O ataque a oito indianos na cidade de Mügeln provocou as indagações de sempre sobre as causas do extremismo de direita. Mas o debate geralmente se extingue depois de algumas semanas, e os ativistas contra o nazismo e os estrangeiros têm de lutar por conta própria
Markus Deggerich, Alexander Neubacher,Felix Wadewitz, Steffen Winter
Talvez todo mundo na Alemanha ainda esteja perplexo com o caso, mas pelo menos uma alemã tomou uma decisão. Atrás do balcão no bar Mügelner Kneipe, a menos de cem metros da cena do crime, a garçonete já formou sua impressão do que aconteceu nessa pequena cidade do leste da Alemanha. "Acho que eles não foram totalmente inocentes, os indianos", ela declara. Além disso, afirma, se alemães tivessem se agredido ferozmente aqui, a matéria mal teria saído no jornal local. "Exatamente", murmura um freguês na mesa ao lado, bebendo sua cerveja com aguardente, "havia até um mandado de prisão contra um dos indianos".
Mais de uma semana depois do ataque aos oito indianos nessa cidade de 4.700 habitantes no Estado da Saxônia, leste da Alemanha, ainda não está claro o que aconteceu exatamente na tenda em frente à prefeitura. Por isso cada um tem sua própria versão dos fatos - não apenas na cidade de Mügeln.
A chanceler alemã, Angela Merkel, está mortificada; Wolfgang Tiefensee, o ministro responsável por programas de reconstrução da Alemanha oriental, chama o incidente de um exemplo de "violência excessiva inaceitável"; e Wolfgang Thierse, o vice-presidente da câmera baixa do Parlamento alemão, o Bundestag, culpa o "legado autoritário da época da República Democrática". Kurt Beck, o líder dos social-democratas (SPD), está até pensando em pedir a proibição do Partido Democrático Nacional da Alemanha (NPD), radical de direita.
Em suma, os observadores, como sempre, estão repudiando, interpretando e reivindicando. Alguns advertem contra a dramatização excessiva do caso, enquanto outros temem que possa ser banalizado. Tudo é possível, como já aconteceu depois de ataques em Guben, Potsdam, Pretzien, Leipzig e Halberstadt. A onda de sentimento público exprime, principalmente, uma coisa: a incompetência dos líderes políticos.
Oportunidade de conscientizaçãoNestes dias de indignação coletiva, Anetta Kahane está sendo mais solicitada que nunca. Seu celular toca de 40 a 50 vezes por dia. De manhã é a Deutschlandradio, ao meio-dia é o jornal "Die Tageszeitung" e à noite ela é convidada ao programa de entrevistas na TV "Heute Journal". Todo mundo quer que ela responda à mesma pergunta: Por quê? Por que isso continua acontecendo, e por que no leste do país? Qual é o problema?
Kahane, que preside a Fundação Amadeu Antonio contra o Extremismo de Direita, às vezes fica tentada a responder: Vocês são o problema, porque só fazem essas perguntas quando alguma coisa terrível acontece, porque vocês só vão para o leste quando há "skinheads" para fotografar, porque só perguntam aos políticos as coisas difíceis quando já é tarde demais.
Mas geralmente ela segura a língua, porque quer aproveitar os dois, três ou quatro dias de intenso interesse da mídia depois desses casos para ajudar os ativistas locais a combater o extremismo de direita. A janela de oportunidade é breve e, segundo Kahane, é importante usá-la enquanto existe. "É aí que temos a atenção do público, nossas iniciativas recebem um reforço e às vezes até conseguimos ajuda do governo".
Talvez todo mundo na Alemanha ainda esteja perplexo com o caso, mas pelo menos uma alemã tomou uma decisão. Atrás do balcão no bar Mügelner Kneipe, a menos de cem metros da cena do crime, a garçonete já formou sua impressão do que aconteceu nessa pequena cidade do leste da Alemanha. "Acho que eles não foram totalmente inocentes, os indianos", ela declara. Além disso, afirma, se alemães tivessem se agredido ferozmente aqui, a matéria mal teria saído no jornal local. "Exatamente", murmura um freguês na mesa ao lado, bebendo sua cerveja com aguardente, "havia até um mandado de prisão contra um dos indianos".
Mais de uma semana depois do ataque aos oito indianos nessa cidade de 4.700 habitantes no Estado da Saxônia, leste da Alemanha, ainda não está claro o que aconteceu exatamente na tenda em frente à prefeitura. Por isso cada um tem sua própria versão dos fatos - não apenas na cidade de Mügeln.
