Jan Krauze
O bonde está quase vazio. Um dos dois únicos passageiros, um homem baixo de cabelos grisalhos, com uma atadura em volta da cabeça e uma boina, fala com a condutora sobre a situação política. São cerca de 23h da noite de 6 para 7 de novembro de 1917 (24 para 25 de outubro, segundo o calendário russo da época) e o passageiro é Lênin.
O Comitê Central do Partido Bolchevique lhe pedira para ficar em uma discreta casa na periferia de Petrogrado, onde ele se esconde desde sua recente volta da Finlândia. Mas ele não suporta mais ficar longe da ação: está convencido de que o poder está ao alcance da mão, quer desencadear o golpe de Estado. Por isso ele recolocou sua peruca -continua sem barba, desde que Stálin a raspou, em julho. Ele e seu único guarda-costas, um bolchevique finlandês, são abordados por uma patrulha da polícia governamental, que os toma por bêbados e os deixa passar. Por volta de meia-noite, ele chega diante do Instituto Smolny, sede de todos os partidos revolucionários, e só consegue entrar graças a um empurrão: não tem salvo-conduto.
Assim que entra, ele se faz reconhecer e convoca imediatamente uma reunião do Comitê Central. Todos os chefes do partido estão lá. Em fevereiro, a revolução popular havia eclodido espontaneamente, surpreendendo os bolcheviques "profundamente adormecidos como as virgens loucas do Evangelho", para usar as palavras de um deles. Lênin estava em Zurique, Trótski em Nova York, Stálin na Sibéria. Desta vez eles estão no comando. Mas não há acordo entre eles. Há meses Kamenev repete que seria irresponsável tentar um golpe de Estado, enquanto a situação não está madura e a sociedade não está pronta. Lênin, há muito tempo quase isolado em sua opinião, afirma que há urgência de agir, e agir pela força. Mas dessa vez não há mais necessidade de martelar seus argumentos: o golpe de Estado já está a caminho, na verdade.
Estranho golpe de Estado, de fato. Uma operação desse tipo supostamente apanharia todo mundo de surpresa: mas faz dias ou semanas que quase todo mundo fala sobre ele. Kerênski, o chefe do governo que saiu da revolução de fevereiro, chega a "rezar" para que ele aconteça, convencido de que será a oportunidade para esmagar definitivamente os bolcheviques. Os quais são tudo menos discretos: Trótski explica aos soldados da fortaleza Pedro-e-Paulo que "o governo, impotente, só espera uma vassourada da história". "Sim, houve uma insurreição", ele declara em 5 de novembro para um militante socialista revolucionário, "e os bolcheviques vão tomar o poder."
O jornal de Górki, "Novaïa Jizn", publicou em 30 de outubro uma entrevista de Kamenev que revela o projeto da insurreição armada -um bom meio, segundo ele, de torpedeá-lo. Em 6 de novembro, outro jornal, este menchevique, apresenta até um plano da insurreição.
Na situação incontrolável que prevalece em Petrogrado depois do fracasso do "putsch" do general Kornilov, a luta pelo poder já está amplamente em curso. Temendo ser enviadas ao front (os alemães se aproximam da capital), as tropas não obedecem mais às ordens do estado-maior. Desde 21 de outubro o Comitê Militar Revolucionário (CMR, que teoricamente emana do soviete de Petrogrado, mas na verdade é controlado pelos bolcheviques) afirmou sua autoridade sobre as tropas estacionadas na cidade.
É em nome do CMR que Trótski mandou pegar milhares de fuzis nos arsenais. Ainda em nome do CMR, ele vai à fortaleza Pedro-e-Paulo, onde já esteve encarcerado, e garante o apoio da guarnição. Sempre, teoricamente, para "defender" o soviete das intrigas da "contra-revolução, que revelou sua mente criminosa", como proclamam cartazes afixados em 6 de novembro nos muros de Petrogrado. No mesmo dia, Dzerjinski, o futuro chefe da Tcheka, o braço-armado do poder, se apodera da central telefônica e telegráfica do governo, depois do correio central. Kerênski bem que tentou reagir, mandar prender os dirigentes bolcheviques, mas suas ordens foram interceptadas. Ele mandou levantar as pontes do rio Neva para cortar a cidade e impedir o avanço dos rebeldes. Mas os bolcheviques conseguiram que elas fossem novamente abaixadas. O próprio chefe do governo afirmou ao embaixador da França, Joseph Noulens, que várias divisões fiéis estavam marchando para Petrogrado, sem realmente tranqüilizar o diplomata, habituado a suas fanfarronices.
