Está cada vez mais comum ver as mulheres muçulmanas do Reino Unido levando os filhos às escolas ou andando pelas ruas cobertas, da cabeça aos pés, com vestes negras esvoaçantes que só contam com uma estreita abertura para os olhos.
E poucas coisas irritam tanto os britânicos quanto essa imagem, que é um teste dos limites de tolerância desta nação estridentemente secular. Muitas mulheres cobertas pelo véu de corpo inteiro dizem que são alvos de assédios. Ao mesmo tempo, crescem as iniciativas no sentido de impor legalmente uma proibição do uso do véu muçulmano de corpo inteiro, que é conhecido como 'niqab'.
Nos últimos 12 meses houve numerosos exemplos do problema: um juiz de imigração disse a uma advogada vestida com um niqab que ela não poderia representar uma cliente porque, segundo ele, não dava para escutar a voz dela sob o véu. Uma professora que usava o niqab foi mandada de volta para casa pela escola de uma província inglesa. Uma aluna que foi proibida de usar o niqab levou o caso à Justiça, e perdeu. De fato, as autoridades educacionais britânicas estão propondo uma proibição total do uso do véu nas escolas.
David Sexton, um colunista do jornal "The Evening Standard", escreveu recentemente que o Reino Unido tem sido "excessivamente condescendente" em relação ao véu. "Acho que tal vestimenta, no contexto de uma rua em Londres é, principalmente ridículo, e além do mais diretamente ofensivo", disse ele.
Embora o número de mulheres que usam o niqab tenha aumentado nos últimos anos, apenas uma pequena porcentagem dos dois milhões de mulheres muçulmanas no Reino Unidos cobre-se da cabeça aos pés. Mas é impossível precisar o número exato.
Algumas das mulheres, especialmente as jovens, que adotaram a vestimenta recentemente, admitem que o traje é uma expressão direta de identidade islâmica, que elas adotaram após o 11 de setembro de 2001, como forma de rebelião contra as políticas do governo Blair no Iraque e no Reino Unido.
"Para mim, não se trata apenas de uma roupa. É um ato de fé. É solidariedade", diz uma funcionária de 24 anos de uma companhia de radiodifusão em Londres, que só permitiu que o seu sobrenome, Al Shaikh, fosse publicado, alegando que deseja proteger a sua privacidade. "O 11 de setembro foi um toque de despertar para os muçulmanos jovens", diz ela.
Shaikh diz que às vezes é alvo de comentários rudes, incluindo uma ocasião em que uma mulher no local de trabalho lhe disse que ela não tinha o direito de estar ali. Shaik diz que pretende entrar com um processo contra a mulher.
Quando está na rua, ela ouve com freqüência comentários agressivos. "Há algumas semanas uma senhora me disse: 'Acho que você parece uma doida'. Eu respondi: 'Como é que você ousa dizer às pessoas como elas têm que se vestir?'. E fui embora. Às vezes sinto que tenho que responder. O islamismo nos ensina que temos que defender a nossa religião".
Outros muçulmanos acham o niqab censurável, um passo para trás para um grupo imigrante que está sob pressão após os ataques terroristas contra o sistema de transporte público de Londres em julho de 2005.
"Após os ataques do 7 de julho, este não é o momento para antagonizar os britânicos, apresentando os muçulmanos como algo de sinistro", argumenta Imran Ahmad, autor de 'Unimagined' (Inimaginável) -uma autobiografia que fala da experiência de ser criado como muçulmano na Grã-Bretanha- e diretor da organização Muçulmanos Britânicos Pela Democracia Secular.
"Esse véu passa uma imagem enorme de submissão. Acho extremamente ofensivo o fato de alguém desejar criar tais barreiras. É uma coisa retrógrada".
Desde que indivíduos do sul da Ásia começaram a vir para o Reino Unido em grande quantidade na década de 1960, um pequeno grupo de mulheres geralmente mais velhas e de pouca instrução passou a usar o niqab. A vestimenta é com freqüência vista como um sinal de submissão.
Um número muito maior de muçulmanas usa o hijab, um lenço que cobre total ou parcialmente os cabelos. Ao contrário do que ocorre na França, na Turquia e na Tunísia, onde as alunas das escolas governamentais e as funcionárias públicas são proibidas de cobrir o cabelo, as muçulmanas britânicas podem cobrir a cabeça, e até mesmo o corpo inteiro, com o niqab, em quase todos os lugares, pelo menos por ora.