A chanceler alemã, Angela Merkel, está mortificada; Wolfgang Tiefensee, o ministro responsável por programas de reconstrução da Alemanha oriental, chama o incidente de um exemplo de "violência excessiva inaceitável"; e Wolfgang Thierse, o vice-presidente da câmera baixa do Parlamento alemão, o Bundestag, culpa o "legado autoritário da época da República Democrática". Kurt Beck, o líder dos social-democratas (SPD), está até pensando em pedir a proibição do Partido Democrático Nacional da Alemanha (NPD), radical de direita.
Em suma, os observadores, como sempre, estão repudiando, interpretando e reivindicando. Alguns advertem contra a dramatização excessiva do caso, enquanto outros temem que possa ser banalizado. Tudo é possível, como já aconteceu depois de ataques em Guben, Potsdam, Pretzien, Leipzig e Halberstadt. A onda de sentimento público exprime, principalmente, uma coisa: a incompetência dos líderes políticos.
Oportunidade de conscientizaçãoNestes dias de indignação coletiva, Anetta Kahane está sendo mais solicitada que nunca. Seu celular toca de 40 a 50 vezes por dia. De manhã é a Deutschlandradio, ao meio-dia é o jornal "Die Tageszeitung" e à noite ela é convidada ao programa de entrevistas na TV "Heute Journal". Todo mundo quer que ela responda à mesma pergunta: Por quê? Por que isso continua acontecendo, e por que no leste do país? Qual é o problema?
Kahane, que preside a Fundação Amadeu Antonio contra o Extremismo de Direita, às vezes fica tentada a responder: Vocês são o problema, porque só fazem essas perguntas quando alguma coisa terrível acontece, porque vocês só vão para o leste quando há "skinheads" para fotografar, porque só perguntam aos políticos as coisas difíceis quando já é tarde demais.
Mas geralmente ela segura a língua, porque quer aproveitar os dois, três ou quatro dias de intenso interesse da mídia depois desses casos para ajudar os ativistas locais a combater o extremismo de direita. A janela de oportunidade é breve e, segundo Kahane, é importante usá-la enquanto existe. "É aí que temos a atenção do público, nossas iniciativas recebem um reforço e às vezes até conseguimos ajuda do governo".
Até que a janela se feche novamente.
Kahane, 53, tem observado o ritual de excitação pública - as ondas de indignação e revolta, os pedidos de punição e de verbas - no rastro de ataques da extrema-direita nos últimos 16 anos. Se ela aprendeu alguma coisa nesse tempo, diz, é que embora todo mundo seja afetado ninguém se dispõe a assumir a responsabilidade. Kahane e seus colegas habitualmente se queixam da burocracia, confusão sobre quem é encarregado do quê e falta de vontade política que dure além da indignação inicial.
Era de se esperar que o debate da última semana passasse da área rural da Saxônia para a capital, Berlim, onde imediatamente provocou uma disputa interna na coalizão de governo. Torgau-Oschatz, o distrito regional onde se localiza Mügeln, pediu verbas do governo para combater o extremismo. O pedido foi recusado porque o Ministério de Assuntos Sociais da Saxônia, juntamente com um grupo chamado "Saxônia de Mentalidade Aberta", afirmou que outras regiões do Estado corriam maior risco desse tipo de violência.
Jogo da culpaO ministro Tiefensee, membro do SPD, ignorou despreocupadamente esses detalhes quando acusou o Ministério de Assuntos Familiares, de Ursula von der Leyen, membro dos democrata-cristãos (CDU) conservadores de Angela Merkel, de não dar atenção suficiente ao extremismo de direita.
Há 4.500 iniciativas na Alemanha sobre as causas e conseqüências do sentimento neonazista. Somente nos últimos cinco anos o governo federal gastou 192 milhões de euros nessa questão.
Cada projeto individual parece valioso. Mas nem toda aldeia pode ter seu próprio projeto. E o desemprego e a insegurança social só podem ser acusados em parte pelas simpatias com a extrema-direita. Friedeman Bringt, que chefia uma equipe de consultores na Saxônia, diz que a verdadeira raiz do problema é que muitos orientais não têm empatia e são incapazes de compreender o ponto de vista de outras pessoas. Segundo Bringt, muitos no leste aceitam a violência como legítima. O teólogo de Berlim Richard Schröder concorda, dizendo que os alemães-orientais sofrem de "falta de civilidade".
