O "talibã" hindu que quer estragar o dia de São Valentim

A questão começou com violência e depois passou para um humor maroto. Mas estaria o dia de São Valentim a salvo na Índia, especificamente onde liberais e puritanos se enfrentam em uma controvérsia tão tempestuosa quanto engraçada?

Será que os "talibãs" hindus, como são chamados na Índia, colocarão em prática suas ameaças de atrapalhar a festa dos apaixonados que eles acusam de ser um mimetismo vulgar do hedonismo ocidental?
O lado sombrio dessa história que incendeia a mídia na Índia há quinze dias se chama Pramod Muthalik.
Com 45 anos de idade, esse homem calvo de bigode austero, com um lenço amarelo em volta do pescoço, é um chefe autoritário vindo do movimento fundamentalista hindu. O grupo que o fundou - o Sri Ram Sena (Exército do Deus Ram) - foi instituído como polícia dos bons costumes, perseguindo a imoralidade em seu feudo de Karnataka, estado do sudoeste da Índia.
Essa milícia de centenas de pessoas age sobretudo na cidade costeira de Mangalore. No dia 24 de janeiro, ela irrompeu em um bar da cidade, espancando os jovens que bebiam ou dançavam. "Prostitutas", berraram os capangas, batendo nas garotas. "Somos os guardiões da cultura indiana", justificou Pramod Muthalik, que foi detido por essas ações e, em seguida, liberado sob fiança.
Antes de lançar sua campanha contra a decadente "cultura de bar", o agitador de Mangalore havia lutado contra a mistura entre hindus e muçulmanos. No dia 29 de dezembro de 2008, seus partidários interromperam um desfile de moda pelo motivo escandaloso de que "rapazes muçulmanos tinham prazer em olhar a vulgar exposição dos corpos das moças hindus".
Enojado por tantas ofensas infligidas à "tradição indiana", Pramod Muthalik resolveu implicar com o dia de São Valentim. Ele anunciou que seus pelotões do Exército do Deus Ram esquadrinhariam bares e restaurantes na noite do dia 14 de fevereiro em busca de casais não casados. "Nós os conduziremos ao templo mais próximo e os casaremos", avisou Pramod Muthalik.
No campo dos liberais, a estupefação logo dá espaço à raiva. A ministra do Desenvolvimento da Mulher e da Criança, Renuka Chowdhury, denuncia "uma tentativa de talibanizar a Índia". Os intelectuais de esquerda criticam a ameaça "fascista" que encarna Pramod Muthalik e, mais a galáxia de facções nacionalistas hindus adeptas das agressões contra os "mal-pensantes", como o famoso artista Maqbol Fida Hussein, exilado por suas obras supostamente obscenas.

Calcinhas cor-de-rosa
E depois entra o humor. É o lado sorridente de uma história que não se resume mais às caretas hostis de Pramod Muthalik. Atarantadas pelo ataque ao bar de Mangalore, quatro jovens mulheres de Nova Délhi organizaram uma réplica por meio do site de relacionamentos Facebook. Ali elas criaram um grupo de resistência, batizado de "Consórcio de mulheres leves, modernas e amantes de bares". O sucesso foi imediato. Mais de 20 mil internautas aderiram a essa iniciativa. Em seu manifesto, as mulheres do "Consórcio" convocam a todas que comemorem o dia de São Valentim indo a "um bar, onde quer que seja". Acima de tudo, elas pedem ao público que enviem a Pramod Muthalik... roupas de baixo cor-de-rosa.
Pacotes com lingeries frívolas não demoraram a chegar nos centros de coleta do "Consórcio". Pramod Muthalik anunciou que ele responderá enviando "saris rosa", pois o sari é um "símbolo da cultura indiana". Suas críticas argumentam de forma maliciosa que os saris indianos revelam mais do que a calça-e-camiseta ocidentais. A polêmica se acalmou. Até quando?

Frédéric Bobin - Tradução: Lana Lim

[Le Monde, 14/02/2009]
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