"A liberação das mulheres também é a libertação dos homens"

Josyane Savigneau
Le Monde: Seu livro "Manuel de guérilla à l'usage des femmes ["Manual de guerrilha para mulheres"] não se contenta em fazer um diagnóstico, ele oferece conselhos.
Brunel: É por essa razão que ele se intitula manual. Faço essa constatação de um fenômeno de sociedade que me parece preocupante: na meia-idade, muitos homens acham normal deixar suas famílias para "refazer suas vidas". O que me surpreende desde o lançamento do livro é o número de depoimentos que recebo da parte de mulheres que viveram essa ruptura na solidão.

Tenho a impressão de ter revelado uma realidade por muito tempo oculta. Muitas dentre elas, assim como eu, conheceram seus parceiros estudando, e construíram com ele uma família. E, de repente, é a anulação brutal de um percurso de vida, tão unilateral que ela só pode questionar. Acho que muitos homens têm medo da morte, medo de envelhecer: a crise do corpo não chega só para as mulheres! Mas sua forma de agir também demonstra uma certa irresponsabilidade, uma imaturidade. E uma falta de respeito por àquela cujo envelhecimento eles não aceitam, pois os remete ao seu próprio.

Le Monde: Tem-se a impressão, de repente, de que se viveu uma mentira?
Brunel: Primeiro se diz que não se pode desconstruir uma vida dessa forma. Esse momento de incredulidade é como uma aniquilação. Olhamos para esse homem que acreditávamos conhecer, e que de repente se tornou um estranho. A cumplicidade que a unia a ele evaporou. Frente a essa brutal ruptura, a sociedade pede às mulheres que sejam "elegantes"... ou seja, que se calem.

Ninguém tem compaixão por elas, como se elas tivessem responsabilidade pelo seu infortúnio. Muitas - não é meu caso - ainda se encontram em uma situação financeira difícil, pois por muito tempo abriram mão de suas carreiras por esse marido que as deixou. E que mostra uma espécie de glória radiante, como se finalmente estivesse renascendo.

As revistas exaltam essas novas famílias, a felicidade desses homens maduros - ou até mesmo velhos, na verdade - que se reavivam junto de uma jovem, sem se preocupar com as primeiras esposas.

Le Monde: A senhora as descreve como vítimas, mas elas não seriam cúmplices?
Brunel: Cúmplices? Mas a sociedade na qual vivemos glorifica a juventude, e até mesmo o culto à juventude! Então a pressão é terrível. As revistas femininas se recusam a abordar a questão da maturidade sem mascará-la. Seu discurso - "Você está melhor aos 50 do que aos 20, recuse a ação do tempo" - é falso.

Le Monde: Antigamente as mulheres eram velhas aos 30 anos; hoje elas estão em plena forma aos 50, mas velhas demais aos olhos dos homens.
Brunel: De alguns homens, felizmente! Construir uma relação sobre o culto desenfreado da juventude só pode levar a um impasse. A maturidade é inevitável... e é boa: estamos mais realizadas aos 50 do que aos 20.

Le Monde: A senhora diz que 50 anos é a idade com a qual as mulheres se tornam avós e os homens, novos pais.
Brunel: E é exatamente o que acontece, não? Todos esses homens grisalhos que se exibem com bebês, concorrendo com os filhos nascidos de seu primeiro casamento, têm algo de patético. Ainda mais que, nunca alguém se sente tão velho do que quando busca a todo preço andar com jovens... que na verdade o lembram constantemente de sua diferença de idade. Mas alguns homens não parecem ver assim. Sua primeira família se tornou um fardo. Muitos afirmam partir não por uma outra mulher, mas sim para "reviver".

Le Monde: Entretanto, raramente eles partem para ficar sozinhos...
Brunel: Nunca, você quer dizer! Uma mulher nova chega tão rápido, que torna claro que ela preparava uma emboscada. Meu ex-marido alega que encontrou sua nova companheira após nossa separação. Obviamente é mentira. Mas essa mentira o reconforta. A verdade é tão banal... A necessidade de carne fresca de uns encontra a estratégia de ascensão social de outras, que sabem que devem agir rápido porque somente seu físico lhes permitirá conseguir um lugar ao sol. Na África, dizem que os homens devem sua fortuna à sua primeira esposa, e sua segunda esposa à sua fortuna...