Mas o que se pode fazer para reforçar uma sociedade civil? Por que observadores na cidade de Mainz, no oeste do país, chamaram a polícia duas semanas atrás quando desordeiros de direita atacaram dois africanos numa festa do vinho? E por que com demasiada freqüência, no leste, as pessoas apenas olham sem intervir? Especialistas em extremismo como Wilhelm Heitmeyer queixam-se de que em alguns lugares os ativistas contra a extrema-direita já estão perdendo a batalha, porque o clima hostil às minorias e mesmo aos políticos já se tornou a norma. Segundo Heitmeyer, o sucesso de um projeto depende de sua conexão com organizações de cada cidade, como o departamento de bombeiros, a comissão do carnaval ou outros clubes. Toda idéia - até a democracia - precisa de seus advogados, defensores e propagadores.
O cientista social Rainer O. Neugebauer passou anos observando os limites e as possibilidades da ação civil depois que passa o furor da mídia. Um caso interessante é o da cidade oriental de Halberstadt, onde neonazistas atacaram um grupo de atores depois que estes se apresentaram em junho. É desanimador, disse Neugebauer, que dois meses depois do incidente a comunidade, enquanto professa sua decisão de resistir à violência, ainda gasta muito pouco em programas voltados para os jovens.
Kahane, 53, tem observado o ritual de excitação pública - as ondas de indignação e revolta, os pedidos de punição e de verbas - no rastro de ataques da extrema-direita nos últimos 16 anos. Se ela aprendeu alguma coisa nesse tempo, diz, é que embora todo mundo seja afetado ninguém se dispõe a assumir a responsabilidade. Kahane e seus colegas habitualmente se queixam da burocracia, confusão sobre quem é encarregado do quê e falta de vontade política que dure além da indignação inicial.
Era de se esperar que o debate da última semana passasse da área rural da Saxônia para a capital, Berlim, onde imediatamente provocou uma disputa interna na coalizão de governo. Torgau-Oschatz, o distrito regional onde se localiza Mügeln, pediu verbas do governo para combater o extremismo. O pedido foi recusado porque o Ministério de Assuntos Sociais da Saxônia, juntamente com um grupo chamado "Saxônia de Mentalidade Aberta", afirmou que outras regiões do Estado corriam maior risco desse tipo de violência.
Jogo da culpaO ministro Tiefensee, membro do SPD, ignorou despreocupadamente esses detalhes quando acusou o Ministério de Assuntos Familiares, de Ursula von der Leyen, membro dos democrata-cristãos (CDU) conservadores de Angela Merkel, de não dar atenção suficiente ao extremismo de direita.
Há 4.500 iniciativas na Alemanha sobre as causas e conseqüências do sentimento neonazista. Somente nos últimos cinco anos o governo federal gastou 192 milhões de euros nessa questão.
Cada projeto individual parece valioso. Mas nem toda aldeia pode ter seu próprio projeto. E o desemprego e a insegurança social só podem ser acusados em parte pelas simpatias com a extrema-direita. Friedeman Bringt, que chefia uma equipe de consultores na Saxônia, diz que a verdadeira raiz do problema é que muitos orientais não têm empatia e são incapazes de compreender o ponto de vista de outras pessoas. Segundo Bringt, muitos no leste aceitam a violência como legítima. O teólogo de Berlim Richard Schröder concorda, dizendo que os alemães-orientais sofrem de "falta de civilidade".
Mas o que se pode fazer para reforçar uma sociedade civil? Por que observadores na cidade de Mainz, no oeste do país, chamaram a polícia duas semanas atrás quando desordeiros de direita atacaram dois africanos numa festa do vinho? E por que com demasiada freqüência, no leste, as pessoas apenas olham sem intervir? Especialistas em extremismo como Wilhelm Heitmeyer queixam-se de que em alguns lugares os ativistas contra a extrema-direita já estão perdendo a batalha, porque o clima hostil às minorias e mesmo aos políticos já se tornou a norma. Segundo Heitmeyer, o sucesso de um projeto depende de sua conexão com organizações de cada cidade, como o departamento de bombeiros, a comissão do carnaval ou outros clubes. Toda idéia - até a democracia - precisa de seus advogados, defensores e propagadores.
O cientista social Rainer O. Neugebauer passou anos observando os limites e as possibilidades da ação civil depois que passa o furor da mídia. Um caso interessante é o da cidade oriental de Halberstadt, onde neonazistas atacaram um grupo de atores depois que estes se apresentaram em junho. É desanimador, disse Neugebauer, que dois meses depois do incidente a comunidade, enquanto professa sua decisão de resistir à violência, ainda gasta muito pouco em programas voltados para os jovens.
