Revisitando My Lai, o maior massacre de civis ocorrido durante a Guerra do Vietnã

Georgina Higueras

"Ainda ouço com nitidez os gritos dos soldados que irromperam em minha casa naquela manhã. 'Tudi maus, tudi maus!' Não sei o que isso queria dizer. Nem sei se era inglês ou uma imitação de vietnamita, mas era o que gritavam enquanto apontavam para nós e faziam sinais para sairmos. 'Tudi maus, tudi maus!' Minha mãe me disse para fugir e me esconder. Minhas irmãs corriam atrás de mim seguidas pela minha mãe com meus dois irmãos pequenos; o menor, tinha dois anos. Quando íamos entrar no abrigo, nos metralharam. Seus corpos caíram sobre mim.

Estava aterrorizado e ferido. Não sabia se os corpos que se empilhavam sobre minhas costas estavam vivos ou mortos. Eu estava vivo e consciente. Não sei quanto tempo me mantive imóvel e calado. Desmaiei e acordei à tarde, quando os habitantes de outro povoado chegaram para ver o que havia acontecido e começaram a recolher os cadáveres."

Cong Pham Thanh tinha então onze anos, e ainda hoje vive entre os fantasmas dessa manhã aterrorizante de 16 de março de 1968. Ele é diretor do museu que foi construído no local da tragédia para que "ninguém volte a repetir uma barbárie semelhante". Ele diz que, todavia, os fantasmas só atormentam seus sonhos quando ele fala sobre o que aconteceu, quando se lembra e escuta eles gritarem 'tudi maus, tudi maus!' Então, na quietude da noite, aqueles três soldados - dois negros e um branco -retornam com seus vozeirões e o despertam.

No Ocidente o episódio é conhecido como o massacre de My Lai, e no Vietnã, como Son My, o nome do povoado a que pertenciam as quatro aldeias, entre elas My Lai, que serviram de cenário para a orgia matinal de sangue, vingança, ódio e violência celebrada pelos homens da Companhia Charlie, 1º Batalhão da 20ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos, dirigida pelo capitão Ernest Medina. O tenente no comando da divisão que esteve mais envolvida na matança era William Calley. No total, 504 pessoas (segundo os vietnamitas), em sua grande maioria idosos, mulheres e crianças (cerca de 170), foram assassinadas a sangue frio em apenas quatro horas. Ron Haeberle, fotógrafo militar que acompanhava o pelotão, encarregou-se de imortalizar o horror.

Sobreviveram apenas umas vinte pessoas. As casas foram incendiadas, e as quatro aldeias, reduzidas a cinzas. Quando acabou a guerra, em 1975, alguns voltaram para recomeçar a vida na terra de seus ancestrais, situada a 13 quilômetros de Quang Ngai, capital da província de mesmo nome, no centro do país do sudeste asiático. Seis deles permanecem na comunidade rebatizada pela República Socialista do Vietnã como Tinh Khe.

Casado e com três filhos, Cong Pham diz que não sente mais raiva, apesar de ainda se perguntar: que dispositivo imoral e inumano acionou os soldados para agirem de forma tão selvagem contra crianças, bebês, mulheres e idosos? Os camponeses que o tiraram debaixo dos corpos de seus familiares o levaram a uma pequena clínica próxima e cuidaram dele durante os mais de três meses que suas feridas levaram para sarar. A raiva o consumia por dentro. "Eu queria matar os invasores porque eles tinham vindo me matar."

Aos 15 anos ele já havia se juntado aos Vietcongs, como os norte-americanos chamavam a guerrilha comunista com base no sul do país. O inimigo voltou a feri-lo em 1974. Seu pai, que na manhã da matança não estava em casa, enterrou a mulher e os filhos e o localizou somente semanas depois, quando ele já havia se juntado ao exército de libertação. "Os americanos mataram meu pai dois anos depois", disse, engolindo a amargura da solidão em que a guerra o lançou.

