de-obra e capital, algumas falhas permanecem, entre os temores de que o protecionismo na Europa resurgiria com força no último ano, uma vez que França, Itália, Polônia e Espanha vêm fazendo de tudo para impedir eventuais invasões de empresas de outros países membros.

Enquanto isso, muitas das nações "pioneiras" no bloco vêm suprimindo gradual e relutantemente as restrições sobre trabalhadores oriundos dos 12 países mais pobres, nações que faziam parte da cortina de ferro comunista e que se uniram à UE em maio de 2004.

Cinqüenta anos após sua criação, o mercado único da União Européia ainda sofre o peso de algumas barreiras e seus líderes estão preocupados, pois elas não poderão ser derrubadas sem que haja uma perda de apoio por parte da opinião pública.

"Aqui na Comissão Européia estamos particularmente receosos a respeito da aceitação política de uma abertura ainda maior do mercado", declarou Joaquin Almunia, Comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da UE.

"A menos que um esforço seja feito no sentido de melhorar a aceitação do público em relação à abertura e liberalização do mercado, será bem difícil colocar em prática essas reformas", concluiu o Comissário.


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