1964: O Prof. Almir fala ao Jornal Bom Dia

De revolução a golpe, 1964 ainda é discussão polêmica
Ensino sobre assunto começou a ficar mais claro a partir de 1990

Adriana Alves, da Agência BOM DIA
Capa da ediçãoRevolução ou golpe? Embora hoje seja tratado como golpe, o movimento político militar emplacado há 44 anos, em 31 de março de 1964, foi, por duas décadas, ensinado nas escolas de ensino médio e fundamental como uma revolução, de acordo com a versão dos militares. “Até o final do governo Sarney [1990], o mais comum ainda era tratar o Golpe Militar de 1964 como uma revolução. Mas, nas universidades, esse conceito sempre foi questionado”, afirma Suzeley Kalil Mathias, 44 anos, cientista política e professora livre docente da Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Franca. “Mas o significado de 1964 nunca foi consensual. Ainda hoje, há setores da sociedade que tratam o golpe como revolução, como os integrantes mais conservadores das Forças Armadas”, acrescenta Suzeley.

Para Almir Roberto Ribeiro, 47, professor de história do ensino médio, o conteúdo dos livros didáticos atuais ainda é um “pouco confuso e reducionista”.

“É reducionista tratar este movimento político militar desencadeado em 1964 como revolução ou mesmo como golpe. Foi um embate entre dois projetos de Brasis: de um lado, o nacional popular sintetizado nas reformas de base que o João Goulart pretendia promover e, do outro, o projeto dos militares, autoritário e conservador no plano político, excludente no aspecto social, mas modernizador do ponto de vista econômico”, aponta o professor.

Para ele, o Brasil atual é resultado do ocorrido há 44 anos: economicamente moderno, mas socialmente excludente.“Mesmo vivendo numa democracia, a base permanece a mesma instituída pelo regime militar há quatro décadas. Ainda há muito a avançar para superarmos os resquícios deixados pela ditadura. O Brasil ainda está entre os países com os piores níveis de distribuição de renda”, diz Almir.

Resgate sobre período é contínuo
Para a cientista política Suzeley Kalil Mathias, ainda há muito o que resgatar do que significaram os 21 anos de ditadura militar. “Embora já tenhamos conhecimento ou desconfiança sobre a maioria dos fatos ocorridos, ainda há muitas questões a serem aprofundadas ou esclarecidas, mas temos resgatado documentos e fatos importantes nesse sentido”, afirma.

Como exemplo, a cientista cita a declaração do ex-agente do serviço de inteligência do governo uruguaio Mario Neira Barreiro, 54, que teria espionado durante quatro anos o presidente João Goulart e que diz que o político teria sido morto por envenenamento a pedido do governo brasileiro. Jango, como era conhecido o presidente que governou o país de 1961 até ser destituído em 31 de março de 1964, morreu na Argentina em 6 de dezembro de 1976 – oficialmente de ataque cardíaco.

“Revelações como estas são de suma importância para resgatarmos todos os fatos históricos do período militar, para elucidarmos o que realmente ocorreu no país durante a ditadura e entendermos melhor suas conseqüências”, diz Suzeley.

‘O golpe teve antecedentes’
Embora os militares tenham tomado o poder efetivamente em 31 de março de 1964, anos antes já havia manifestações golpistas, segundo o historiador João Francisco Tidei de Lima. “Por volta de 1954, por exemplo, o presidente Getúlio Vargas, que tinha uma política econômica fortemente nacionalista, foi deposto por militares na madrugada de 24 de agosto de 1954. Ele reagiu ao golpe praticando o suicídio”, exemplifica.

“Em agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros, empossado em 31 de janeiro, encenou uma renúncia, mas na verdade pretendia dar um golpe, que não deu certo. E como ele não conseguiu voltar ao poder, seu vice, João Goulart, que era uma espécie de afilhado político de Getúlio, acabou assumindo o governo, sob a condição de adotar um regime parlamentarista. Ou seja, o golpe de 1964 já tinha antecedentes”, explica.


[Jornal Bom Dia Bauru, 31/03/2008]

A educação, entre o balcão e o ensino

A lógica do preço por quilo é para salsichas, não para escolas

José de Souza Martins
As reiteradas e desencontradas notícias sobre o ensino e a educação no Brasil nem sempre tocam no essencial. De um lado, espetaculares estatísticas sobre matrículas nos vários níveis de ensino sugerem que crescente e alta proporção de brasileiros tem acesso à escola e por ela se interessa. De outro lado, porém, notícias de rendimentos escolares muito aquém do mínimo numa sociedade com as aspirações e as necessidades da nossa sugerem que o êxito numérico nas estatísticas seja contrabalançado por fracassos melancólicos no aprendizado. Portanto, muita gente estudando e pouca gente aprendendo. Nossa educação não está preparando as novas gerações para que o Brasil idílico tire as patas do Terceiro Mundo e ponha os pés no mundo moderno e desenvolvido. Porque, se continuarmos nessa relutância educacional e nesses resultados desalentadores, nosso destino será, inevitavelmente, o passado, de quando os brasileiros que trabalhavam eram politicamente classificados como semoventes.

Essas preocupantes adversidades não devem se sobrepor ao fato de que há no País generalizado apreço pela educação e disseminada vontade de aprender. Fazendo pesquisas em remotas regiões do Brasil, conheci esforços comoventes de pais muito pobres para assegurar aos filhos a escolarização sem a qual, sabem, estarão eles condenados à vida sem perspectiva que ameaça os faltos de escolaridade. Em lugares de absoluta ausência do poder público, pais pagando professores leigos com gêneros colhidos na roça para que em troca ensinassem a seus filhos o fundamental para transitar neste complicado mundo de letras e escritos. Ou crianças caminhando pelo vazio dos ermos para, na casa de pau-a-pique de um mestre-escola, sentadas em tamboretes de couro cru, usando os joelhos como carteira, aprenderem a desenhar as letras enigmáticas do grande e misterioso mundo que as relegou à orfandade cultural. Armei minha rede em muitos casebres, por aí, cujos donos se orgulhavam de ter em casa até “livros”, como os almanaques de farmácia e suas preciosas informações sobre as fases da lua e as épocas de plantio de plantas que conheciam só de nome, ou modos de fazer sabão com o óleo de sementes para não dependerem só do sebo. Sem contar as folhinhas de Santo Antônio ou do Sagrado Coração, com as mesmas fases da lua, o número do dia bem grande, e, no verso, o conselho do dia. Coisas de quem quer ler e saber.

Outro indício dessa valorização da escola é, sem dúvida, o êxito da escolarização promovida pelo MST, apesar dos conteúdos pedagógicos discutíveis e dos simplismos ideológicos que empobrecem as metas educativas e, nesse particular, suprem carências de saber com outras ignorâncias. Em particular na mutilação da utopia da universalidade do ser e do direito. Mas nem por isso deve-se deplorar o justo colocar ao alcance de gente no geral muito pobre e desprovida o acesso à leitura e ao livro, ao aprendizado, a saberes alternativos, a formas defensivas de cultura e de compreensão. Sobretudo porque a ideologia educacional do MST tem a coerência que falta à ideologia sindicalista dos professores da rede pública e privada de ensino: a escola dos sem-terra liga-se ao projeto utópico de um modo de vida que é viável e representa uma resistência legítima às diferentes forças que, em nome da grande economia multinacionalizada e voraz, nulificam valores, crenças, maneiras de viver e capitais sociais acumulados ao longo dos séculos. Mesmo na dureza de acampamentos instáveis, não falta a escola do professor voluntário que em nome de uma esperança e no meio do desespero ensina aos imaturos que na educação reside uma das poucas saídas da sociedade contemporânea.

Avaliação recente da qualidade das escolas mostrou que os melhores resultados estão em municípios que não se destacam pela exuberância econômica. São aquelas localidades em que ainda há lugar para um estilo comunitário de vida, norteado por valores tradicionais, em que os pais se sentem parte da instituição, em que a escola é considerada uma extensão da casa e das missões da família, em que o professor é tratado com admiração e respeito. Tudo muito longe da racionalidade econométrica e quantitativa, em que o aprendizado é mero subproduto do diploma.

O que surpreende em tudo isso é que o déficit da educação brasileira só não é maior por conta dessas iniciativas enraizadas em objetivos conservadores e esperanças restritas, até estranhas em relação às grandes funções da educação moderna, iniciativas à margem das responsabilidades e possibilidades do Estado e do governo. Iniciativas em contraste com a modernidade que pode dar à educação sua verdadeira missão civilizadora, sobretudo no estabelecimento de metas mais amplas e consistentes, relativas aos grandes desafios de conhecimento que se erguem diante do homem contemporâneo, para o qual a mera capacidade de ler está muito aquém do que se faz urgente e necessário.