As coisas andam depressa, mas não o suficiente para o gosto de Lênin, que tem uma obsessão: terminar antes da reunião do Congresso dos Sovietes, prevista para a tarde de 7 de novembro. Ele quer que os delegados sejam postos diante do fato consumado, que se tome o Palácio de Inverno, sede do governo, que se prendam os ministros. Lênin, "como um leão enjaulado, gritava, urrava, estava pronto para nos mandar fuzilar", contaria um militante bolchevique. Desde a manhã de 25 de outubro, ele lançou uma proclamação "a todos os cidadãos da Rússia: o governo provisório está destituído", "o poder passou ao Comitê Militar Revolucionário, que é a cabeça do proletariado e da guarnição de Petrogrado". O "Rabotchi Pout", jornal dirigido por Stálin, já deu a manchete sobre a vitória...
Na realidade, nada está decidido. Kerênski acaba de deixar Petrogrado para buscar tropas pessoalmente. O governo ainda se mantém, apesar dos últimos atos bolcheviques, mas é fracamente protegido por algumas centenas de cadetes (os "junkers") e um batalhão de mulheres, e foi abandonado pelos cossacos. Os 300 deputados da Duma (Parlamento) municipal chegaram a avançar em coluna, cada um armado de um pão e um salame para os defensores do Palácio de Inverno. Eles foram instados a regressar e obedeceram. O ministro do Abastecimento, que conduzia a coluna, considerou que "não teria sido uma dignidade ser mortos na rua".
Os bolcheviques previram que o sinal de ataque contra o Palácio de Inverno deveria ser dado por um lampião vermelho içado no mastro da fortaleza Pedro-e-Paulo. Perde-se um tempo considerável para se encontrar um lampião. Às 21h40 a luz vermelha afinal se acende, imediatamente seguida, como previsto, por uma enorme detonação: um único tiro, disparado do cruzador Aurora, atracado nas proximidades.
O assalto que se segue imediatamente ao Palácio de Inverno pertence ao mito, veiculado por "Outubro", o filme de Eisenstein: uma população em armas que se atira contra o antigo palácio do czar. Na verdade, o caso foi rapidamente resolvido e envolveu um número muito pequeno de combatentes. O batalhão feminino se rendeu rapidamente e os junkers, pouco numerosos para defender o enorme edifício, foram rapidamente expulsos. Às 2h da manhã tudo está terminado, os ministros do governo se deixam levar à fortaleza Pedro-e-Paulo.
A maioria dos habitantes da cidade nada percebeu. Os bondes continuaram circulando, o ilustre Chaliapin cantou "Don Carlos" na Casa do Povo, e John Reed, o jornalista americano autor de "Dez Dias que Abalaram o Mundo", jantou tranqüilamente no Hotel de France, bem perto da praça do palácio.
No Instituto Smolny, o antigo pensionato para moças da nobreza onde se amontoam os delegados esmagados pelo cansaço, em um forte odor de tabaco e urina, o Congresso dos Sovietes acabou de começar, pouco depois das 22h. Os mencheviques e os socialistas revolucionários, para protestar contra o golpe de força, essa "aventura criminosa", deixam a sala sob as vaias dos bolcheviques. O lugar fica livre para a célebre peroração de Trótski, que, segundo John Reed, levanta-se, com "o rosto pálido, a expressão cruel e, com uma frieza de desprezo", recusa qualquer compromisso com os outros partidos revolucionários e os insulta: "Vocês são uns coitados, uns fracassados. Seu papel terminou. Vão para seu lugar, no lixo da história".
O tom está dado. Algumas horas mais tarde, o mesmo congresso vota três decretos redigidos por Lênin: um dá "todo o poder ao sovietes" (slogan puramente tático, o dirigente bolchevique tem apenas desprezo por esses "moinhos de palavras"), o outro proclama a vontade de pôr fim à guerra, o terceiro, o princípio da "terra para os camponeses".
Nesse momento, o Palácio de Inverno, que caiu há muito tempo, vê uma multidão entusiástica se comprimir nele: foram descobertas as adegas do palácio, toma-se Château Yquem e vodca. A bebedeira dura vários dias e quando, para terminá-la, se manda jogar o vinho na rua, os passantes começam a beber nas sarjetas. Em Petrogrado, os últimos pontos de resistência são reduzidos. O jornalista francês Claude Anet vê os guardas vermelhos tomarem as escolas de oficiais, uma após a outra. "Eles se apoderam dos pequenos junkers brancos e rosa, tão limpos, tão cuidados, filhos de burgueses lavados e engomados que ainda aprendem a arte da guerra, e os massacram."
Kerênski, que só conseguiu reunir algumas tropas, é incapaz de fazê-las avançar para Petrogrado. Em Moscou a resistência aos bolcheviques é muito mais forte e sangrenta, mas finalmente também é inútil. "Se o partido tomar o poder, ninguém mais poderá expulsá-lo", escreveu Lênin em setembro de 1917. Ele estava errado, mas só se saberia disso depois de 74 anos de regime soviético.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
[Le Monde, 06/11/2007]
O bonde está quase vazio. Um dos dois únicos passageiros, um homem baixo de cabelos grisalhos, com uma atadura em volta da cabeça e uma boina, fala com a condutora sobre a situação política. São cerca de 23h da noite de 6 para 7 de novembro de 1917 (24 para 25 de outubro, segundo o calendário russo da época) e o passageiro é Lênin.