Mas essa tolerância está diminuindo. Até mesmo algumas das mulheres que usam o niqab, como Faatema Mayata, psicóloga e professora de estudos religiosos de 24 anos de idade, acham que há limites. "Como é que você pode ensinar quando está ocultando a face?", questiona ela, sentada com uma xícara de chá na sua sala de estar em Blackburn, uma cidade no norte da Inglaterra, sem usar o niqab, já que está no ambiente doméstico.
Ela usa o niqab desde os 12 anos de idade, quando foi enviada pelos pais para um internato de meninas. Segundo ela, o niqab não é, conforme muitos britânicos parecem pensar, um sinal de extremismo. Para ela o niqab diz respeito à identidade. "Se seu me vestisse como uma ocidental poderia ser vista como hindu ou qualquer outra coisa", diz ela. "Mas desta forma me sinto confortável com o fato de a minha identidade ser a de uma mulher muçulmana".
Ninguém mais na família dela usa o niqab. O marido, Ibrahim Boodi, um assistente social, encara a questão com indiferença. "Se eu parasse de usá-lo hoje, ele não daria a mínima".
Quando está caminhando, ela diz que é muitas vezes parada por pessoas que lhe perguntam: "Por que é que você usa isso?". "Muita gente acha que sou vítima de opressão, que não falo inglês. Não me importo, eu tenho um cérebro".
Alguns comentaristas reclamam de que as mesquitas encorajam as mulheres a usar o véu, uma prática que segundo eles deveria ser impedida. Em uma recente sexta-feira de orações, um grupo de mulheres muçulmanas se aglomerava em uma pequena sala sem janelas no andar superior da mesquita de East London, uma das maiores da capital inglesa. Algumas delas usavam a vestimenta e falavam efusivamente a respeito dos motivos para ocultarem o corpo inteiro.
"Usar o niqab significa que você é bem avaliada e vai para o paraíso", disse Hodo Muse, uma somali de 19 anos de idade. "Todos os dias indivíduos me olham com rancor porque eu o uso, mas quando uma pessoa uma roupa por Alá, ela sente-se encorajada".
De Jane Perlez, em Londres. Tradução: UOL
[The NYT News Service, 22/06/2007]
E poucas coisas irritam tanto os britânicos quanto essa imagem, que é um teste dos limites de tolerância desta nação estridentemente secular. Muitas mulheres cobertas pelo véu de corpo inteiro dizem que são alvos de assédios. Ao mesmo tempo, crescem as iniciativas no sentido de impor legalmente uma proibição do uso do véu muçulmano de corpo inteiro, que é conhecido como 'niqab'.
Nos últimos 12 meses houve numerosos exemplos do problema: um juiz de imigração disse a uma advogada vestida com um niqab que ela não poderia representar uma cliente porque, segundo ele, não dava para escutar a voz dela sob o véu. Uma professora que usava o niqab foi mandada de volta para casa pela escola de uma província inglesa. Uma aluna que foi proibida de usar o niqab levou o caso à Justiça, e perdeu. De fato, as autoridades educacionais britânicas estão propondo uma proibição total do uso do véu nas escolas.
David Sexton, um colunista do jornal "The Evening Standard", escreveu recentemente que o Reino Unido tem sido "excessivamente condescendente" em relação ao véu. "Acho que tal vestimenta, no contexto de uma rua em Londres é, principalmente ridículo, e além do mais diretamente ofensivo", disse ele.
Embora o número de mulheres que usam o niqab tenha aumentado nos últimos anos, apenas uma pequena porcentagem dos dois milhões de mulheres muçulmanas no Reino Unidos cobre-se da cabeça aos pés. Mas é impossível precisar o número exato.
Algumas das mulheres, especialmente as jovens, que adotaram a vestimenta recentemente, admitem que o traje é uma expressão direta de identidade islâmica, que elas adotaram após o 11 de setembro de 2001, como forma de rebelião contra as políticas do governo Blair no Iraque e no Reino Unido.
"Para mim, não se trata apenas de uma roupa. É um ato de fé. É solidariedade", diz uma funcionária de 24 anos de uma companhia de radiodifusão em Londres, que só permitiu que o seu sobrenome, Al Shaikh, fosse publicado, alegando que deseja proteger a sua privacidade. "O 11 de setembro foi um toque de despertar para os muçulmanos jovens", diz ela.