Em manifestação estes dias, o próprio ministro da Educação, que é um educador, do corpo docente da melhor e mais bela expressão dessa esperança entre nós, de uma revolução social pela via da universidade pública e gratuita, que é a Universidade de São Paulo, reconheceu a gravidade da crise educacional. Assinalou quanto o ensino médio é o momento problemático da redução na qualidade do ensino e quanto o Estado perdeu o controle do processo educacional ao recorrer à privatização do ensino e à lógica do mercado como meios de ampliar a oferta de vagas.

O mesmo ministro anunciou uma segunda onda de cancelamento de milhares de vagas no ensino superior, nos cursos de direito, para ajustar a oferta de vagas à qualidade do que se ensina nessas escolas. Tudo de difícil remendo no curto prazo, sem contar os egressos desses cursos que não foram alcançados pela tentativa tardia, mas necessária, de colocar um filtro de qualidade no acesso às escolas de terceiro ciclo e de frear a sobreposição do lucro ao ensino.

Já no regime militar o governo alargara a opção pela expansão do ensino pela via da coadjuvância de empresas que vendessem serviços educacionais, em detrimento de maciça opção pela escola pública e gratuita. Aquela opção perdura até hoje, como se viu com o Prouni, um programa de subsídio às escolas privadas de terceiro grau em vez de amplo investimento nas universidades públicas. Em vez de expansão significativa da rede de escolas superiores gratuitas, de corpo docente recrutado segundo os rigores próprios das grandes universidades, de acordo, aliás, com a lei, escolas equilibradamente devotadas à docência e à pesquisa, sem cuja combinação a escola de terceiro ciclo não é mais do que mera escola técnica superior.

Em entrevista recente à Folha de S. Paulo, o ministro tocou num ponto delicado dessa inversão de valores que em boa parte responde pela crise da educação brasileira, quando disse que antes o Estado avaliava e o mercado regulava, mas que sua compreensão é a de que “o Estado deve avaliar e regular”. Cauteloso, não tocou no fato de que o Conselho Federal de Educação e os conselhos estaduais se regem hoje pelos valores de uma concepção de educação que anula a função prioritária do Estado na definição de conteúdos educacionais, modos de ensinar e metas nacionais de educação de conformidade com o prioritário interesse público. Enquanto a educação pública tiver que concorrer com a educação privada, como se fosse empresa de serviços educativos bancados pelo Estado e concorrente das empresas privadas, não haverá saída para o impasse.

Um dos grandes empecilhos às mudanças rápidas e necessárias é, além do mais, o descompromisso dos docentes da escola pública e da escola particular com as funções propriamente sociais da educação, muito além da mera formação profissional. Desde a ditadura perdidos na teia sindical e das lutas sindicais, sucumbiram às demandas da sobrevivência em face da degradação de suas condições de trabalho, e reduziram suas demandas aos interesses pessoais e corporativos. Deixaram de lado um aspecto do que já foi chamado de sacerdócio do professor, abrindo mão da missão própria do educador que é a de assegurar a realização das metas propriamente educativas do ensino, sem nenhuma concessão a mediações partidárias e econômicas que atravessem e subjuguem o essencial e prioritário.

O econometrismo educacional bloqueia e distorce a educação brasileira, equiparando-a a uma mercadoria de carregação, equivalente das que podem ser adquiridas dos marreteiros que nas feiras de todo o País anunciam os sucedâneos de tudo que se deseja e não se pode, o xarope de catuaba que dá a ilusão da vitalidade a quem dela carece, a educação que custa menos e distribui mais diplomas, dando a impressão de sabido a quem sabido não é.

Tudo fazemos para nos enganar. Quando se estabeleceu que os professores do ensino elementar deveriam ter formação superior, o próprio governo aceitou todo tipo de improvisação, com cursinhos de fim de semana. Contentou-se com a cartorial solução, bem brasileira, de que o papel substitui a competência. Milhares de docentes formados pacientemente nas universidades, no entanto, estão aí ao deus-dará dos empregos precários ou do desemprego em vez de serem recrutados como agentes de uma nova e mais ambiciosa educação brasileira. O ensino em tempo integral, previsto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que deveria ter sido implantado até 2002 não o foi até hoje. Isso implicaria definir gabaritos justos e rigorosos seja para a qualificação dos docentes seja para seu salário, o que colide com o econometrismo que devasta a educação brasileira. A lógica da produção, do vale quanto pesa, do preço por quilo, que vai bem numa fábrica de salsichas, mas vai muito mal numa escola, sobrepôs-se à lógica da formação e, propriamente, da educação. Sem a precedência do educador na educação, nossa escola continuará dominada pela lógica do balconista. Ou escapamos dessa ou nos perderemos de nós mesmos. Em educação só devem ter lucro o aluno e o País.

José de Souza Martins é professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia da USP

[O Estado de São Paulo, 30/03/2008]

1968 / 1: Eventos abriram novos caminhos

Manifestações de Praga, Paris e México facilitaram consolidação da democracia
Ubiratan Brasil

O escritor Carlos Fuentes viveu de maneira intensa a primavera européia de 1968. Em maio, presenciou a revolta dos estudantes franceses contra o conformismo, saindo às ruas armados de tinta e pichando os muros de Paris com dizeres diversos, como 'A política está na rua', 'Consumidores ou participantes?' e 'O álcool mata. Tome LSD'. Meses depois, ele viajou ao lado de Gabriel García Márquez e Julio Cortázar até Praga, na antiga Checoslováquia, para visitar Milan Kundera. Lá, dias antes, manifestantes enfrentaram os invasores soviéticos, buscando humanizar o comunismo. Finalmente, em dezembro, comoveu-se, a distância, com a decisão do governo mexicano em atirar contra estudantes em uma manifestação - o 'massacre de Tlatelolco'.

Três eventos de grande importância ocorridos em um mesmo ano. '1968 é um desses anos-constelação nos quais, sem razão imediatamente explicável, coincidem fatos, movimentos e personalidades inesperadas e separadas no espaço', conta Fuentes, que uniu seus relatos pessoais, escritos no calor da hora, e formou o livro Em 68, que a Rocco lança nesta semana.

Ele conta que, na França, presenciou a insatisfação da juventude parisiense com a ordem conservadora, capitalista e consumidora, que havia esquecido a promessa humanista de luta contra o fascismo. Já a Primavera de Praga não combatia o sistema comunista - humanizava-o, democratizava-o e socializava-o. E o movimento mexicano de 68, no qual o governo de Diaz Ordaz reprimiu violentamente os estudantes em Tlatelolco, representou uma ruptura flagrante entre a legitimidade revolucionária como fundamento de todos os governos.

'Mas, como o maio parisiense, a Primavera de Praga e o ano 68 mexicano sofreram uma derrota de Pirro, ou seja, derrotas aparentes cujos frutos só puderam ser avaliados a longo prazo: derrotas pírricas, vitórias adiadas', comenta Fuentes, que conversou com o Estado por telefone. 'Os caminhos da democracia e da crítica social se abriram graças aos movimentos de Paris, Praga e México.'

Ainda há muito que se falar sobre os movimentos de 1968?
Sim, mesmo passados 40 anos. O mundo mudou muito, mas uma simultaneidade de eventos marcou aquele ano: Paris, Praga, México e também em Chicago, onde houve eleições. Eventos cruciais como os de 1848, quando revoluções de ruptura entre burguesia e proletariado se estenderam de Paris a Budapeste. Foi essa simultaneidade que me motivou a escrever esse livro.

E são mesmo derrotas pírricas?
Sim. Na França, em 68, desapareceu o velho partido socialista de Guy Mollet. O mesmo aconteceu com Suécia e Argélia. Com isso, abriu-se caminho para um novo socialismo encabeçado por François Mitterrand. Em Praga, a reação à ocupação soviética provocou uma série de movimentos que resultou na queda do muro de Berlim, em 1989, e no fim do poder da União Soviética. E, no México, graças ao sacrifício do movimento estudantil, derrotado naquele ano, abriu-se caminho para a atual democracia mexicana, que certamente não existiria sem os acontecimentos de 68. Portanto, foram movimentos que, embora derrotados, trouxeram muitos benefícios para a humanidade.

Em sua opinião, a história se repete ou se refaz?
Não acredito que se repita nunca. A história é um evento contínuo, mas sempre único. É um engano pensar que haja repetição.