O Comitê Central do Partido Bolchevique lhe pedira para ficar em uma discreta casa na periferia de Petrogrado, onde ele se esconde desde sua recente volta da Finlândia. Mas ele não suporta mais ficar longe da ação: está convencido de que o poder está ao alcance da mão, quer desencadear o golpe de Estado. Por isso ele recolocou sua peruca -continua sem barba, desde que Stálin a raspou, em julho. Ele e seu único guarda-costas, um bolchevique finlandês, são abordados por uma patrulha da polícia governamental, que os toma por bêbados e os deixa passar. Por volta de meia-noite, ele chega diante do Instituto Smolny, sede de todos os partidos revolucionários, e só consegue entrar graças a um empurrão: não tem salvo-conduto.
Assim que entra, ele se faz reconhecer e convoca imediatamente uma reunião do Comitê Central. Todos os chefes do partido estão lá. Em fevereiro, a revolução popular havia eclodido espontaneamente, surpreendendo os bolcheviques "profundamente adormecidos como as virgens loucas do Evangelho", para usar as palavras de um deles. Lênin estava em Zurique, Trótski em Nova York, Stálin na Sibéria. Desta vez eles estão no comando. Mas não há acordo entre eles. Há meses Kamenev repete que seria irresponsável tentar um golpe de Estado, enquanto a situação não está madura e a sociedade não está pronta. Lênin, há muito tempo quase isolado em sua opinião, afirma que há urgência de agir, e agir pela força. Mas dessa vez não há mais necessidade de martelar seus argumentos: o golpe de Estado já está a caminho, na verdade.
Estranho golpe de Estado, de fato. Uma operação desse tipo supostamente apanharia todo mundo de surpresa: mas faz dias ou semanas que quase todo mundo fala sobre ele. Kerênski, o chefe do governo que saiu da revolução de fevereiro, chega a "rezar" para que ele aconteça, convencido de que será a oportunidade para esmagar definitivamente os bolcheviques. Os quais são tudo menos discretos: Trótski explica aos soldados da fortaleza Pedro-e-Paulo que "o governo, impotente, só espera uma vassourada da história". "Sim, houve uma insurreição", ele declara em 5 de novembro para um militante socialista revolucionário, "e os bolcheviques vão tomar o poder."
O jornal de Górki, "Novaïa Jizn", publicou em 30 de outubro uma entrevista de Kamenev que revela o projeto da insurreição armada -um bom meio, segundo ele, de torpedeá-lo. Em 6 de novembro, outro jornal, este menchevique, apresenta até um plano da insurreição.
Na situação incontrolável que prevalece em Petrogrado depois do fracasso do "putsch" do general Kornilov, a luta pelo poder já está amplamente em curso. Temendo ser enviadas ao front (os alemães se aproximam da capital), as tropas não obedecem mais às ordens do estado-maior. Desde 21 de outubro o Comitê Militar Revolucionário (CMR, que teoricamente emana do soviete de Petrogrado, mas na verdade é controlado pelos bolcheviques) afirmou sua autoridade sobre as tropas estacionadas na cidade.
É em nome do CMR que Trótski mandou pegar milhares de fuzis nos arsenais. Ainda em nome do CMR, ele vai à fortaleza Pedro-e-Paulo, onde já esteve encarcerado, e garante o apoio da guarnição. Sempre, teoricamente, para "defender" o soviete das intrigas da "contra-revolução, que revelou sua mente criminosa", como proclamam cartazes afixados em 6 de novembro nos muros de Petrogrado. No mesmo dia, Dzerjinski, o futuro chefe da Tcheka, o braço-armado do poder, se apodera da central telefônica e telegráfica do governo, depois do correio central. Kerênski bem que tentou reagir, mandar prender os dirigentes bolcheviques, mas suas ordens foram interceptadas. Ele mandou levantar as pontes do rio Neva para cortar a cidade e impedir o avanço dos rebeldes. Mas os bolcheviques conseguiram que elas fossem novamente abaixadas. O próprio chefe do governo afirmou ao embaixador da França, Joseph Noulens, que várias divisões fiéis estavam marchando para Petrogrado, sem realmente tranqüilizar o diplomata, habituado a suas fanfarronices.