Obcecado com a expansão do comunismo na Ásia, e depois que a guerra da Coréia (1950-1953) terminou num empate, os Estados Unidos foram deslizando para o vespeiro do Vietnã até enredarem-se em sua mais vergonhosa aventura militar. Começaram no início dos anos 50 com o envio de militares e armas para apoiar as tropas francesas que lutavam para manter a colônia. Paris se retirou depois da derrota de Dien Bien Phu em 1954, e Washington foi ocupando o vazio de poder deixado pelos franceses, até que em 1965 aconteceu o primeiro desembarque de tropas de combate nas praias de Danang.

My Lai fica a cerca de 140 quilômetros ao sul dessa idílica praia de areias finas como o talco. Se em 1963, os Estados Unidos tinham 23 mil militares no Vietnã, três anos depois o número do efetivo havia crescido para 184 mil, e em 1968, no ano do massacre, tinham mais de meio milhão de soldados no país, que tem uma área parecida com a da Itália (326.797 quilômetros quadrados).

A única sobrevivente que voltou e reconstruiu sua antiga casa foi Ha Thi Quy, que hoje tem 83 anos. Apesar do trauma sofrido, as rugas profundas que sulcam seu rosto não conseguiram apagar um certo ar de inocência. Ela preparava o café da manhã quando sentiu os helicópteros se aproximarem. O marido e o filho mais velho fugiram imediatamente, mas foram vistos e feridos por balas vindas do alto. "Eram muitos soldados, aproximaram-se da casa atirando nas galinhas e os patos. Matavam tudo o que viam. Sentimos um medo atroz. Eles nunca haviam se comportado assim. Vinham com freqüência para o povoado. Pediam água do poço e nos davam comida em troca. Não tínhamos medo deles, mas naquela manhã eles eram outros. Na casa, estávamos minha mãe, minha filha de 16 anos, meu filho de seis e eu, que estava grávida. Apontaram suas armas para nós e pediram que saíssemos e fôssemos até o açude. A uma vizinha bem mais velha, que não conseguia se mover de tanto medo, mataram ali mesmo. Havia muita gente no açude. Empurraram-nos para dentro dele a coronhadas. Juntávamos as mãos e implorávamos para que não nos matassem, mas eles começaram a disparar", contou, com a voz trêmula e gesticulando com as mãos.

Ha Thi sentiu como se as balas lhe mordessem nas costas e na perna, viu como elas arrancaram metade do rosto de sua filha, e então desmaiou. "O frio me devolveu a consciência", relata. "Meu filho pequeno jazia a meu lado. Vi umas crianças procurando suas mães e pedi que elas me ajudassem a sair daquela confusão de cadáveres. Não conseguia andar. Arrastei-me para chegar à minha casa e beber água porque estava com uma sede terrível. No caminho encontrei os corpos nus de muitas jovens. Eles as haviam violado e assassinado. Eu tinha a intenção de cobri-las quando eles chegaram com o helicóptero e aterrisaram".

Depois de safar-se da morte nessa indescritível carnificina, Ha Thi pensou que eles vinham novamente para matá-la. Tratou de arrastar-se o mais rápido que pôde e de se esconder, mas dois soldados a carregaram, em vôo, por debaixo dos braços, colocaram-na no helicóptero e levaram-na a um hospital. O médico retirou várias balas de sua perna, mas, para tirar a que estava nas costas, precisava operá-la, o que não fez para não prejudicar sua gravidez. A bala continua incrustada em seu corpo. Ela não se importa, porque seu filho nasceu meses depois sem problemas.

Ela deu a luz no acampamento de Tra Khuc, um dos inumeráveis campos onde o exército norte-americano mantinha escondidos os camponeses das áreas consideradas zonas de fogo, que eram alvo militar dos bombardeios norte-americanos e sobre as quais eles disparavam contra tudo o que se movia, porque estavam supostamente "infectadas" com vietcongs. Os helicópteros lançavam panfletos em que advertiam os habitantes para abandonarem suas terras se não quisessem ser bombardeados. A maioria obedecia. Cidades e aldeias ficaram vazias e milhões de sul-vietnamitas foram forçados a se instalar em acampamentos, nos quais viveram até o fim da guerra.