E o que alimenta uma mudança: a nostalgia ou a esperança?
Falamos aqui de duas utopias. Uma é regressiva, que busca a sociedade perfeita. É aquela pregada por D. Quixote aos pastores, a de Ovídio, para quem as pessoas se amam sem conflito ou guerra. E a outra é a utopia do futuro, que busca uma sociedade ideal. Mas creio que não passam de utopias - nossa preocupação tem de ser com o presente, no qual está o passado (nossa memória) e o futuro (nosso desejo). O tempo de se realizar algo é sempre o agora, considerando que a história não é simplesmente uma coleção de fatos, mas um horizonte de possibilidades.

É possível combater a injustiça sem que isso provoque mais injustiça?
Creio que não se consegue a justiça de forma absoluta, instantânea. Veja o caso da eleição americana, na qual hoje uma mulher e um negro disputam a candidatura do Partido Democrata. Isso seria inconcebível antes, não fosse a histórica luta dos negros por seus direitos civis - os mesmos que, nos séculos passados, foram açoitados, sodomizados, jogados ao mar, mortos de fome. E também pela luta das mulheres, que só tinham a possibilidade de ser donas de casa e conquistaram seus direitos pouco a pouco, não de maneira radical. Creio que a atual situação americana é bem ilustrativa. Trata-se de um país cuja independência veio com uma revolução colonial, que não equilibrou os direitos entre homens e mulheres. Houve uma guerra civil para emancipar os negros, seguido da luta pacífica de Martin Luther King. Processos pelos quais se acumulam direitos - às vezes com violência, outros politicamente, mas em luta constante para, ao menos, garantir a manutenção desses direitos acumulados.

Ou seja, embora os ideais mais utópicos tenham sido derrotados, o que se conseguiu foi uma sociedade mais democrática?
Com certeza. Temos vitórias parciais que são mais importantes que derrotas. O direito da mulher, a emancipação do negro, a defesa do meio ambiente, a defesa pela alimentação são alguns trunfos. Não viveremos sem problemas, é certo, portanto, temos de nos socorrer nas soluções do passado para imaginar como resolver.

Ainda é possível dizer que vivemos sob os ares de 1968?
Não, de forma nenhuma. Como disse antes, a história não se repete. O correto é analisar esse fato passado para descobrir o que não conseguimos conquistar naquele momento. Para isso serve a comemoração destes 40 anos - e não a celebração de vitórias particulares.

E o que dizer hoje da frase de Milan Kundera, uma visão bem pessoal do mundo, segundo a qual 'o totalitarismo é um idílio'?
É verdade, porque o idílio vive pouco. O próprio Kundera foi membro do partido comunista checo e viveu os momento que descreve em seus romances. Para o jovem saído da 2ª Guerra Mundial, a liberdade era conquistada via comunismo. Mas logo se percebeu que isso duraria pouco. A lição que fica é a seguinte: não podemos confiar em idílios.

[O Estado de São Paulo, 30/03/2008]

Guerra do Iraque: 5 anos

Veja o especial 526 bilhões de dólares, 4.000 soldados norte-americanos e um número incalculável (1.000.000!?) de iraquianos mortos... Reportagens, imagens, infográficos no Especial do UOL
Veja também:
Iraque, miragens e ruínas (Le Monde diplomatique)
O petróleo é deles (Revista Piauí) [obrigatório]

Indignação com caricaturas de Maomé continua a perturbar a Dinamarca

Michael Kimmelman, em Aarhus, na Dinamarca

Uma das caricaturas"Creio que é o esconderijo número cinco", disse um dia destes Kurt Westergaard, e era evidente que ele havia de fato se perdido.
No mês passado a polícia dinamarquesa prendeu dois tunisianos e um dinamarquês descendente de marroquinos sob a acusação de que pretendiam matar Westergaard, um dos 12 cartunistas cujas caricaturas de Maomé no jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" geraram protestos, alguns deles violentos, por parte de muçulmanos de todo o mundo em 2006, e fizeram com que fossem oferecidas recompensas pelas cabeças de Westergaard e do seu editor, Flemming Rose. Desde então Westergaard (ele desenhou Maomé com uma bomba no turbante) vive escondido.
Os norte-americanos, para os quais a eleição parece ter se transformado em um esporte delirante e interminável, que monopoliza as suas atenções, acabaram não sendo os únicos a se esquecerem das caricaturas. Muitos dinamarqueses e europeus de outros países fizeram o mesmo. Eles estão chocados com as prisões.
Nos dias que se seguiram, 17 jornais dinamarqueses que se recusaram a publicar as caricaturas ofensivas dois anos atrás, declararam solidariedade a Westergaard e as imprimiram. Isto, naturalmente, provocou uma nova onda de fúria da Faixa de Gaza à Indonésia.
No Egito, o presidente do parlamento alegou que os dinamarqueses violaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A alegação pareceu um pouco exagerada, tendo sido feita apenas algumas semanas após o Parlamento Europeu, que também reclamou da nova publicação das caricaturas, ter condenado o Egito devido à terrível situação daquele país no que se refere aos direitos humanos.
Enquanto isso, as demandas no Afeganistão pela retirada imediata das tropas dinamarquesas que servem sob o comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o rompimento das relações diplomáticas com a Dinamarca fizeram com que o ministro dinamarquês das Relações Exteriores, Per Stig Moeller, afirmasse que está ficando difícil para ele "colocar as vidas dos soldados dinamarqueses em risco" para apoiar um país "no qual uma pessoa corre o risco de ser condenada à morte por defender os valores que acreditamos ser uma parte inseparável da democracia e do mundo moderno".
Foi então que, quando tudo parecia ser apenas um problema dinamarquês, a confusão disseminou-se. Uma galeria de arte em Berlim foi fechada porque uma exibição de arte satírica por um grupo dinamarquês chamado Surrend, que anteriormente apresentou trabalhos zombando dos neonazistas, fez com que vários visitantes muçulmanos irados ameaçassem apelar para a violência a menos que um pôster mostrando a Caaba, o templo na Grande Mesquita de Meca, fosse removido.
Dois anos atrás, logo após a confusão original gerada pelas caricaturas, uma companhia de ópera berlinense cancelou apresentações de "Idomeneo" de Mozart quando a polícia alertou o grupo para o fato de que uma cena com a cabeça decepada de Maomé, entre outras figuras religiosas, representava um "risco incalculável" para os artistas e a platéia. Denúncias de autocensura irromperam por toda a Europa.
Mas, desta vez, o ministro do Interior da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, um político que tem trabalhado bastante no sentido de melhorar as relações com os muçulmanos na Alemanha, teria solicitado a outros jornais europeus que republicassem as caricaturas, algo que ele nega veementemente, o que não fez diferença para o jornal saudita "Al-Watan".
"O ministro alemão tem que retirar imediatamente a sua declaração", exigiu o "Al-Watan". O jornal acrescentou que o racismo, e não a liberdade de expressão, estava por trás da política alemã. Afinal, os alemães não têm liberdade para "discutir o holocausto judaico".
E todos sabiam o que essa observação significava.
'Sim, nós podemos caricaturar Deus', publicou o jornal francês France SoirAgora muitos europeus parecem ter perdido a paciência. Recentemente, durante um jantar em Copenhague, Rose, que criou uma espécie de segunda carreira a partir da confusão gerada pelas caricaturas, disse que tudo isso veio muito tarde, mas que era inevitável.
"Naquela época, em 2006, havia boas razões jornalísticas para que outros jornais publicassem os desenhos porque pouca gente os tinha visto, de forma que eram um fato novo", disse ele. "Agora a justificativa jornalística é quase inexistente porque todos sabem como são as caricaturas, de forma que se trata mais de solidariedade do que de notícia".
Ao contrário de Westergaard, Rose não mora em esconderijos, embora já tenha retirado há muito tempo o seu nome do catálogo telefônico local, além de ter descoberto que um outro Flemming Rose (aparentemente há vários deles na Dinamarca) decidiu mudar de nome.
"Não se tratou de zombar de uma minoria, mas sim de uma figura religiosa, o profeta muçulmano, de forma que a coisa diz respeito a blasfêmia, e não a racismo", argumenta Rose. "A idéia de desafiar a autoridade religiosa conduziu à democracia liberal, enquanto que o ataque a minorias, enquanto minorias, levou ao nazismo e à perseguição da burguesia na Rússia. Assim, esta distinção é essencial para que se entenda o problema".
Os anos que passou como estudante e como correspondente de um jornal na União Soviética modelaram a filosofia de Rose. "Lá eu vi como o conceito de valores universais era crucial para a cultura dissidente, e constatei o que a censura significava", afirma o jornalista. "Percebi que as diferenças de valores entre a sociedade ocidental e os soviéticos não eram relativas".
Ele observa que os soviéticos tinham uma lei no seu código penal proibindo a difamação do estilo de vida soviético. "As leis contra blasfêmia nos países muçulmanos de hoje têm o mesmo objetivo de silenciar as vozes dissidentes", diz ele. "A liberdade de discurso não se estende à difamação, à invasão da privacidade e ao incitamento à violência. Mas é necessário que se faça uma distinção entre palavras e imagens", insiste ele. "As imagens estão abertas à interpretação, elas são diferentes das palavras".
Westergaard vê o problema sob uma outra ótica: "As caricaturas sempre concentram e simplificam uma idéia, e permitem que haja uma impressão rápida que provoca alguma sensação forte".
Ele recorda-se de uma charge que fez anos atrás para complementar um artigo defendendo os palestinos contra os israelenses: "Não fiz aquilo porque era a minha crença, mas sim porque o meu trabalho era ilustrar as idéias contidas no artigo, e eu mostrei um palestino usando uma estrela de Davi amarela com a inscrição 'árabe'". Ele continua: "Muita gente me ligou para protestar. Um homem disse que eu tinha abusado de um símbolo judaico. Conversamos muito tempo e finalmente aceitamos os pontos de vista mútuos". Ele diz que a conversa foi o que importou.
Será que daquela vez ele foi longe demais?
"Olhando para trás, talvez eu devesse ter feito uma caricatura que não contivesse a estrela amarela".
Mas por que Maomé sim, e uma estrela não?
"Porque milhões de judeus morreram em campos de concentração usando aquela estrela".
O que é obviamente a resposta errada para aqueles que colocaram a cabeça dele à prêmio. "Sempre fui ateu, e ouso dizer que esses acontecimentos só intensificaram o meu ateísmo", diz ele. "Mas o mesmo choque ocorreria cedo ou tarde devido a algum livro ou peça teatral. Era algo que estava para acontecer".
Ele trouxe uma charge que revisou recentemente. Nela, Jesus, usando terno e gravata, desce da cruz na qual há um cartaz pendurado com a inscrição: "Horas de serviço: domingo, das 10h às 11h e das 14h às 15h". Recentemente Westergaard acrescentou um imame olhando Jesus se afastar.
Ele concordou em se encontrar com a reportagem no "Jyllands-Posten", o jornal do qual está agora semi-aposentado. Alto, de ombros largos, com uma barba mesclada de tons claros e escuros, aos 72 anos ele parece ser um marinheiro escandinavo saído de uma peça teatral, mas usando, como sempre, calças vermelho-bombeiro, um cachecol estampado e uma capa preta Sargent Pepper - claramente um ato de desafio estilístico. Quando é perguntado a respeito da abordagem geral de Westergaard nos últimos dois anos, Rose, com medo, diz: "Calma".
A maior parte dos doze chargistas é mais velha, e, como Westergaard, está mais próxima do espírito da geração de 1968 do que do relativismo cultural de gerações posteriores. Social-democrata, Westergaard foi diretor de uma escola para crianças portadoras de deficiências graves antes de tornar-se chargista. Ele gosta de observar que Himmerland, a região da Dinamarca na qual nasceu, era a terra de uma raça de guerreiros: "Entre os cruzados havia também dinamarqueses".
Ele sabe que este é um comentário pesado. "Esta é uma nova cruzada, ou o que?", questiona.
E a seguir ele próprio responde: "Na Dinamarca existe uma cultura de radicalismo, um ceticismo com relação à autoridade e à religião. Isso faz parte do nosso caráter nacional. Anos de relativismo, durante os quais os dinamarqueses sentiram que não tinham o direito de pedir a ninguém que vivesse como nós, terminaram com as charges", diz ele. Mas ele está menos convicto do que Rose em relação ao grau de progresso, admitindo que os recentes ganhos por parte do partido antiimigração "são um retrocesso infeliz provocado por tudo isso".
Atualmente ele está acostumado a ser (e, talvez, quem pode dizer, até mesmo goste desse status) uma celebridade acidental surgida em um palanque improvisado.
"A discordância é parte essencial da democracia", diz ele. "Quero explicar a minha percepção desse embate entre duas culturas porque tenho netos que crescerão nesta sociedade multicultural. Os dinamarqueses são um povo tolerante. Eles não merecem ser tratados como racistas".
Ele acrescenta: "Isto é algo que continuará pelo resto da minha vida, estou certo disso. Nunca me livrarei desse problema. Mas sinto mais raiva do que medo. Sinto raiva porque a minha vida está ameaçada, e sei que não fiz nada de errado, apenas fiz o meu trabalho".
"A raiva é a melhor terapia", conclui Westergaard, com um sorriso.

