O aumento da negociação de contratos futuros de petróleo tem contribuído para a alta dos preços. Mas até o momento não há evidência de estocagem
Moira Herbst*
Especulação. Manipulação. Enquanto políticos, empresários e consumidores comuns tentam entender as causas e efeitos do aumento histórico nos preços do petróleo, a atenção se volta para as noções sombrias de manobras financeiras exploradoras.
Estarão investidores hábeis lucrando -ou até mesmo monopolizando uma parcela do mercado- e assim contribuindo para a alta dolorosa que está afetando a todos, de companhias aéreas a motoristas nas bombas de gasolina?
Adotando um tom populista em sua campanha presidencial, a senadora Hillary Clinton (democrata de Nova York) pediu por uma "repressão à especulação dos investidores em energia e à manipulação dos mercados de petróleo e gás". O vice-presidente sênior da ExxonMobil, J. Stephen Simon, tentando se esquivar das críticas aos lucros das companhias de petróleo, disse a um comitê do Senado, em 21 de maio, que a especulação, juntamente com instabilidade geopolítica e o dólar desvalorizado, criaram uma "desconexão" entre os padrões de preço do passado e o preço atual de US$ 131 o barril. Motivado por um desejo semelhante de desviar o ultraje para outra direção, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Abdalla El Badri, também destacou o papel dos especuladores na alta dos preços.
Quando o petróleo sobe tanto quanto recentemente, dobrando desde maio de 2007, é natural presumir que algo significativo deve ter mudado. Alguns dizem que o mundo está ficando sem o produto; outros culpam a manipulação do mercado. A busca por um culpado é compreensível.
Mas evidência persuasiva da manipulação por investidores é, até o momento, inexistente. Especulação -fazer apostas nos preços futuros- é outra coisa. Há muito disso, e geralmente é legal. Na verdade, há um bom argumento, apesar de não haver prova conclusiva, de que a escalada acentuada no comércio de contratos futuros de petróleo tem contribuído para os aumentos dos preços. Mas é importante lembrar que a natureza do mercado de petróleo -especificamente, a extrema inflexibilidade tanto na oferta quanto na demanda- está amplificando qualquer influência que os especuladores estejam exercendo nos preços.
Pois para haver manipulação real, os especuladores teriam que manter quantidades substanciais de petróleo fora do mercado, planejando descarregá-lo no futuro. Jeff Bingaman, democrata do Novo México e presidente do Comitê de Energia do Senado, sugeriu que uma recente tendência dos investidores institucionais de adquirir capacidade de estocagem de petróleo cria "preocupações em relação a potenciais estratégias de manipulação do mercado". Em uma carta em 27 de maio, ele repreendeu as autoridades da Comissão de Comércio de Commodities e Futuros (CFTC) pelo seu depoimento "altamente incompleto" durante recentes audiências sobre especulação de petróleo. Ele exigiu mais informações sobre como a agência monitora o mercado.
Mas suspeita não é o mesmo que evidência. Até o momento, ninguém apontou para exemplos específicos de estocagem. Os especialistas da CFTC disseram que as forças do mercado estão elevando os preços. A agência disse que está trabalhando em uma resposta à carta de Bingaman.
O que pode ser corroborado é que fundos hedge, bancos de investimento, fundos de pensão e outros investidores profissionais estão despejando quantidades cada vez maiores de dinheiro em petróleo e outras commodities, buscando uma proteção contra a inflação e alternativas a um mercado de ações instável. Nos últimos cinco anos, o investimento em fundos de índices ligados aos preços das commodities cresceu de US$ 13 bilhões para US$ 260 bilhões. Mais de 630 fundos hedge de energia estão fazendo apostas, em comparação a apenas 180 em 2004, segundo Peter C. Fusaro, fundador do Energy Hedge Fund Center, um site de informação de investimento.
Os corretores de contratos futuros na IntercontinentalExchange fizeram apostas em petróleo em um valor total de US$ 8 trilhões em 2007, em comparação a US$ 1,7 trilhão em 2005, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. No mesmo período, o volume de contratos futuros negociados na Bolsa Mercantil de Nova York mais que dobrou, apesar de números em dólares não estarem disponíveis. O mercado de balcão é ainda maior, mas difícil de medir.
Com o crescente aumento da demanda de energia pela China e com a oferta mundial estagnada, o afluxo de dinheiro tem contribuído para a alta dos preços. "Os fundos hedge e especuladores provocaram uma alta bem maior do que deveria", disse Malcolm M. Turner, presidente da Turner, Mason & Co., um firma de consultoria de refino, em Dallas.
Na maioria dos mercados, a alta dos preços resultaria em maior oferta e diminuição da demanda. Isto estabilizaria os preços. Mas o mercado de petróleo não está funcionando desta forma. A oferta está basicamente fixada a curto prazo, porque são necessários anos para encontrar novos campos e colocá-los em operação. Enquanto isso, a demanda também é fixa, já que não há pronto substituto para a gasolina, diesel e combustível para jatos. Cheios de dinheiro de investidores de todo tipo, os corretores atentos a estas condições têm apostado na alta dos preços.
É difícil calibrar a influência da especulação, porque grande parte do mercado de petróleo não é regulado. Essa nebulosidade quase que assegura que as teorias de conspiração continuarão proliferando.