Quarenta anos depois de My Lai, Ha Thi atravessa um doce momento em sua vida. Há alguns anos, um compatriota do sul lhe deu o dinheiro para construir uma casa nova e maior. A antiga - um cômodo pequeno separado por um pátio da nova - agora faz as vezes de depósito de grãos. Ao lado deste, o filho menor construiu uma casa minúscula, e, em conseqüência, a casa de Ha Thi está sempre cheia de netos e até de bisnetos, já que o filho mais velho vive lá perto com a família. Além disso, há dois anos ela arrendou o terreno de 750 metros quadrados que o governo comunista lhe deu em 1977 para cultivar arroz. "Na colheita passada [são duas por ano] fiquei com dez sacas. É muito para nós [ela vive com um neto de 15 anos desde que ele tinha 16 meses]. Vou vender uma parte agora porque o preço está muito alto", disse com um sorriso satisfeito.

As fotos de Haeberle cobrem as paredes do museu de My Lai. Ao sair do exército, 14 meses depois, o fotógrafo vendeu as 18 imagens do horror para a revista Life por 25 mil dólares. Sua publicação em novembro de 1969 teve um efeito devastador para a imagem dos Estados Unidos tanto dentro quanto fora do país. O governo norte-vietnamita pagou 11 mil dólares à Life por onze fotos em 1971, conforme explica a guia do museu, Tran Thi Thanh Huong.

Até então, a matança havia sido encoberta pelo Pentágono, cujas autoridades relataram, no informe oficial, que haviam ocorrido combates na área que resultaram na morte de "128 membros do Vietcong". Ninguém levou em consideração a denúncia apresentada por Hugh Thompson, piloto do helicóptero de reconhecimento que viu como o capitão Medina chutou e matou uma jovem vietnamita ferida, estendida no chão.

Thompson aterrissou seu helicóptero OH23 e enfrentou seus companheiros que ainda estavam em My Lai, evitando que eles continuassem a matança. O piloto e dois atiradores que o acompanhavam recolheram e levaram ao hospital do exército nove vietnamitas feridos, incluindo cinco crianças. Para isso tiveram de realizar várias viagens.

No magnífico livro "A Guerra do Vietnã", Christian G. Appy recolheu, entre muitas vozes de testemunhas, a de Larry Colbrun, um dos atiradores: "sobrevoamos uma vala em que haviam sido mortos mais de cem vietnamitas. [Glenn] Andreotta [o outro atirador, morto em combate uma semana depois] percebeu movimentos, então Thompson aterrissou novamente. Andreotta foi diretamente até a vala. Teve que caminhar entre cadáveres que chegavam à altura de sua cintura para resgatar um menino pequeno. Eu fiquei de pé, em campo aberto. Glenn se aproximou e me entregou o menino, mas a vala estava tão cheia de cadáveres e de sangue que ele não conseguia sair. Estendi o meu rifle para ele e o ajudei a sair".

Pham Thi Thuan, que então tinha 30 anos, também não conseguia sair do açude. Levava em seus braços sua filha de três anos - "quase asfixiada pelo peito que eu havia colocado em sua boca para que ela se calasse". Nenhuma das duas estava ferida. Os corpos de seus vizinhos as haviam salvado. Pham Thi, cujo marido havia morrido dois anos antes em um ataque das tropas invasoras, recorda o caos e a gritaria que tomou conta da aldeia quando os helicópteros começaram a jogar potes de fumo e disparar. Pegou sua filha e se escondeu num buraco que havia escavado em sua cabana como esconderijo. Mas isso de pouco lhe serviu. Teve que obedecer as ordens para ir até o açude.

"Depois de jogar a todos nós lá dentro com coronhadas, houve uma primeira rajada de disparos. Quando as metralhadoras calaram, algumas pessoas se levantaram. Vi meu pai. Quis dizer para que ele ficasse deitado, para que não se movesse, mas tive medo e me calei. Vi ele cair na segunda rajada, e depois disso ainda teve uma terceira. Continuei ali dobrada, apertando minha filha, que temia estivesse afogada. Depois de algum tempo, quando não se ouvia mais nada, fui afastando os corpos para poder sair. Duas mulheres que também saíram da vala foram vistas por soldados que ainda estavam por lá. Eles as perseguiram e as mataram. Não vieram atrás de nós duas."