Tradução: UOL
[The New York Times, 20/03/2008]

Obrigatório...

tHE CORPORATION
A partir da polêmica decisão da Suprema Corte de Justiça americana concluindo que uma corporação, aos olhos da lei, é uma "pessoa", são analisados os poderes das grandes corporações no mundo atual. A exploração da mão-de-obra barata no Terceiro Mundo e a devastação do meio ambiente são alguns dos fatos explorados, que entrevistam presidentes de corporações como a Nike, Shell e IBM, além de Noam Chomsky, Milton Friedman e Michael Moore.
Direção: Jennifer Abbot e Mark Achbar, disponível em DVD

tRAILER





eXCERTO


O churrasco do Junior vai atrasar

Márcia Pinheiro
Ninguém teve fim de semana em Washington e Nova York. Depois de suas ações despencarem 47% na sexta-feira 14, o banco Bear Stearns, de 85 anos, foi vendido ao JP Morgan Chase. Na bacia das almas: o preço somou apenas 236 milhões de dólares, 7% do valor de mercado e um sexto do que vale a sede da instituição financeira na chique avenida Madison, em Manhattan.
Paralelamente, o Federal Reserve reduziu a taxa de redesconto (a que apenas bancos têm acesso) em 0,25 ponto porcentual, para 3,25% ao ano. A operação de salvamento do Bear, sob as bênçãos do Fed e do Tesouro americano, é o retrato do desespero do sistema. E tem mais pela frente.
O Copom do Fed reúne-se na terça-feira 18. Ben Bernanke vai promover nova rodada do juro básico americano. Os economistas prevêem uma queda de 0,50 ponto porcentual, para 2,50% ao ano. Os operadores esperam um corte maior, de 0,75 ponto, mesmo porque querem ir para casa mais cedo e fazer o churrasco de hambúrguer para os filhos e netos, como tanto gostam.
Sim, filhos e netos. Conheci muitos traders cinqüentões nas bolsas de Nova York e Chicago, em cursos que fiz, no fim dos anos 90, para entender os novos instrumentos financeiros. Não há apenas moleques com olhos celerados, fazendo, entre eles, sinais compreensíveis. Incompreensíveis para nós.
São homens e mulheres de bem (mulheres à mancheia. Lá não existe o Clube do Bolinha dos pregões nativos), que acreditam profundamente no sistema e certamente têm uma bandeirinha americana nas janelas de suas sacadas. Sua função é cumprir ordens: comprar ou vender, dentro do limite que o cliente estabelece.
As ordens são dadas por meninos e meninas que recebem bônus bilionários e ficam em escritórios confortáveis em Wall Street. Estes sim, celerados, cheios de MBAs. Acham que entendem tudo do mundo. Os operadores e operadoras de pregão querem apenas descansar após um estafante dia, curtir a família e, imaginam, um corte mais dramático do juro vá restabelecer a paz no sistema financeiro. Enganam-se.
O estrago foi feito e o que vemos são apenas os esqueletos saltando dos armários. As contas das perdas no sistema multiplicam-se. Vão de bi a tri de dólares a cada artigo que se lê. Os nervos terão de ser de aço, pois nos próximos dias serão divulgados os balanços de Goldman Sachs, Lehman Brothers e Morgan Stanley.
Bernanke dispõe do poder de emitir dinheiro e tentar salvar o mercado. Mas não é Deus. A crise mal começou e tudo indica que John Junior e Mary Helen vão ter de esperar um pouco mais pelo barbecue familiar.

Dica econômico-cultural
Berlim, anos 30, ascensão do nazismo. A economia alemã em bancarrota e seus milhões de desempregados explicam, em parte, a tragédia histórica personificada por Adolf Hitler. Não faço aqui qualquer ilação à atual crise americana. Ou faço. Relembro o excepcional Cabaret, filme de 1972, dirigido por Bob Fosse. No link, o trecho em que Liza Minelli e Joel Grey cantam Money. Está no YouTube. Tudo a ver.