Queimadores de livros
Os cidadãos de Pretzien, cidade a 20 km a sudeste da cidade oriental de Magdeburg, acreditavam ter descoberto uma estratégia para enfrentar os nazistas de sua aldeia. Eles os envolveram em organizações como o coro da cidade e o departamento de bombeiros voluntários. A abordagem funcionou - até o verão de 2006. Foi quando a sociedade cultural local patrocinou uma festa da aldeia com fogueira, e de repente um membro da organização pediu que todos os participantes "jogassem na fogueira tudo o que é estrangeiro".
Uma bandeira americana foi atirada nas chamas, seguida de uma edição brochura de "O Diário de Anne Frank". "É tudo mentira e ilusão", teria dito o homem enquanto jogava as coisas no fogo. O prefeito e cerca de 80 pessoas que participavam do evento olharam, mas nada disseram.
Mais de um ano depois desse incidente, a cidade está dividida em dois campos, diz um morador que prefere manter o anonimato. "Aqui temos os que protegem os neonazistas e os outros, que querem fazer algo a respeito". Esses "outros" formaram um grupo de ação civil para investigar o extremismo de direita na comunidade. A atriz Iris Berben recentemente fez uma leitura de "Anne Frank" em Pretzien. Durante o evento, um dos neonazistas locais teria entrado e filmado a leitura em vídeo. "É intimidante", diz o morador anônimo.
Cinco dos que queimaram livros, que foram condenados a penas de nove meses, com sursis, ainda moram em Pretzien. Membros do departamento de bombeiros votaram se um deles, acusado de "aprovação pública do Holocausto", deveria continuar no grupo. Os bombeiros votaram a seu favor. "Se o tribunal lhe deu a condicional, nós também devemos", disse um deles.
Um membro do conselho urbano admite que os 940 moradores de Pretzien estão "divididos". Alguns, furiosos com a cerca de uma dúzia de extremistas de direita, enquanto outros preferem deixar o caso amornar. "Ninguém foi ferido", diz um morador. "Foi só papel".
Uma bandeira americana foi atirada nas chamas, seguida de uma edição brochura de "O Diário de Anne Frank". "É tudo mentira e ilusão", teria dito o homem enquanto jogava as coisas no fogo. O prefeito e cerca de 80 pessoas que participavam do evento olharam, mas nada disseram.
Mais de um ano depois desse incidente, a cidade está dividida em dois campos, diz um morador que prefere manter o anonimato. "Aqui temos os que protegem os neonazistas e os outros, que querem fazer algo a respeito". Esses "outros" formaram um grupo de ação civil para investigar o extremismo de direita na comunidade. A atriz Iris Berben recentemente fez uma leitura de "Anne Frank" em Pretzien. Durante o evento, um dos neonazistas locais teria entrado e filmado a leitura em vídeo. "É intimidante", diz o morador anônimo.
Cinco dos que queimaram livros, que foram condenados a penas de nove meses, com sursis, ainda moram em Pretzien. Membros do departamento de bombeiros votaram se um deles, acusado de "aprovação pública do Holocausto", deveria continuar no grupo. Os bombeiros votaram a seu favor. "Se o tribunal lhe deu a condicional, nós também devemos", disse um deles.
Um membro do conselho urbano admite que os 940 moradores de Pretzien estão "divididos". Alguns, furiosos com a cerca de uma dúzia de extremistas de direita, enquanto outros preferem deixar o caso amornar. "Ninguém foi ferido", diz um morador. "Foi só papel".
Elogios da extrema-direita
As expressões de lamento são improváveis, mesmo no caso de violência xenofóbica em Mügeln. O site de direita Störtebeker-Netz chegou a elogiar a caça aos oito indianos como um "pequeno levante popular". As cidades pequenas, continua o site, são aquelas "que foram amplamente poupadas do progresso multicultural até agora", e é por isso que as populações desses lugares ainda demonstram "uma sensibilidade popular saudável". Em outras palavras, os neonazistas são incentivados pelo que aconteceu em Mügeln.
A linha de frente pode ser clara, mas o que realmente aconteceu naquela noite em Mügeln continua impreciso. O que se sabe é que tudo estava em paz na tenda até meia-noite. Havia extremistas de direita na praça do mercado, diz Gotthard Deuse, o prefeito de Mügeln. Mas eles sempre estão ali, acrescenta.
Deuse já tinha ido dormir quando, segundo o relatório da polícia, começou uma discussão na pista de dança à 0h30. Há várias versões de por que a luta começou. Kulvir Singh, um dos indianos que ficou gravemente ferido, diz que ele estava na tenda havia apenas dois ou três minutos quando o ambiente mudou repentinamente. Ao que parece, um dos indianos tinha dançado com a garçonete alemã da Pizzeria Picobello, propriedade de indianos. Foi aí, diz Singh, que as pessoas começaram a empurrá-lo e a seus amigos indianos que estavam na pista. Quando eles tentaram sair da tenda, viram-se envolvidos por uma nuvem de spray de pimenta - até que Singh caiu no chão, supostamente atingido por uma garrafa de cerveja.