As coisas andam depressa, mas não o suficiente para o gosto de Lênin, que tem uma obsessão: terminar antes da reunião do Congresso dos Sovietes, prevista para a tarde de 7 de novembro. Ele quer que os delegados sejam postos diante do fato consumado, que se tome o Palácio de Inverno, sede do governo, que se prendam os ministros. Lênin, "como um leão enjaulado, gritava, urrava, estava pronto para nos mandar fuzilar", contaria um militante bolchevique. Desde a manhã de 25 de outubro, ele lançou uma proclamação "a todos os cidadãos da Rússia: o governo provisório está destituído", "o poder passou ao Comitê Militar Revolucionário, que é a cabeça do proletariado e da guarnição de Petrogrado". O "Rabotchi Pout", jornal dirigido por Stálin, já deu a manchete sobre a vitória...
Na realidade, nada está decidido. Kerênski acaba de deixar Petrogrado para buscar tropas pessoalmente. O governo ainda se mantém, apesar dos últimos atos bolcheviques, mas é fracamente protegido por algumas centenas de cadetes (os "junkers") e um batalhão de mulheres, e foi abandonado pelos cossacos. Os 300 deputados da Duma (Parlamento) municipal chegaram a avançar em coluna, cada um armado de um pão e um salame para os defensores do Palácio de Inverno. Eles foram instados a regressar e obedeceram. O ministro do Abastecimento, que conduzia a coluna, considerou que "não teria sido uma dignidade ser mortos na rua".
Os bolcheviques previram que o sinal de ataque contra o Palácio de Inverno deveria ser dado por um lampião vermelho içado no mastro da fortaleza Pedro-e-Paulo. Perde-se um tempo considerável para se encontrar um lampião. Às 21h40 a luz vermelha afinal se acende, imediatamente seguida, como previsto, por uma enorme detonação: um único tiro, disparado do cruzador Aurora, atracado nas proximidades.
O assalto que se segue imediatamente ao Palácio de Inverno pertence ao mito, veiculado por "Outubro", o filme de Eisenstein: uma população em armas que se atira contra o antigo palácio do czar. Na verdade, o caso foi rapidamente resolvido e envolveu um número muito pequeno de combatentes. O batalhão feminino se rendeu rapidamente e os junkers, pouco numerosos para defender o enorme edifício, foram rapidamente expulsos. Às 2h da manhã tudo está terminado, os ministros do governo se deixam levar à fortaleza Pedro-e-Paulo.
A maioria dos habitantes da cidade nada percebeu. Os bondes continuaram circulando, o ilustre Chaliapin cantou "Don Carlos" na Casa do Povo, e John Reed, o jornalista americano autor de "Dez Dias que Abalaram o Mundo", jantou tranqüilamente no Hotel de France, bem perto da praça do palácio.
No Instituto Smolny, o antigo pensionato para moças da nobreza onde se amontoam os delegados esmagados pelo cansaço, em um forte odor de tabaco e urina, o Congresso dos Sovietes acabou de começar, pouco depois das 22h. Os mencheviques e os socialistas revolucionários, para protestar contra o golpe de força, essa "aventura criminosa", deixam a sala sob as vaias dos bolcheviques. O lugar fica livre para a célebre peroração de Trótski, que, segundo John Reed, levanta-se, com "o rosto pálido, a expressão cruel e, com uma frieza de desprezo", recusa qualquer compromisso com os outros partidos revolucionários e os insulta: "Vocês são uns coitados, uns fracassados. Seu papel terminou. Vão para seu lugar, no lixo da história".
O tom está dado. Algumas horas mais tarde, o mesmo congresso vota três decretos redigidos por Lênin: um dá "todo o poder ao sovietes" (slogan puramente tático, o dirigente bolchevique tem apenas desprezo por esses "moinhos de palavras"), o outro proclama a vontade de pôr fim à guerra, o terceiro, o princípio da "terra para os camponeses".
Nesse momento, o Palácio de Inverno, que caiu há muito tempo, vê uma multidão entusiástica se comprimir nele: foram descobertas as adegas do palácio, toma-se Château Yquem e vodca. A bebedeira dura vários dias e quando, para terminá-la, se manda jogar o vinho na rua, os passantes começam a beber nas sarjetas. Em Petrogrado, os últimos pontos de resistência são reduzidos. O jornalista francês Claude Anet vê os guardas vermelhos tomarem as escolas de oficiais, uma após a outra. "Eles se apoderam dos pequenos junkers brancos e rosa, tão limpos, tão cuidados, filhos de burgueses lavados e engomados que ainda aprendem a arte da guerra, e os massacram."
Kerênski, que só conseguiu reunir algumas tropas, é incapaz de fazê-las avançar para Petrogrado. Em Moscou a resistência aos bolcheviques é muito mais forte e sangrenta, mas finalmente também é inútil. "Se o partido tomar o poder, ninguém mais poderá expulsá-lo", escreveu Lênin em setembro de 1917. Ele estava errado, mas só se saberia disso depois de 74 anos de regime soviético.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
[Le Monde, 06/11/2007]
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