O exército norte-americano pensava que My Lai era a base de abastecimento do 48º Batalhão do Vietcong. No ano anterior haviam sofrido grandes baixas nos combates nessa região, e dois dias antes uma bomba havia matado um sargento e deixado um soldado cego. Na tarde de 15 de março, quando o capitão Medina reuniu as tropas que iam participar da operação de "aniquilação" de My Lai, primeiro fez um minuto de silêncio pelo companheiro morto.

Vingança, medo, inexperiência e a exigência por parte do comando militar de contar o número de inimigos mortos para valorizar as vitórias talvez tenham se somado à selvageria e humor negro reinante na Companhia Charlie, cujo tenente Calley havia sido visto naquela manhã em My Lai com as calças arriadas e apontando uma arma para a cabeça de uma jovem que tinha os joelhos à sua frente.

Os soldados entenderam que tinham ordens para ficarem calados, já que oficiais como o coronel Oran Henderson haviam sobrevoado a zona a baixa altitude e visto dos helicópteros os cadáveres dos civis. Pediram a Henderson nessa mesma tarde para investigar o que havia acontecido e ele se limitou a perguntar aos soldados se eles haviam participado de alguma matança indiscriminada. "Não, senhor", respondeu a maioria. Algum se atreveu a responder um "sem comentários". Dias depois, Henderson informou por escrito que uma centena de civis haviam sido mortos de forma "inadvertida".

O odor putrefato que se desprendia de My Lai chamou a atenção de um dos quase 500 jornalistas que reportavam ao mundo in loco sobre a guerra do Vietnã. Seymour Hersh, que trabalhava por conta própria, entrevistou vários soldados que chegaram a acusar o tenente Calley do assassinato de 109 civis. Hersh também entrevistou Calley e escreveu três artigos sobre My Lai que enviou à grande imprensa. Nenhum veículo se interessou.

Finalmente conseguiu vender os artigos à Dispatch, uma pequena agência que tinha 36 jornais como clientes. Em 13 de novembro, todos eles publicaram o primeiro artigo. O escândalo estava servido. Antes do final do mês as outras matérias e uma nova reportagem haviam sido publicadas. Além disso, a revista Life publicou as fotos de Haeberle.

Truong Thi Le, de 80 anos, ainda lamenta ter recomendado à sua filha de 17 anos que se escondesse entre os idosos reunidos próximo da torre de vigilância das quatro aldeias.

"Tive medo que quisessem estuprá-la. Pensei que estaria mais segura se passasse despercebida. Estávamos aterrorizados. Havíamos visto um soldado colocar um velho na boca do poço de minha casa e atirar nele para que caísse lá dentro. Nos escondemos debaixo da cozinha, mas os americanos nos viram e disseram para irmos à torre de vigilância. Eu agarrava meu filho de cinco anos. Quando se descuidaram, nos escondemos debaixo da palha de arroz, que estava amontoada lá perto porque havíamos acabado de fazer a colheita. Minha filha, entretanto, ficou entre o grupo, que foi todo morto por uma arma com um cano muito largo."

A estrutura da antiga casa de Truong Thi, que havia ficado viúva dois anos antes, foi reconstruída e faz parte, juntamente com o açude e os alicerces de outras dezenas de casas, do parque memorial que se juntou ao museu nos últimos anos. Muitos de seus atuais visitantes são norte-americanos. "Estou orgulhoso de representar os mortos", diz o diretor, que confessa que não gosta de ver os veteranos do exército inimigo.

Depois de 2.590.000 soldados dos EUA terem passado pelo Vietnã, o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, em 1999, levou muitos veteranos a visitarem em estado de paz o que eles viveram na guerra. Entre eles está o atual candidato republicano à presidência, John McCain, que voltou em 2000 para visitar a prisão de Hoa Lo. Nesse antigo cárcere construído pelos franceses ao final do século 19, e no qual foram presos muitos nacionalistas, estiveram encarcerados os 591 americanos capturados na guerra. A maioria era de pilotos, como McCain. A prisão, situada no centro de Hanoi, agora é um museu. Entre as fotos expostas, uma mostra o resgate de McCain por civis e soldados. Ele havia caído no lago Truc Bach, em 26 de outubro de 1967. Outra foto, colorida, mostra sua visita recente.