A linha de frente pode ser clara, mas o que realmente aconteceu naquela noite em Mügeln continua impreciso. O que se sabe é que tudo estava em paz na tenda até meia-noite. Havia extremistas de direita na praça do mercado, diz Gotthard Deuse, o prefeito de Mügeln. Mas eles sempre estão ali, acrescenta.
Deuse já tinha ido dormir quando, segundo o relatório da polícia, começou uma discussão na pista de dança à 0h30. Há várias versões de por que a luta começou. Kulvir Singh, um dos indianos que ficou gravemente ferido, diz que ele estava na tenda havia apenas dois ou três minutos quando o ambiente mudou repentinamente. Ao que parece, um dos indianos tinha dançado com a garçonete alemã da Pizzeria Picobello, propriedade de indianos. Foi aí, diz Singh, que as pessoas começaram a empurrá-lo e a seus amigos indianos que estavam na pista. Quando eles tentaram sair da tenda, viram-se envolvidos por uma nuvem de spray de pimenta - até que Singh caiu no chão, supostamente atingido por uma garrafa de cerveja.
Detalhes do ataque
Também há uma testemunha alemã, Ronny K., 21, um telhadista de Wermsdorf. Ele quer processar os indianos pelos danos causados. Segundo seu relato, os indianos derrubaram um senhor idoso na pista de dança e foram cercados pelas pessoas que estavam na tenda. Segundo K., os indianos quebraram o fundo de suas garrafas de cerveja e ameaçaram as pessoas. K. diz que foi atingido no pescoço por uma dessas garrafas e precisou levar 12 pontos. Foi então, segundo ele, que a situação fugiu de controle. Singh e seus colegas negam que tivessem empunhado garrafas.
Os eventos dramáticos que se seguiram estão bem documentados. Os oito indianos correram pela praça do mercado até a Pizzeria Picobello, perseguidos por um bando de 50 pessoas. Eles se trancaram no restaurante, enquanto o bando irado tentava arrombá-lo. Janelas foram quebradas, um carro foi destruído e as portas da frente e dos fundos do restaurante, derrubadas.
Foram necessários 70 policiais para desbaratar o bando, que parece ter-se formado espontaneamente, unido pelo desprezo aos imigrantes. Em Mügeln, cidadãos comuns - e não neonazistas organizados - foram os que incitaram a perseguição contra pessoas que, como insiste o prefeito Deuse, estão "totalmente integradas" à cidade, depois de viver ali há 12 anos.
A 90 km a leste, a cidade de Hoyerswerda já sente os efeitos de um incidente passado. Algumas semanas atrás a rede de hotéis Achat rebatizou uma de suas unidades. O Achat Hotel Hoyerswerda agora se chama Achat Hotel Lausitz. O nome Hoyerswerda era estreitamente associado à primeiro perseguição a estrangeiros da história alemã no pós-guerra - em 1991, os neonazistas sitiaram durante cinco dias uma hospedaria de imigrantes que buscavam asilo, enquanto a população local olhava e aplaudia.
Os eventos dramáticos que se seguiram estão bem documentados. Os oito indianos correram pela praça do mercado até a Pizzeria Picobello, perseguidos por um bando de 50 pessoas. Eles se trancaram no restaurante, enquanto o bando irado tentava arrombá-lo. Janelas foram quebradas, um carro foi destruído e as portas da frente e dos fundos do restaurante, derrubadas.
Foram necessários 70 policiais para desbaratar o bando, que parece ter-se formado espontaneamente, unido pelo desprezo aos imigrantes. Em Mügeln, cidadãos comuns - e não neonazistas organizados - foram os que incitaram a perseguição contra pessoas que, como insiste o prefeito Deuse, estão "totalmente integradas" à cidade, depois de viver ali há 12 anos.
A 90 km a leste, a cidade de Hoyerswerda já sente os efeitos de um incidente passado. Algumas semanas atrás a rede de hotéis Achat rebatizou uma de suas unidades. O Achat Hotel Hoyerswerda agora se chama Achat Hotel Lausitz. O nome Hoyerswerda era estreitamente associado à primeiro perseguição a estrangeiros da história alemã no pós-guerra - em 1991, os neonazistas sitiaram durante cinco dias uma hospedaria de imigrantes que buscavam asilo, enquanto a população local olhava e aplaudia.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Der Spiegel, 28/08/2007]
Postar um comentário