Para historiador, Iluminismo define Europa

Robert Darnton, da Universidade Princeton, diz que uso crítico da razão molda a identidade européia

FÁBIO CHIOSSI, DA REDAÇÃO

Observando que não existem fronteiras geográficas que possam determinar o que é a Europa, o historiador americano Robert Darnton afirma que a identidade européia é dada pelo legado de três "movimentos pan-europeus".
São eles o Império Romano, o cristianismo e o Iluminismo.
"O Império Romano espalhou uma regra política coletiva em todo o continente", diz Darnton, 67. O direito romano é a base da instituições jurídicas da Europa. O cristianismo propiciou "um componente cultural e religioso", afirma o professor de história européia da Universidade Princeton.
Quanto ao Iluminismo, especialidade de Darnton e tema de várias de suas obras, como "Os Dentes Falsos de George Washington" (Companhia das Letras), ele acha "crucial". Movimento filosófico dos séculos 17 e 18, caracterizou-se, grosso modo, pela valorização do uso da razão pelo homem na compreensão e transformação do mundo e de si mesmo. Politicamente, o movimento inspirou os artífices da Revolução Francesa (1789) e da Revolução Americana (1775-1783).
"A identidade da Europa está constantemente sendo questionada, constantemente evoluindo; e agora, 50 anos depois do Tratado de Roma, o ingrediente principal dessa identidade é o Iluminismo."
O historiador acredita que a essência do Iluminismo, o uso crítico da razão, ajudará na definição da identidade da Europa nos processos de enfrentamento de diversos problemas.
A definição dessa identidade passa pela necessidade de resgatar o espírito iluminista.
Como exemplo da força do espírito iluminista na definição dessa identidade, o professor fala da intolerância religiosa. Assim como os outros dois componentes centrais da identidade européia, o cristianismo se transformou ao longo do tempo. Mas o que o preocupa é parte dessa herança cultural se manifestar na intolerância.
"Eu ainda vejo um perigo na identidade cristã da Europa, na subjugação dos não-cristãos".
Lembrando que a intolerância religiosa é, de certa forma, explorada por partidos de direita em vários países europeus, Darnton diz que a volta à herança iluminista é também uma ferramenta para lidar com a intolerância, não por meio da extração de uma fórmula simples a partir de preceitos do passado, mas entendendo "como um compromisso profundo com a tolerância é algo que fala a eles [os europeus]".
"Minha esperança", diz Darnton, arriscando um palpite, "é que os europeus mergulhem na sua cultura para se tornarem mais europeus".

[Folha de São Paulo, 25/03/2007]
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