Le Monde: "O casamento é muitas vezes um álibi para a infidelidade", a senhora escreve...
Brunel: Eu nasci em 1960, após a geração 68. As mulheres que lutaram por causas feministas nos permitiram conseguir vitórias... mas a liberação das mulheres também foi a dos homens. Eles se julgam hoje livres de todas as pressões. São as mulheres que continuam a criar os filhos e devem conciliar tudo, o que é uma desigualdade fundamental. Sobretudo com a idade. Depois dos quarenta, muitas enfrentam isso. Aquelas que se recusam a entrar na corrida maluca contra o tempo porque acreditam ter lutas menos fúteis para se engajar, muitas vezes acabam sozinhas.

Le Monde: A senhora escreve que aceitar que a idade se inscreve no rosto e no corpo é considerado obsceno.
Brunel: Estão sempre dizendo que é preciso anular o tempo por todas as técnicas de rejuvenescimento possíveis para continuar a agradar. Toda uma indústria se apoia sobre essa ilusão. Os cremes destinados às mulheres maduras custam duas vezes mais caro do que os outros! E, ao mesmo tempo, o discurso mantido sobre as mulheres "esticadas" é muitas vezes de uma crueldade...

Le Monde: Como a menopausa, da qual a senhora fala no livro, ainda que seja um assunto tabu.
Brunel: Antigamente, a menopausa era o fim de tudo. Ainda hoje, mesmo entre elas, as mulheres mal querem falar disso, de medo de se verem desclassificadas. A menopausa continua sendo sinônimo de envelhecimento, de fim do desejo. Entretanto, não é uma doença e nem um defeito, somente uma etapa obrigatória - e necessária: felizmente a maternidade não resume a feminilidade! Mas muitas vezes, ao ver que o olhar de seu marido desvia dela, a esposa opta por desistir, dando razão, a contragosto, àqueles que pensam que a vida sexual termina com a função reprodutiva. Entretanto, uma mulher desejada continua tendo desejo por toda sua vida!

Le Monde: Seu ex-marido é Eric Besson, ministro da Imigração e da Identidade Nacional, mas a senhora não acerta as contas com ele, e parece até mesmo ter carinho por ele.
Brunel: É claro! Eu o conheci aos 18 anos, e compartilhamos tudo durante trinta anos. Mas eu o vi mudar radicalmente quando ele deixou o Partido Socialista, e depois seguiu os passos de Nicolas Sarkozy. Sua transgressão lhe valeu tanta reprovação da parte daqueles de quem ele se afastou - mas também elogios em outro campo! - que ela o mudou profundamente. De certa forma, ele queimou suas pontes.

Le Monde: Vê-lo sendo chamado de traidor a chocou?
Brunel: Sim, seus "amigos" do PS se enfureceram com ele quando ele quis se distanciar da campanha de Ségolène Royal, na qual ele não se reconhecia. E isso mesmo antes de se juntar a Sarkozy. Entretanto, ele não entrou no socialismo como se entra em uma religião. Essa lógica sectária e violenta feriu a mim e a meus filhos.

Le Monde: Considerar que ele a deixou para protegê-la não é lhe dar muito crédito?
Brunel: Quando você está na lógica de um combate que sua família não escolheu, ou até desaprova - eu trabalho com a África e sei que o seu ministério significa - , partir é libertar o outro, fazer com que ele não tenha de pagar por suas escolhas. Certamente tento encontrar circunstâncias atenuantes para ele... Mas observo que ele deixou tudo para trás, só levou uma mala consigo. Isso não é de uma generosidade rara?

Le Monde: O livro realmente a libertou?
Brunel: Um livro é sempre uma libertação. Sua última parte fala sobre a reconstrução... É a parte da pesquisa, pois eu ainda estou sofrendo, oscilo dependendo do dia entre a nostalgia do passado e a vertigem de minha nova liberdade. Como todas aquelas que viveram a mesma experiência, devo primeiro aceitar essa fase de luto.

Tradução: Lana Lim

[Le Monde 14/11/2009]
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