O primeiro trimestre de 1968 foi muito difícil para os Estados Unidos. Tão difícil que levou ao ponto de inversão da guerra. Para Washington, foram meses muito penosos. Primeiro, por causa do grande número de baixas; segundo, porque perdeu o apoio massivo de seus cidadãos à guerra, e terceiro, porque William Westmoreland, comandante em exercício das tropas americanas no Vietnã, disse em novembro de 1967, que o princípio do fim da guerra estava próximo. Não sabia que o inimigo havia começado a preparar a ofensiva Tet.

Em 31 de janeiro de 1968, durante a celebração do Tet - o ano novo lunar -, uma nova operação conjunta do exército norte-vietnamita e da Frente Nacional de Libertação (o Vietcong) atacou de surpresa mais de uma centena de cidades por todo o Vietnã do Sul. Foi uma ação perfeitamente sincronizada da qual participaram cerca de 80 mil homens. A ousadia dos atacantes foi tanta que penetraram no centro nevrálgico do inimigo: a embaixada dos Estados Unidos em Saigon. Sua fúria forçou combates corpo a corpo para defender o território conquistado, como na cidade de Hue, o que ocasionou numerosas baixas. Houve mais de 2 mil mortos entre os americanos e 4 mil do Exército do Sul, e os comunistas perderam quase 50 mil homens.

Hanói, contudo, não conseguiu o levante geral da população que esperava que sua ofensiva desencadeasse, e em poucos dias seus guerrilheiros foram expulsos novamente para a selva. A contra-ofensiva norte-americana desatou bombardeios massivos. Militarmente, o Tet foi uma batalha perdida pelos norte-vietnamitas, ainda que sua conseqüência final tenha sido a vitória da guerra por Hanói. A opinião pública norte-americana se opôs radicalmente à guerra mais cruel que haviam visto contra a população civil. Westmoreland não conseguiu os 200 mil soldados a mais que havia pedido para acabar a guerra e foi transferido para Washington. O presidente Lyndon Johnson não se candidatou à reeleição. Em maio, tiveram início as negociações de paz e o senador Robert Kennedy tornou-se o grande favorito para a candidatura democrata à presidência, com uma campanha contra a guerra, mas foi assassinado em 5 de junho de 1968 no hotel Ambassador de Los Angeles quando pronunciava o discurso de celebração de sua vitória nas cruciais primárias da Califórnia.

Enquanto isso, o segredo de My Lai atormentava tanto o soldado Ronald Ridenhour, que em março de 1969 ele escreveu uma carta ao presidente Richard Nixon, ao chefe do Pentágono, ao secretário de Estado, aos chefes do Estado Maior e a numerosos congressistas, em que delatou os acontecimentos. Apesar de não revelar o fato ao público, o Congresso iniciou uma investigação.

Pham Dat, de 80 anos, recorda que os helicópteros levaram o telhado de sua casa. A memória lhe falha às vezes, mas pouco a pouco dá alguma coesão ao relato de sua história. "Os soldados, que haviam matado minhas quatro vacas, entraram em casa disparando. Em um instante assassinaram os 11 membros de minha família: minha mulher e meu filho de sete meses que estava em seus braços, minha mãe, minha irmã, cunhadas e sobrinhos. Atiraram em meus pés. Meu filho de quatro anos e minhas duas filhas de sete e nove ficaram feridos nas pernas".

Quando os soldados se foram, Pham se escondeu com as três crianças atrás da porta e se cobriram com uma esteira. Depois entraram numa espécie de esconderijo subterrâneo que havia fora da casa. Pham diz que "pouco depois os soldados voltaram e usaram a palha de arroz para atear fogo em tudo".

A investigação do extermínio de My Lai promovida pelo Congresso teve como única conseqüência a detenção do tenente Calley, que foi acusado do assassinato premeditado de pelo menos 22 civis. O tribunal o condenou à prisão perpétua, mas logo sua pena foi reduzida, e por fim ele só cumpriu prisão domiciliar por três anos e meio.

Tradução: Eloise De Vylder

[El Pais, 09/05/2008]
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