[Diálogos - Revista Carta Capital, 17/03/2008]

Até onde irá a crise financeira

Leia a matériaUm dos maiores estudiosos das finanças internacionais investiga, em diálogo com dois livros recém-publicados, os tremores dos últimos meses. Seu diagnóstico: vêm aí grandes solavancos, que podem atingir a Ásia e mudar a economia do planeta

Leia o artigo no site do Le Monde Diplomatique...

Crise financeira é a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial, diz Greenspan

PARIS, 17 Mar 2008 (AFP) - A crise financeira atual pode ser considerada a mais grave desde a Segunda Guerra mundial, afirmou o ex-presidente do Banco Central americano (Fed) em editorial publicado nesta segunda-feira no Financial Times.
"A atual crise financeira nos Estados Unidos será verdadeiramente julgada como a mais grave desde o fim da Segunda Guerra mundial", insistiu Alan Greenspan, que presidiu o Fed de 1987 a 2006.
"Ela chegará ao fim quando o preço dos bens imobiliários se estabilizar e, com ele, os preços dos produtos financeiros endossados em empréstimos hipotecários", estimou."Esta crise deixará numerosas vítimas. O sistema de avaliação dos riscos atualmente em vigor será particularmente tocado", escreveu Greenspan.
"Mas espero que uma das vítimas não seja o sistema de vigilância mútua (por atores do setor financeiro) e mais geralmente a auto-regulamentação financeira como mecanismo fundamental de equilíbrio do setor financeiro mundial", acrescentou ele.
O ex-presidente do Fed - que foi acusado de estar na origem da bolha imobiliária em razão da política de juros muito baixa seguida pelo Federal Reserve de 2001 a 2004 - estima também que não haverá jamais um sistema perfeito de avaliação de riscos.
"A administração do risco não atingirá jamais a perfeição. Chegará sempre um momento em que vai fracassar e uma verdade incômoda será colocada a nu, provocando uma resposta inasperada e brutal", escreve ele.
"É importante, até essencial, que toda a reforma e ajustes na estrutura dos mercados e sua regulação não questionem nossas proteções mais confiáveis e eficazes contra as fraquezas econômicas, a saber a flexibilidade e a livre concorrência", afirma Greenspan.

[UOL Economia, 17/03/2008]

Tibete: Um outro olhar

Feudalismo amigável: o mito do Tibete
As histórias do cristianismo, judaísmo, hinduísmo, e Islão estão fortemente entrelaçadas de violência. Ao longo dos tempos, os religiosos reivindicaram um mandato divino para massacrar os infiéis, os heréticos, e mesmo outros devotos dentro das suas próprias fileiras. Saiba mais...Algumas pessoas sustentam que o budismo é diferente, que se ergue em marcado contraste com a violência crónica de outras religiões. Certamente, para alguns praticantes no Ocidente, o budismo é mais uma disciplina espiritual e psicológica do que uma teologia no sentido usual.
Oferece técnicas de meditação que, segundo dizem, promovem o esclarecimento e a harmonia interiores. Mas tal como qualquer outro sistema de crenças, o budismo tem de ser julgado não apenas pelos seus ensinamentos, mas pelo comportamento secular dos seus proponentes. Leia...

A nau dos dinossauros

Leia a matéria completaNo crepúsculo da Era Bush, centenas de neo-conservadores norte-americanos embarcam num cruzeiro marítimo, durante o qual debatem o "sucesso notável" dos EUA no Iraque, a "inexistência" do aquecimento global e o "risco iminente" de dominação muçulmana sobre a Europa.
Um repórter de Le Monde Diplomatique estava com eles...
Leia...

Ruína mexicana revela segredo de ritual dos maias

Arqueólogos esperam autorização do governo para escavar em atração turística
Análises novas de materiais coletados há décadas em Chichén Itzá, perto de Cancún, ajudam cientistas a entender sacrifício humano

RAFAEL GARCIA
A ruínas maias de Chichén Itzá, eleitas em 2007 uma das Sete Maravilhas do Mundo do século 21, renderam recentemente uma série de descobertas sobre um dos rituais maias mais curiosos: o sacrifício humano. A fonte desse novo conhecimento, porém, não são trabalhos de escavação no local - hoje mais voltado aos turistas que visitam a vizinha Cancún. O conhecimento novo está vindo de coleções antigas de museus nos EUA e no México.O local onde as vítimas de sacrifício eram despejadas -o Cenote Sagrado, um enorme poço natural - está fechado para pesquisa há 40 anos, e os arqueólogos esperam agora permissão do governo mexicano para explorá-lo de novo.
Uma análise recente dos ossos de mais de 150 indivíduos retirados do cenote antes de seu fechamento, porém, já serviu para derrubar um mito: o de que o sacrifício maia era um ritual sobretudo para oferecer jovens virgens aos deuses.
"Não era assim", disse à Folha o antropólogo Andrea Cucina, da Universidade Autônoma de Yucatán, de Mérida (México), especialista em ossos. "Na verdade, o que vimos é que há muitas crianças e subadultos cujo sexo não é possível determinar. É muito difícil antes dos 14 ou 15 anos. E, entre os adultos lançados no cenote, dois terços dos que se pode sexar eram homens. Isso muda um pouco a idéia de que eram pobres virgens lançadas lá."
Segundo Cucina, não há tampouco evidências de que todos os corpos jogados no cenote tivessem sido sacrificados ("havia também funerais") nem de que os sacrifícios fossem corriqueiros em Chichén Itzá. Mas isso não quer dizer que o ritual não fosse um bocado macabro.

Coração na mão
"Agora estamos tentando entender como era a prática da extração do coração", conta o antropólogo "Sabemos de outros contextos fora de Chichén que a via de acesso mais simples e rápida era abrir o abdome bem abaixo da caixa torácica, e a faca não entrava em contato com nenhum osso. Abrindo o diafragma e inserindo a mão, alguém com experiência conseguia agarrar o coração, puxá-lo para baixo e cortar ligamentos e vasos para soltá-lo, mas mantendo o coração pulsante nas mãos."
Os métodos de sacrifício deviam variar de acordo com o contexto do ritual e o perfil da vítima. Um dos desafios hoje é saber quem eram as vítimas.
"Os sacrifícios de crianças eram aqueles voltados a Chaac, deus da chuva", diz Cucina. Há evidências também de que algumas das vítimas vinham de equipes perdedoras do famoso jogo de bola ritual maia.
A descoberta mais recente foi feita pela equipe do americano Dean Arnold, do Wheaton College, de Illinois, e publicada no mês passado na revista "Antiquity". Estudando potes recolhidos há um século do Cenote Sagrado e depositados em museus dos EUA, ele descobriu a composição do "azul maia", tinta que era usada para pintar murais e esculturas e até corpos de vítimas dos sacrifícios.
"Sabemos que o cenote era a residência do deus Chaac, e sabemos que o azul é associado à chuva", diz Arnold. "Como esse era um pigmento muito incomum e resistente, químicos e cientistas de materiais tinham interesse em tentar descobrir como ele era feito." O azul maia, afinal, era uma mistura de folhas de índigo com paligorsquita (uma argila) e copal (uma resina de árvore).

Como nossos ancestrais
Diversas outras descobertas podem sair de Chichén Itzá, diz Cucina, sobretudo se o governo mexicano liberar o cenote para pesquisa, o que os arqueólogos esperam que ocorra neste ano. Por enquanto, esqueletos disponíveis para pesquisa são pilhas de ossos desconexos tirados do poço sem controle, como fez em 1904 o então cônsul americano Edward Thompson, dono da "Fazenda Chichén". Em 1962, um arqueólogo chegou a usar uma draga para tirar ossos de lá, destruindo o precioso contexto arqueológico.
Michael Coe, arqueólogo da Universidade Yale -provavelmente a maior autoridade viva em maias - diz crer que incursões futuras confirmarão escritos como os de Diego de Landa, frade que viveu em Yucatán no século 16 e relatou sacrifícios. Alguns historiadores questionam a confiabilidade de relatos de padres no México colonial, já que a Coroa Espanhola tinha intenção de pintá-los como bárbaros assassinos para justificar o genocídio dos índios.
"Mas não acho que Landa estivesse tentando demonizar os maias; nós sabemos que eles sacrificavam pessoas em todos os lugares", diz Coe. "A idéia era ter nobres, como reis de estados inimigos, capturar essas pessoas, mantê-las presas por algum tempo e então sacrificá-las, normalmente por decapitação. Eles praticavam isso, sim, assim como os nossos ancestrais europeus."

[Folha de São Paulo, 16/03/2008]

Passeio na favela: turismo ou vouyeurismo?