*Peter Coy e Christopher Palmeri contribuíram com a reportagem
Tradução: George El Khouri Andolfato
[Der Spiegel]
Especulação. Manipulação. Enquanto políticos, empresários e consumidores comuns tentam entender as causas e efeitos do aumento histórico nos preços do petróleo, a atenção se volta para as noções sombrias de manobras financeiras exploradoras.
Estarão investidores hábeis lucrando -ou até mesmo monopolizando uma parcela do mercado- e assim contribuindo para a alta dolorosa que está afetando a todos, de companhias aéreas a motoristas nas bombas de gasolina?
Adotando um tom populista em sua campanha presidencial, a senadora Hillary Clinton (democrata de Nova York) pediu por uma "repressão à especulação dos investidores em energia e à manipulação dos mercados de petróleo e gás". O vice-presidente sênior da ExxonMobil, J. Stephen Simon, tentando se esquivar das críticas aos lucros das companhias de petróleo, disse a um comitê do Senado, em 21 de maio, que a especulação, juntamente com instabilidade geopolítica e o dólar desvalorizado, criaram uma "desconexão" entre os padrões de preço do passado e o preço atual de US$ 131 o barril. Motivado por um desejo semelhante de desviar o ultraje para outra direção, o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Abdalla El Badri, também destacou o papel dos especuladores na alta dos preços.
Quando o petróleo sobe tanto quanto recentemente, dobrando desde maio de 2007, é natural presumir que algo significativo deve ter mudado. Alguns dizem que o mundo está ficando sem o produto; outros culpam a manipulação do mercado. A busca por um culpado é compreensível.
Mas evidência persuasiva da manipulação por investidores é, até o momento, inexistente. Especulação -fazer apostas nos preços futuros- é outra coisa. Há muito disso, e geralmente é legal. Na verdade, há um bom argumento, apesar de não haver prova conclusiva, de que a escalada acentuada no comércio de contratos futuros de petróleo tem contribuído para os aumentos dos preços. Mas é importante lembrar que a natureza do mercado de petróleo -especificamente, a extrema inflexibilidade tanto na oferta quanto na demanda- está amplificando qualquer influência que os especuladores estejam exercendo nos preços.
Pois para haver manipulação real, os especuladores teriam que manter quantidades substanciais de petróleo fora do mercado, planejando descarregá-lo no futuro. Jeff Bingaman, democrata do Novo México e presidente do Comitê de Energia do Senado, sugeriu que uma recente tendência dos investidores institucionais de adquirir capacidade de estocagem de petróleo cria "preocupações em relação a potenciais estratégias de manipulação do mercado". Em uma carta em 27 de maio, ele repreendeu as autoridades da Comissão de Comércio de Commodities e Futuros (CFTC) pelo seu depoimento "altamente incompleto" durante recentes audiências sobre especulação de petróleo. Ele exigiu mais informações sobre como a agência monitora o mercado.
Mas suspeita não é o mesmo que evidência. Até o momento, ninguém apontou para exemplos específicos de estocagem. Os especialistas da CFTC disseram que as forças do mercado estão elevando os preços. A agência disse que está trabalhando em uma resposta à carta de Bingaman.
O que pode ser corroborado é que fundos hedge, bancos de investimento, fundos de pensão e outros investidores profissionais estão despejando quantidades cada vez maiores de dinheiro em petróleo e outras commodities, buscando uma proteção contra a inflação e alternativas a um mercado de ações instável. Nos últimos cinco anos, o investimento em fundos de índices ligados aos preços das commodities cresceu de US$ 13 bilhões para US$ 260 bilhões. Mais de 630 fundos hedge de energia estão fazendo apostas, em comparação a apenas 180 em 2004, segundo Peter C. Fusaro, fundador do Energy Hedge Fund Center, um site de informação de investimento.
Os corretores de contratos futuros na IntercontinentalExchange fizeram apostas em petróleo em um valor total de US$ 8 trilhões em 2007, em comparação a US$ 1,7 trilhão em 2005, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. No mesmo período, o volume de contratos futuros negociados na Bolsa Mercantil de Nova York mais que dobrou, apesar de números em dólares não estarem disponíveis. O mercado de balcão é ainda maior, mas difícil de medir.
Com o crescente aumento da demanda de energia pela China e com a oferta mundial estagnada, o afluxo de dinheiro tem contribuído para a alta dos preços. "Os fundos hedge e especuladores provocaram uma alta bem maior do que deveria", disse Malcolm M. Turner, presidente da Turner, Mason & Co., um firma de consultoria de refino, em Dallas.
Na maioria dos mercados, a alta dos preços resultaria em maior oferta e diminuição da demanda. Isto estabilizaria os preços. Mas o mercado de petróleo não está funcionando desta forma. A oferta está basicamente fixada a curto prazo, porque são necessários anos para encontrar novos campos e colocá-los em operação. Enquanto isso, a demanda também é fixa, já que não há pronto substituto para a gasolina, diesel e combustível para jatos. Cheios de dinheiro de investidores de todo tipo, os corretores atentos a estas condições têm apostado na alta dos preços.
É difícil calibrar a influência da especulação, porque grande parte do mercado de petróleo não é regulado. Essa nebulosidade quase que assegura que as teorias de conspiração continuarão proliferando.
*Peter Coy e Christopher Palmeri contribuíram com a reportagem
Tradução: George El Khouri Andolfato
[Der Spiegel]
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