Shaikh diz que às vezes é alvo de comentários rudes, incluindo uma ocasião em que uma mulher no local de trabalho lhe disse que ela não tinha o direito de estar ali. Shaik diz que pretende entrar com um processo contra a mulher.
Quando está na rua, ela ouve com freqüência comentários agressivos. "Há algumas semanas uma senhora me disse: 'Acho que você parece uma doida'. Eu respondi: 'Como é que você ousa dizer às pessoas como elas têm que se vestir?'. E fui embora. Às vezes sinto que tenho que responder. O islamismo nos ensina que temos que defender a nossa religião".
Outros muçulmanos acham o niqab censurável, um passo para trás para um grupo imigrante que está sob pressão após os ataques terroristas contra o sistema de transporte público de Londres em julho de 2005.
"Após os ataques do 7 de julho, este não é o momento para antagonizar os britânicos, apresentando os muçulmanos como algo de sinistro", argumenta Imran Ahmad, autor de 'Unimagined' (Inimaginável) -uma autobiografia que fala da experiência de ser criado como muçulmano na Grã-Bretanha- e diretor da organização Muçulmanos Britânicos Pela Democracia Secular.
"Esse véu passa uma imagem enorme de submissão. Acho extremamente ofensivo o fato de alguém desejar criar tais barreiras. É uma coisa retrógrada".
Desde que indivíduos do sul da Ásia começaram a vir para o Reino Unido em grande quantidade na década de 1960, um pequeno grupo de mulheres geralmente mais velhas e de pouca instrução passou a usar o niqab. A vestimenta é com freqüência vista como um sinal de submissão.
Um número muito maior de muçulmanas usa o hijab, um lenço que cobre total ou parcialmente os cabelos. Ao contrário do que ocorre na França, na Turquia e na Tunísia, onde as alunas das escolas governamentais e as funcionárias públicas são proibidas de cobrir o cabelo, as muçulmanas britânicas podem cobrir a cabeça, e até mesmo o corpo inteiro, com o niqab, em quase todos os lugares, pelo menos por ora.
Mas essa tolerância está diminuindo. Até mesmo algumas das mulheres que usam o niqab, como Faatema Mayata, psicóloga e professora de estudos religiosos de 24 anos de idade, acham que há limites. "Como é que você pode ensinar quando está ocultando a face?", questiona ela, sentada com uma xícara de chá na sua sala de estar em Blackburn, uma cidade no norte da Inglaterra, sem usar o niqab, já que está no ambiente doméstico.
Ela usa o niqab desde os 12 anos de idade, quando foi enviada pelos pais para um internato de meninas. Segundo ela, o niqab não é, conforme muitos britânicos parecem pensar, um sinal de extremismo. Para ela o niqab diz respeito à identidade. "Se seu me vestisse como uma ocidental poderia ser vista como hindu ou qualquer outra coisa", diz ela. "Mas desta forma me sinto confortável com o fato de a minha identidade ser a de uma mulher muçulmana".
Ninguém mais na família dela usa o niqab. O marido, Ibrahim Boodi, um assistente social, encara a questão com indiferença. "Se eu parasse de usá-lo hoje, ele não daria a mínima".
Quando está caminhando, ela diz que é muitas vezes parada por pessoas que lhe perguntam: "Por que é que você usa isso?". "Muita gente acha que sou vítima de opressão, que não falo inglês. Não me importo, eu tenho um cérebro".
Alguns comentaristas reclamam de que as mesquitas encorajam as mulheres a usar o véu, uma prática que segundo eles deveria ser impedida. Em uma recente sexta-feira de orações, um grupo de mulheres muçulmanas se aglomerava em uma pequena sala sem janelas no andar superior da mesquita de East London, uma das maiores da capital inglesa. Algumas delas usavam a vestimenta e falavam efusivamente a respeito dos motivos para ocultarem o corpo inteiro.
"Usar o niqab significa que você é bem avaliada e vai para o paraíso", disse Hodo Muse, uma somali de 19 anos de idade. "Todos os dias indivíduos me olham com rancor porque eu o uso, mas quando uma pessoa uma roupa por Alá, ela sente-se encorajada".
De Jane Perlez, em Londres. Tradução: UOL
[The NYT News Service, 22/06/2007]
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