Eric Weiner*
O trabalho de Michael Cronin como funcionário de admissão de alunos na universidade faz com que ele tenha de viajar duas ou três vezes por ano à Índia. Ele já havia visitado os pontos turísticos mais comuns - templos, monumentos, mercados - quando um dia cruzou com um panfleto que divulgava "turismo na favela".

"Aquilo ressoou em mim imediatamente", diz Cronin, que estava hospedado no elegante Taj Hotel em Bombaim, onde, conforme ele próprio notou, uma garrafa de champanhe custa o equivalente a dois anos de salário de muitos indianos. "Mas eu não sabia o que esperar".
Pouco tempo depois, Cronin, 41, já estava desviando de esgotos a céu aberto e se agachando para evitar fios elétricos expostos enquanto passeava pela favela de Dharavi, onde vive mais de um milhão de pessoas. Ele participou de um jogo de críquete e visitou a pequena indústria local, com fábricas de bordado e curtume, que silenciosamente prospera na favela. "Nada é considerado lixo aqui", diz. "Tudo é reutilizado".
Cronin levou um susto quando um homem, "com certeza bêbado", roubou algum dinheiro de seu bolso, mas o passeio de duas horas e meia mudou sua imagem da Índia. "Todo mundo na favela quer trabalhar, e todos querem melhorar a si mesmos", disse.
O turismo em favelas, ou "pobrismo", como é chamado por alguns, está em alta. Das favelas do Rio de Janeiro às "townships" de Johannesburgo, passando pelos lixões do México, os turistas estão trocando, pelo menos por algum tempo, as praias e museus pelas populosas, sujas - e, sob vários aspectos, surpreendentes - favelas. Quando o britânico Chris Way fundou a Reality Tours and Travel em Mumbai há dois anos, mal conseguia reunir clientes para fazer um passeio por dia. Hoje, ele coordena dois ou três passeios diários e recentemente expandiu seu negócio para a zona rural.

Turismo em favelas não é para qualquer um.
Os críticos dizem que observar os mais pobres entre os pobres não é turismo. É voyeurismo. Segundo eles, os passeios são uma exploração e não têm vez no itinerário dos viajantes mais éticos.
"Você gostaria que pessoas parassem em frente à porta da sua casa todos os dias, ou duas vezes por dia, tirassem fotos de você e fizessem comentários sobre o seu estilo de vida?", pergunta David Fennell, professor de turismo e meio ambiente na Universidade de Brock, em Ontário. O turismo em favela, diz ele, é apenas mais um nicho que o turismo encontrou para explorar. O objetivo real, ele acredita, é fazer com que os ocidentais do primeiro mundo se sintam melhor em relação à sua situação de vida. "Isso reforça, em minha mente, o quanto eu tenho sorte - ou o quanto eles não têm", diz.
Não é bem assim, dizem os defensores do turismo nas favelas. Ignorar a pobreza não vai fazer com que ela desapareça. "O turismo é uma das poucas maneiras pelas quais eu ou você seremos capazes de entender o que significa a pobreza", diz Harold Goodwin, diretor do Centro Internacional de Responsabilidade no Turismo em Leeds, na Inglaterra. "Simplesmente fechar os olhos e fingir que a pobreza não existe me parece negar nossa humanidade".
A questão mais importante, diz Goodwin e outros especialistas, não é se os passeios nas favelas deveriam existir, mas sim como eles devem ser conduzidos. Eles limitam as excursões a grupos pequenos, que interagem respeitosamente com os moradores? Ou fazem o passeio de ônibus, com os turistas tirando fotos pelas janelas como num safári?
Muitos organizadores de passeios são sensíveis às acusações de exploração. Alguns encorajam - e pelo menos um deles exige - que os participantes tenham um papel ativo em ajudar os moradores. Um grupo ligado à igreja em Mazatlan, no México, organiza passeios ao lixão local, onde as pessoas sobrevivem com o que encontram no meio do lixo, parte dele vindo de um resort de luxo nas proximidades. O grupo não cobra nada, mas pede aos participantes que ajudem a fazer sanduíches ou a encher garrafas com água filtrada. Os passeios se mostraram tão populares que, durante a alta temporada, o grupo tem de recusar participantes. "Vemos nosso trabalho como uma ponte para conectar os turistas ao mundo real", diz Fred Collom, o pastor que coordena os passeios. Segundo consta, o turismo nas favelas começou no Brasil há 16 anos, quando um jovem chamado Marcelo Armstrong levou alguns turistas para a Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro. Sua empresa, Favela Tour, cresceu e deu origem a uma meia dúzia de imitadores. Hoje, em qualquer dia no Rio, dezenas de turistas sobem em minivans e motos e se aventuram por lugares em que mesmo a polícia brasileira não tem coragem de pisar. Os organizadores insistem que os passeios são seguros, apesar de sempre checarem as condições de segurança. Luiz Fantozzi, que fundou a empresa carioca Be a Local Tours, diz que pelo menos uma vez por ano ele chega a cancelar um passeio por questões de segurança.
Os passeios podem ser seguros, mas também são tensos. Rajika Bhasin, uma advogada de Nova York, lembra-se de que, em um determinado momento do passeio na favela, o guia disse a todo mundo para parar de tirar fotos. Um jovem se aproximou do grupo, sorrindo e segurando uma arma engatilhada. Bhasin disse que ela não se sentiu exatamente ameaçada, "apenas muito alerta em relação ao ambiente em volta, e consciente do fato de que eu estava no território desse rapaz."
Ainda assim, diz ela, a experiência, que incluiu a visita a algumas galerias que mostravam o trabalho de artistas locais, foi positiva. "Honestamente, posso dizer que foi uma experiência transformadora", disse Bhasin. Apesar de compreender as críticas, ela defende: "Isso tem muito a ver com quem você é e porque está fazendo o passeio".Chuck Geyer, de Reston, Virgínia, chegou a Mumbai para fazer um passeio armado com lenços sanitários e com a expectativa de ver a miséria humana encarnada. Mas saiu com uma idéia diferente. Em vez de ser abordado por mendigos, Geyer acabou ganhando presentes: frutas e tintura para passar nas mãos e no rosto, uma vez que os moradores celebravam o festival hindu de Holi. "Fiquei chocado com a amistosidade e graciosidade dessas pessoas", diz Geyer. Os defensores do turismo nas favelas dizem que esse é o ponto: mudar a reputação das favelas, um turista por vez. Os organizadores dos passeios dizem que oferecem empregos para os guias locais e uma chance de vender souvenires. Way prometeu investir 80% de seu lucro na favela de Dharavi.
O problema, entretanto, é que a empresa de Way ainda precisa receber algum lucro com os passeios, pelos quais ele cobra 300 rúpias (cerca de US$ 7,50). Depois de ser atacado pela imprensa indiana ("uma crítica justa", admite Way), ele abriu um centro comunitário na favela com seu próprio dinheiro. O centro oferece aulas de inglês, e o próprio Way coordena um clube de xadrez. Muitos das agências que fazem passeios nas favelas no Brasil também investem parte de seus lucros nas comunidades. Fantozzi contribui com uma escola e uma creche. Mas o turismo de favela não se restringe a caridade, dizem seus defensores, ele também alimenta um espírito empreendedor. "No início, os turistas eram cercados por mendigos, mas agora não mais", diz Kevin Outterson, um professor de leis de Boston que já fez vários passeios nas favelas. Fantozzi explicou aos moradores, diz Outterson, "que você não vai conseguir nada do meu grupo mendigando, mas se você produzir algo, eles comprarão."
Mesmo os críticos do turismo em favelas admitem que ele permite que alguns dólares circulem nas comunidades, mas dizem que isso não é um substituto para programas de desenvolvimento.
O professor Fennell, de Ontário, imagina se o retorno relativamente insignificante do turismo pode fazer alguma diferença. "Se você está tão preocupado em ajudar essas pessoas, então assine um cheque", diz.

*Eric Weiner é autor do livro "A Geografia da Felicidade: Um rabugento em busca dos lugares mais alegres do mundo"
Tradução: Eloise De Vylder


[The New York Times, 09/03/2008]

Células-tronco: acompanhe a discussão...

Células-tronco EsperançaO STF começa a decidir hoje o futuro das pesquisas com células-tronco no Brasil. A polêmica envolve cientistas, juristas e religiosos e deve ser acompanhada com atenção.
Nós, de CLIO História, nos posicionamos claramente a favor destas pesquisas.
> Acompanhe as notícias sobre a votação clicando aqui.
> Saiba mais sobre o tema aqui. [Neste site você encontra um link para o Manifesto do Núcleo Fé e Cultura, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, contra a utilização de embriões humanos em pesquisa.]
> Visite o site Células-Tronco Esperança, clicando no logo acima, à direita.

