A eterna 'guerra santa'

O sacerdote ortodoxo italiano Dag Tessore, que analisou os discursos de Bento XVI, volta à carga com livro em que compara a Jihad Islâmica às Cruzadas
Antonio Gonçalves Filho

Dag Tessore é um sacerdote da Igreja Ortodoxa. Quem quiser conhecer melhor o papa, que visita o Brasil no próximo mês, deve ler seu livro Bento XVI - Questões de Fé, Ética e Pensamento na Obra de Joseph Ratzinger (Editora Claridade, 200 págs., R$ 32), que analisa os discursos do sumo pontífice sobre temas como aborto, feminismo, clonagem, celibato dos padres e terrorismo. Mas, quem quiser conhecer Tessore, o caminho mais curto é o livro A Mística da Guerra (200 págs., R$ 38), que a editora Nova Alexandria coloca nas livrarias no dia 16. Trata-se de um livro polêmico e politicamente incorreto (especialmente numa época como a da Páscoa). Nele, Tessore defende a “guerra santa” contra infiéis - tanto a Jihad Islâmica como a nova cruzada cristã contra os excessos do capitalismo liberal.

Em entrevista exclusiva ao Estado, da Grécia, Dag Tessore falou que sua intenção, ao escrever A Mística da Guerra, não foi a de colocar Osama bin Laden no mesmo barco de São Bernardo, um inspirador das Cruzadas, mas o de lançar nova luz sobre a “guerra santa”. O religioso ortodoxo, no entanto, recusa-se a julgar e condenar. Diz que não é sua tarefa como historiador e coloca-se do lado de santos e teólogos que justificaram a guerra contra “ímpios”, argumentando que a alma é mais importante que o corpo. Numa sociedade laica e hedonista como a ocidental, obcecada pelo último, a morte do corpo, segundo o autor, significa a “morte de tudo”, o que impede o homem contemporâneo de entender o significado do sacrifício de mártires.

Hoje, diz ele, estamos acostumados a ver a Igreja como promotora da paz e da não-violência, mas nem sempre foi assim. Tessore lembra que durante 1.500 anos a idéia de matar por Deus foi aprovada e praticada pela Igreja com a sutentação teológica de santos como Agostinho e Jerônimo, que traduziu parte das Sagradas Escrituras para o latim. Prescrever a morte para pagãos não é, portanto, prática comum apenas entre fundamentalistas islâmicos.

Tessore joga mais lenha na fogueira ao identificar o advento de uma religião no Ocidente, “fundada sobre dogmas da democracia laica, do progresso econômico e da permissividade”. O “eixo do mal” não seria bem o que Bush supõe. O sacerdote autor de A Mística Religiosa defende que islamismo e cristianismo estão irmanados em uma “comum tensão de guerra interior e de luta exterior contra um inimigo comum: o indiferentismo religioso, o consumismo, a secularização e a depreciação dos valores espirituais e humanos.

[O Estado de São Paulo, 08/04/2007]
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