Países pobres são a nova aposta dos laboratórios farmacêuticos

Yves Mamou
Os laboratórios farmacêuticos europeus fazem mais esforços que os americanos para ajudar os países pobres a ter acesso aos medicamentos. É o que se deduz da classificação publicada na última segunda-feira (16) pela fundação holandesa Access to Medicine, em colaboração com o órgão de estudos especializado Innovest.

O laboratório britânico GlaxoSmithKline (GSK, nº 2 mundial) fica no topo, a uma boa distância do dinamarquês Novo Nordisk, um laboratório de porte médio especializado em diabetes. Vêm depois o suíço Novartis (nº 3 mundial) e o francês Sanofi-Aventis (4º lugar). O único americano que entra no jogo é o Merck, terceiro classificado. Mas o primeiro lugar mundial em termos de faturamento, o laboratório Pfizer, fica nas profundezas da classificação, em 17º lugar. Da mesma maneira, o Abbott, que teve freqüentes disputas com associações de doentes de Aids, se classifica em 12º.

Detalhe interessante, três fabricantes de genéricos, os indianos Cipla (14º) e Ranbaxy (16º), assim como o israelense Teva Pharmaceutical (19º), integram a classificação. Por outro lado, laboratórios prestigiosos de biotecnologia como Amgen ou Genentech estão ausentes, enquanto um menor como o Gilead Sciences (inventor do Tamiflu) integra a lista em 15º lugar.

Facilitar o acesso dos países em desenvolvimento aos medicamentos e à saúde nunca fez parte do "core business" (atividade estratégica) das farmacêuticas. Mas o aumento das preocupações humanitárias nos países do norte (desenvolvimento sustentável, antiglobalização, comércio eqüitativo...) e principalmente a onda de choque nascida em 2001 do processo tentado pelos grandes laboratórios contra a África do Sul, para impedi-la de fabricar medicamentos anti-Aids patenteados, mudaram a situação.

Conscientes de que são considerados parcialmente responsáveis pela decadência sanitária de certas regiões do mundo, percebendo -com atraso- que essa percepção pode ter conseqüências nefastas para sua atividade principal nos países desenvolvidos, os laboratórios farmacêuticos repensaram sua atitude em relação aos países em desenvolvimento. Eles não se limitam mais a uma política de caridade (socorro de emergência e doações regulares de medicamentos) como muitos faziam antes. Todos ou quase todos implantaram uma administração ligada à direção geral e estabeleceram uma estratégia específica.

Financiamentos complementares
A classificação levou em conta oito critérios que vão de uma política de preços diferenciados à suspensão provisória das patentes, passando por acordos de licença sem royalties com fabricantes de genéricos, uma pesquisa dedicada a certas doenças tropicais, subvenções dadas a organizações não-governamentais e a associações humanitárias.

É a soma dos pontos obtidos por cada laboratório em cada um desses critérios que leva o inglês GSK a encabeçar a classificação geral. Mas um laboratório como o Eli Lilly, 10º na classificação geral, pode ser o número 1 no critério da transparência de sua política sobre o assunto.

Em todo caso, o estudo mostra que a ação da maioria dos laboratórios em relação aos países pobres deixou a órbita da caridade para integrar uma dimensão maior e mais estratégica. Assim, constata-se que todos os laboratórios da lista, incluindo os fabricantes de genéricos, dedicam orçamentos de pesquisa e desenvolvimento à descoberta de novos tratamentos contra doenças antes negligenciadas, como a dengue, malária, esquistossomose, etc. O interesse dos laboratórios pelas doenças negligenciadas foi dinamizado pelos financiamentos complementares de grandes fundações humanitárias como a de Bill e Melinda Gates. A filantropia de alguns e as capacidades de pesquisa de outros dão uma esperança para as populações deserdadas da África e da Ásia.

GSK, Novartis e Sanofi-Aventis estão empatados em primeiro lugar em termos de pesquisa e desenvolvimento. Em relação às patentes, o GSK é o número 1 juntamente com Merck e Gilead pela qualidade dos acordos de licença feitos com certos fabricantes de genéricos, com o objetivo de melhorar o acesso das populações desfavorecidas aos medicamentos. Os piores classificados nesse sentido são Abbott e Pfizer.

Para enfrentar o flagelo da falsificação de remédios na África e na Ásia, alguns laboratórios ajudam os países em desenvolvimento a fabricar e distribuir medicamentos, assim como a formar pessoal de saúde local. Merck e o alemão Bayer estão no topo nesse critério, seguidos de perto por Eli Lilly e GSK.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

[Le Monde, 17/06/2008]
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