"Crise" na América do Sul!?

Bravatas, ameaças, acusações, mobilização de tropas, rompimentos diplomáticos, mentiras, populismo, manipulação... e o bom e velho imperialismo norte-americano...
Acompanhe (mesmo) a crise envolvendo Colômbia, Venezuela e Equador.
Clique aqui e também aqui e não deixe de clicar aqui também.
E direto da Colômbia,
El Tiempo... da Venezuela, El Nacional e do Equador, o El Comércio.

Março na História

MUNDO
dia 01 1692 - Acusada por garotas da cidade de Salem (Massachusetts, EUA) de fazer rituais de magia, Tituba, uma escrava negra, confessa a prática de feitiçaria. O fato desencadeou uma onda de acusações contra diversos moradores da cidade, no episódio conhecido como o das "Bruxas de Salem".

Saber mais...dia 01 1870 - Acontece o combate derradeiro da Guerra do Paraguai, em Cerro Cora, na região nordeste daquele país. O ditador paraguaio Solano López acaba morto e a Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai, sai vitoriosa do conflito.
Para saber mais,
clique aqui...

dia 01 1999 - Entra em vigor o Tratado de Ottawa. Ratificado por 65 países, entra em vigor o Tratado de Ottawa, proibindo o uso, produção, comércio e estoque de minas terrestres. O acordo havia sido assinado em 3 de dezembro de 1997.

dia 02 1919 - Acontece primeiro Congresso da Terceira Internacional Comunista.
Em Moscou, os integrantes da Terceira Internacional Comunista fazem sua primeira reunião. O principal objetivo da organização, criada após a vitória dos comunistas na Revolução Russa, era criar uma União Mundial das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Saber mais,
clique aqui. Baixe um texto especial [clique aqui com o botão direito do mouse e escolha Salvar destino como...]

dia 05 1953 - Morre, na União Soviética, Josef Stálin.

dia 05 1970 - Entra em vigor o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Assinado ao mesmo tempo em Washington, Moscou e Londres, em julho de 1968, o TNP (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares) entra em vigor. Durante a década de 1970, mais 120 países adeririam ao acordo.

dia 09 2001 - A milícia Talibã destrói com morteiros a cabeça da maior estátua de Buda do mundo, no vale de Bamiyán, centro do Afeganistão. Esculpido há mais de 1500 anos, o monumento tinha 50 metros de altura.

dia 11 2004 - Três dias antes das eleições para o governo da Espanha, uma série de explosões em trens de Madri matam mais de 202 pessoas. O medo do terror toma o país e se reflete nas urnas. Os governistas do Partido Popular, do premiê José Maria Aznar, favoritos antes do atentado, são derrotados pelos socialistas de José Luiz Rodriguez Zapatero.

dia 12 1938 - Alemanha nazista anexa a Áustria.
O chanceler austríaco Kurt Schuschnigg perde o controle do país para o exército nazista e o país é anexado à Alemanha. A Áustria havia tentado firmar um acordo de trégua com Hitler, que previa a entrada dos nazistas no seu governo e anistia para os criminosos, em troca de uma não-intervenção alemã na crise política do país.

dia 14 1879 - Nasce Albert Einstein.
O físico e matemático alemão Albert Einstein. Seu trabalho científico mais conhecido é a Teoria da Relatividade, que mudou as idéias sobre o espaço, o tempo e a natureza do universo. O reconhecimento de seus estudos veio em 1921, com o Prêmio Nobel da Física.

dia 16 37 - Em Roma, morre Tibério Júlio César Augusto, segundo imperador romano da dinastia Julio-Claudiana. Seus últimos anos no poder foram marcados pela tirania e terror. Com sua morte, Calígula torna-se imperador.

dia 16 1968 - Massacre de My Lai.
Durante a Guerra do Vietnã, tropas norte-americanas matam 109 vietnamitas, a maioria mulheres e crianças, na aldeia de My Lai. No meio do massacre, porém, surgem alguns heróis americanos: Hugh Thompson Jr, Lawrence Colburn e o chefe de tripulação Glenn Andreotta encontram as tropas de seu país, pousam o helicóptero e apontam suas armas para os soldados que cometiam a chacina, conseguindo salvar alguns civis.

dia 17 1992 - Plebiscito aprova fim do apartheid na África do Sul.
A consulta aos eleitores na África do Sul mostrou que 68,7% deles estavam a favor das reformas propostas pelo presidente Frederik de Klerk, que previam o fim do apartheid. Ao convocar o plebiscito, três semanas antes, Klerk ameaçou renunciar à presidência caso recebesse um veto.

dia 18 1314 - Em Paris, o grão-mestre dos Cavaleiros Templários, Jacques de Molay, é queimado vivo numa ilha do rio Sena. A morte marca o fim da campanha de Felipe IV, o Belo, rei da França, contra a ordem católica.

dia 18 1965 - Homem passeia pelo espaço pela primeira vez.
O cosmonauta soviético Alexei Leonov torna-se o primeiro homem a sair de uma espaçonave em órbita e passear flutuando pelo espaço sideral. Preso por um fino cabo flexível, ele permaneceu no espaço por cerca de dez minutos.

dia 20 1916 - Após divulgar a Teoria da Relatividade Restrita em 1905, Albert Einstein publica, na revista científica alemã Annalen der Physik, a Teoria Geral da Relatividade.
O novo trabalho amplia seus conceitos anteriores. Levando em conta as idéias de Isaac Newton, que pensara a gravitação como uma força que agia à distância entre os corpos, Einstein ousou. Sua teoria propunha que a gravidade não é uma força, mas sim o resultado de uma geometria invisível do espaço. Corpos como os planetas fazem o espaço ao seu redor "entortar", como um peso sobre uma superfície macia — a deformação seria a gravidade. As interações entre dois corpos passam a ser explicadas pela influência destes sobre o tempo-espaço.

dia 20 1932 - Zeppelin faz primeiro vôo regular para a América do Sul. Inventado pelo general alemão Ferdinand von Zeppelin, o dirigível Graf Zeppelin inicia uma rota de vôos comerciais regulares para América do Sul.

dia 20 1995 - A seita Aum Shinrikyo (Ensinamento da Verdade Suprema) promove ataques ao metrô da capital japonesa, Tóquio, com o gás sarin. Cerca de 6 mil pessoas ficaram feridas e 12 morreram.

dia 20 2003 - Tem início a Guerra do Iraque.
Ao fim do prazo de 48 horas dado pelo presidente George W. Bush para que Saddam Hussein abandonasse o país, os EUA lançam o primeiro ataque contra a capital iraquiana e iniciam a guerra, que continua até hoje.

dia 21 1685 - Nasce o compositor alemão, Johann Sebastian Bach.
Suas obras refletem os postos que ocupou: cantatas sacras; motetos, obras para órgão e coro a serviço da igreja; trabalhos de câmara e orquestrais. Entre suas composições mais conhecidas estão "Missa em Si Menor", "Magnificat" e "Paixões Segundo São João e São Mateus", todas inspiradas em sua crença protestante.

Saber mais...dia 24 1976 - Golpe militar na Argentina.
Um golpe militar, liderado pelo general Jorge Rafael Videla, comandante do exército, tira do poder a então presidente da Argentina Isabelita Perón. Os golpistas prenderam Isabelita, destituíram os governadores, dissolveram o Senado e a Câmara, decretaram a pena de morte e fecharam partidos e sindicatos.dia 28 1946 O militar Juan Domingo Perón é eleito como o novo presidente da Argentina. Neste primeiro mandato, ele ficaria no poder até 1955. Anos depois, Perón voltaria para governar o país entre 1973 e 1974. [Clique na imagem para saber mais]


BRASIL
dia 01 1565 - Fundação da cidade do Rio de Janeiro por Estácio de Sá.

dia 01 1910 - Hermes da Fonseca é eleito presidente da República
Com 403 mil votos, o marechal Hermes da Fonseca derrota o senador Ruy Barbosa, que obteve 223 mil votos, na eleição para a Presidência da República. Sobrinho de Manuel Deodoro da Fonseca, o novo presidente tomou posse do cargo em 15 de novembro.

dia 04 1910 - Nasce Tancredo de Almeida Neves.

dia 04 1974 - Inauguração da ponte Presidente Costa e Silva, que liga o Rio de Janeiro a Niterói.

dia 05 1887 - Nasce, no Rio de Janeiro, o compositor Heitor Villa-Lobos.

