Os argentinos voltam aos anos de chumbo

O processo do general Jorge Olivera Rovere foi aberto na terça-feira (10 de fevereiro) em Buenos Aires. É considerado o mais importante desde o que se deu em 1985 contra os chefes militares da ditadura argentina, comparado, na época, ao de Nuremberg contra os nazistas.

Com 83 anos, aparentemente surdo aos sussurros que circulam na sala do tribunal o chamando de assassino, Jorge Olivera Rovere tem jeito de avô. Contudo, ele é acusado pelo sequestro e desaparecimento de mais de 100 pessoas. O escritor argentino Haroldo Conti, sequestrado no dia 5 de maio de 1976, figura entre suas vítimas.
Também atribuem-se ao general os assassinatos de quatro uruguaios dentro da Operação Condor, o acordo concluído nos anos 1970 entre os ditadores da América do Sul para eliminar conjuntamente os oponentes. Os cadáveres do senador Zelmar Michelini e do deputado Hector Gutiérrez Ruiz, que estavam refugiados na Argentina, foram encontrados em um carro abandonado, no subúrbio de Buenos Aires, no dia 21 de maio de 1976, junto com os de dois outros uruguaios.
Olivera Rovere era o braço direito do general Guillermo Suárez Mason, falecido em 2005, que foi o comandante chefe do Primeiro Corpo do Exército, uma das forças de repressão mais perigosas da ditadura (1976-1983). Ele foi o responsável pelos principais centros de detenção ilegais e de torturas que funcionavam em plena Buenos Aires: Automotores Orletti, El Banco e El Olimpo, lembrado pelo cineasta Marco Bechis no filme "Garage Olimpo" (1999).
"Creio que ele será condenado à pena máxima, pois as provas contra ele são irrefutáveis", avalia Eduardo Duhalde, secretário dos direitos humanos no Ministério da Justiça. O general Olivera Rovere havia sido condenado durante o processo histórico de 1985, mas foi beneficiado com a anistia concedida em 1990 pelo presidente Carlos Menem. Com a reabertura do processo impulsionada pelo presidente Néstor Kirchner em 2003, e a anulação das leis da anistia em 2005, Olivera Rovere foi detido novamente. Após três anos de prisão, ele foi solto em 2007 enquanto esperava o julgamento.

"O rosto do assassino"
Cinco outros militares serão julgados durante o mesmo processo, que poderá durar mais de seis meses em razão do grande número de testemunhas citadas que deverão comparecer.
O primeiro dia de audiência foi marcado por um escândalo: os juízes impediram a entrada de cinegrafistas e fotógrafos da imprensa, causando a fúria das associações de defesa dos direitos humanos. "Queremos ver o rosto do assassino", gritavam os parentes das vítimas. A Corte Suprema havia, no entanto, recomendado que o processo fosse televisionado e fotografado para garantir a transparência.

Christine Legrand - Tradução: Lana Lim

[Le Monde, 13/02/2009]
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