Saber mais...dia 06 1817 - Irrompe, em Pernambuco, a Revolução Pernambucana.
Saiba mais clicando na imagem...

dia 07 1821 D. João VI assina decreto tratando de seu retorno a Portugal e encarregando o príncipe D. Pedro da regência do Brasil.

Saber mais...dia 07 1990 - No Rio de Janeiro, morre o líder comunista Luís Carlos Prestes.
Comandante da Coluna Prestes, ele liderou, em 1935, o golpe conhecido como Intentona Comunista, que fracassa e o coloca na prisão. Perseguido durante o regime militar, em 1971 é exilado, retornando ao país oito anos mais tarde com a anistia.

Para saber mais, clique na imagem...

dia 08 1808 - O príncipe regente D. João VI desembarca no Rio de Janeiro.

dia 09 1500 - A frota comandada por Pedro Álvares Cabral parte de Lisboa.

dia 11 1970 - Cônsul do Japão no Brasil é seqüestrado.
Nobuo Okushi, cônsul-geral do Japão no Brasil, é seqüestrado por integrantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), em São Paulo. Quatro dias depois, ele seria libertado em troca de prisioneiros políticos.

dia 12 1535 - Fundação de Olinda, primeira sede da Capitania de Pernambuco.

dia 13 1831 - Partidários e adversários do imperador entram em conflito pelas ruas do Rio de Janeiro, fato conhecido como Noite das Garrafadas.

dia 15 1900 - Nasce, no Recife, Gilberto Freyre, autor do clássico Casa-grande & Senzala.

dia 15 1967 - É promulgada a Lei de Segurança Nacional.
Por meio do Decreto-Lei nº 314, entra em vigor no país a nova Lei de Segurança Nacional. A partir daquele momento, todos os cidadãos são responsáveis pela segurança do país. A lei ainda trouxe grande parte da doutrina da Escola Superior de Guerra.

dia 15 1975 - Sob o nome de Estado do Rio de Janeiro, os territórios da Guanabara e do Rio de Janeiro se fundem. Após uma rápida cerimônia de posse, o almirante Faria Lima torna-se o primeiro governador do novo Estado.

Saber mais...dia 16 1838 - Fim da Sabinada, revolta pela autonomia política da Bahia.
Para saber mais, clique na imagem.


Saber mais...dia 17 1825 - Executados, no Rio de Janeiro, João Guilherme Ratcliff, Joaquim da Silva Loureiro e João Metrowich, implicados na Confederação do Equador, deflagrada no ano anterior nas províncias do nordeste.
Clique na imagem para saber mais...

dia 18 1605 - Lei proíbe que navio ou súdito estrangeiro viajem ao Brasil ou aqui permaneçam.

dia 19 1870 - O guarani, ópera de Carlos Gomes, estréia no Teatro Scala, em Milão.

dia 20 1953 - Morre o escritor Graciliano Ramos.

dia 22 1941 - O navio brasileiro Taubaté é metralhado por aviões alemães quando navegava no mar Mediterrâneo.

dia 23 1935 - Fundação da Aliança Nacional Libertadora.


Saber maisdia 25 1922 - No Rio de Janeiro, surge o Partido Comunista do Brasil.
A fundação do novo partido tinha como objetivo promover no Brasil uma revolução proletária que substituísse a sociedade capitalista pela socialista.
Clique na imagem para saber mais.

dia 27 1867 - Firmado o Tratado de Ayacucho, pelo qual o Brasil reconheceu a posse do Acre à Bolívia.

dia 28 1951 - Morre Oliveira Viana, historiador, sociólogo e bacharel em direito.

dia 29 1549 - Chegam ao Brasil os primeiros jesuítas, com a esquadra comandada por Tomé de Sousa que aporta na Bahia.

dia 30 1818 - Alvará proíbe as "sociedades secretas debaixo de qualquer denominação que seja".

dia 31 1964 - Morre Nilo Peçanha. Vice-presidente de Afonso Pena, assumiu a presidência de 1909 a 1910.

dia 31 1964 - Golpe civil-militar põe fim ao governo de João Goulart e inaugura regime ditatorial que duraria 21 anos.

[Fontes: Fontes: Revistas Aventuras da História (março 2006, 2007); Nossa História (março 2006) e Revista de História (março de 2006)]



Faculdade de Direito no Largo de São Francisco faz 180 anos

Um dos ícones de São Paulo, as Arcadas cultuam memórias de notáveis que ajudaram a fazer a história do País

Rodrigo Brancatelli

O pálido Álvares e o bigodudo Bernardo tiveram uma idéia genial para arrecadar um dinheirinho. Com a ajuda de um colega de classe, o José Bonifácio, Bernardo esticou Álvares em uma mesa, tirou os sapatos dele, cruzou seus braços e colocou um lençol branco em cima de seu corpo um tanto esquálido.

- O Álvares morreu, meu Deus, o Álvares morreu.

A traquinagem estudantil rendeu bolsos cheios de moedas, dadas por estudantes emocionados que queriam ajudar no enterro. Claro, o trio teve de devolver tudo quando o defunto levantou correndo para ir ao banheiro. Mas a história ilustra bem o espírito dos corredores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no centro - conhecida pelos paulistanos como se fosse um velho amigo pelo apelido de “Arcadas”. Álvares era Manuel Álvares de Azevedo, escritor da segunda geração romântica, dramaturgo e poeta. Já José Bonifácio era sobrinho do Patriarca da Independência e Bernardo Azevedo escreveu A Escrava Isaura. São apenas três nomes entre centenas de outras figuras que ajudaram a criar a aura das Arcadas, que completou ontem 180 anos de aulas.

“O que a faculdade mais permitia era ter uma formação humanista, além da jurídica”, diz Miguel Reale Júnior, formando de 67 e hoje professor titular de Direito Penal da instituição. Seu pai, maior articulador do novo Código Civil, também se formou nas Arcadas, em 1934. “A faculdade sempre foi assunto quase que obrigatório nos almoços e jantares de casa. É uma pena que as turmas atuais não tenham tanto interesse pelas raízes históricas da faculdade. Porque história não falta.”

A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco foi criada juntamente com a Faculdade de Direito de Olinda, pela lei imperial de 11 de agosto de 1827. Não existiam instituições de ensino superior no País - quem queria estudar tinha de ir para Portugal. A faculdade paulistana foi a primeira a abrir as portas, em 1º de março de 1828, às 16 horas. Na época, São Paulo tinha pouco mais de 12 mil habitantes. Segundo as historiadoras Ana Luiza Martins e Heloisa Barbuy, a aula inaugural contou com 33 alunos - nove rapazes da própria capital, oito do interior, dez do Rio, quatro de Minas e dois da Bahia.

VIDA CULTURAL
A faculdade das Arcadas - apelido dado pela seqüência de arcos que copiavam as primeiras universidades européias e virou uma espécie de símbolo dos cursos jurídicos do País - destinava-se a formar governantes e administradores públicos. Era fruto de um sentimento de autonomia da nova nação independente. Por seus bancos desfilaram 11 presidentes, de Prudente de Morais a Jânio Quadros, além de juristas, políticos e figuras ilustres como Rui Barbosa, Celso Lafer, Cláudio Lembo, Ulisses Guimarães, Marcio Thomaz Bastos, Lígia Fagundes Telles, José de Alencar, Monteiro Lobato, Castro Alves.

“Tenho excelentes lembranças das Arcadas, foram anos muito divertidos”, diz o apresentador Luciano Huck. “Mas confesso que não de muito estudo....” De fato, além das aulas, as Arcadas também tiveram um papel fundamental na formação da vida cultural e boêmia da metrópole. Os estudantes fizeram a cidade despertar de seu estado de vila pacata, estimulando o surgimento de tavernas e cafés. Vieram então os teatros, as livrarias e as ruas ganharam movimento.

“Faculdade tem algo frustrante”, diz o ex-governador Cláudio Lembo. “Ainda mais no meu caso, que cursei no fim da era Getúlio. Era o começo do pessoal de esquerda, então já viu... Mas a Faculdade do Largo de São Francisco não deixa de ser uma peça importante na formação das pessoas que por ali passaram. As Arcadas nunca deixaram de primar pela liberdade de idéias.”

A palavra liberdade é cara para a história da São Francisco. Encabeçando a campanha pela abolição, conspirando e tramando a proclamação da República, participando da Revolução Constitucionalista de 32, no combate à ditadura Vargas e em passeatas durante o Estado Novo, os estudantes nunca deixaram de participar da vida política brasileira. E de manter a importância das Arcadas para São Paulo.

[O Estado de São Paulo, 02/03/2008]
Eleições EUAAcompanhe a campanha presidencial norte-americana...
Clique aqui...